Em entrevista coletiva embusteira, Mandetta mostrou a face oculta de um governo elitista e mentiroso

 
Império dos absurdos, o Brasil está a anos-luz de ser um país razoavelmente sério. Se assim fosse, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, já teria pedido demissão por conta dos devaneios do presidente da República. Se assim fosse, Jair Bolsonaro já teria renunciado ao cargo, pois até hoje não mostrou a que veio e começa a enfrentar o descontentamento da opinião pública. Se assim fosse, o presidente já teria demitido o ministro da Saúde, que continua maquiando a verdade quando o assunto é o novo coronavírus.

Nesta quinta-feira (19), durante entrevista coletiva, Mandetta protagonizou um espetáculo pífio ao tentar explicar que o cidadão com sintomas semelhantes ao da Covid-19 não deve procurar os hospitais públicos, porque, segundo o ministro, o SUS, Sistema Único de Saúde, não é único como o nome sugere. Para o titular da pasta a culpa é do preciosismo da língua portuguesa. Ou seja, nesse desgoverno que flerta com a incompetência a todo instante o que era único deixou de sê-lo.

A explicação de Mandetta, que contou com a silenciosa aquiescência dos jornalistas, é que o SUS não é único porque tem a saúde complementar. O que o ministro precisa saber, e os jornalistas também, é que o sistema de saúde no Brasil não é único porque o Estado, como um todo, é omisso, falho e criminoso. Se no País existissem autoridades minimamente corajosas e dispostas a cumprir o que determina a Constituição Federal, metade dos governantes estaria atrás das grades, pois o cidadão tem garantido o direito à saúde.

Para piorar a explanação gramatical, que na verdade foi um atentado à linga mater, Luiz Henrique Mandetta resolveu flanar nos céus da saúde privada. E não demorou muito para dar piruetas sobre os planos de saúde, alegando que pessoas endinheiradas, residentes em bairros nobres das capitais e das principais cidades do País, se vale de assistência médica particular, como se isso fosse desculpa para a inoperância do Estado. Na realidade, a iniciativa privada avançou sobre a área da saúde, transformando o setor em uma mina de ouro a céu aberto, apenas porque o Estado é omisso.

 
Em 9 de junho de 2019, em Porto Alegre, durante palestra no “Seminários de Gestão”, cujo tema era “Desafios da Saúde”, Mandetta disse à plateia que era preciso se preparar para um Sistema Único de Saúde revigorado e com maior participação dos hospitais privados e filantrópicos. Ora, o ministro precisa decidir o que quer e lembrar-se que alguns profissionais da imprensa, para infortúnio da classe política, têm memória.

Causa espécie o ministro Mandetta ziguezaguear de maneira dúbia na seara dos planos de saúde, já que ele próprio presidiu a Unimed em Campo Grande (MS). Além disso, sua filha, a advogada Marina Alves Mandetta, ao abrir o próprio escritório de advocacia carregou a tiracolo a Unimed Rio, cliente de outra banca advocatícia da capita fluminense. Como se fosse pouco, a filha do ministro conquistou posteriormente dois clientes de peso: Unimed Seguros e a Central Nacional Unimed. Essa meteórica ascensão profissional na vida da advogada aconteceu depois que o pai foi anunciado como ministro da Saúde.

Na ópera bufa em que se transformou a embusteira entrevista coletiva, o ministro da Saúde, durante explanação do secretário de Atenção Primária à Saúde, Erno Harzheim, mencionou o programa “Mais Médicos” quando falava sobre atendimento nas comunidades carentes do País. Cobrado nos últimos dias pelo presidente Bolsonaro para adotar um discurso político no escopo da crise do novo coronavírus, Mandetta não perdeu a oportunidade e referiu-se aos profissionais cubanos como “médicos da ditadura”.

O UCHO.INFO sempre foi crítico da ditadura castristas, mas entende que em meio ao caos provocado pela Covid-19 não há espaço para exploração política, mesmo que exista ordem expressa do presidente da República. Se Bolsonaro insistir na ideia, o ministro tem o dever moral de pedir demissão publicamente e explicar a razão.

Ademais, o mesmo Mandetta, que nesta quinta-feira tratou com desdém os médicos cubanos, certamente os receberia de braços abertos para somar esforços nessa guerra contra o novo coronavírus. O governo que aí está é extremamente elitista, por consequência não pensa nos mais pobres, ao passo que os médicos cubanos que já trabalharam no Brasil conhecem muito bem as nossas comunidades carentes. Apenas Bolsonaro e seus estúpidos apoiadores acreditam que os cubanos do “Mais Médicos” eram espiões do regime de Havana. Para quem acredita que a Terra é plana, isso é café pequeno.