Entrevista coletiva de Bolsonaro e ministros sobre coronavírus foi marcada por patetices e embustes

 

 
A coletiva de imprensa concedida pelo presidente Jair Bolsonaro nesta quarta-feira (18), juntamente com nove ministros, no Palácio do Planalto para tratar de assuntos relacionados à pandemia do novo coronavírus foi um espetáculo de desculpas patéticas, todas com o objetivo de tentar salvar a imagem desgastada de um governo que até agora não mostrou a que veio.

Em nenhum momento da entrevista, como era de se esperar, os integrantes do governo demostraram qualquer sinal de humildade diante de uma pandemia que começa a deixar mortos pelo caminho. Bolsonaro, que continua acreditando ser o derradeiro gênio da raça humana, insistiu em não reconhecer que errou ao violar o isolamento sanitário impostos por médicos para participar, no último domingo (15), do protesto contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Depois de ter afirmado que a pandemia do novo coronavírus é uma invencionice da imprensa que ganhou corpo no vácuo da histeria dos governadores, Bolsoanro, assim como os ministros, usou máscara de proteção o tempo todo, mas disse não se arrepender de ter ido ao protesto, pois, segundo ele, cumpriu seu papel de líder da população.

A reboque da sua conhecida irresponsabilidade, o presidente da República foi além e disse que ninguém deve se espantar se dentro de alguns dias ele for visto em um vagão lotado do Metrô de São Paulo ou em uma das barcas que fazem a travessia Rio-Niterói. Bolsonaro negou que isso representa populismo.

 
Questionado sobre o fato de todos os participantes da entrevista estarem usando máscara, o presidente ziguezagueou na resposta, o que não é novidade. A jornalista Délis Ortiz, da Rede Globo, perguntou ao presidente da República sobre o motivo do uso de máscaras pelos integrantes do governo na coletiva. Bolsonaro respondeu que não descumpre “qualquer orientação sanitária do nosso ministro da Saúde”. “Eu dou o exemplo”, afirmou o presidente.

Coube ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, intervir para salvar o chefe do Executivo, mas sua participação ficou aquém do desejado. Pois bem, se o presidente da República segue à risca qualquer orientação de Mandetta, não deveria ter violado o isolamento recomendado pelo ministro da Saúde e participado do protesto contra o Parlamento e o Judiciário.

É importante ressaltar que o protocolo internacional de saúde recomenda o uso de máscaras em ambientes em que existam pessoas doentes ou com sintomas de alguma doença contagiosa. Ora, se o presidente e os ministros estavam a uma distância de pelo menos três metros dos jornalistas, o que em tese elimina possibilidades de contágio, e nenhum dos integrantes do governo presentes à entrevista testou positivo para o coronavírus, o uso das máscaras foi apenas jogo de cena. Além disso, se uma pessoa está a usar máscara de proteção, essa não deve ser retirada no momento da fala. Quando isso acontece, uma eventual contaminação não tem como ser evitada.