Toffoli errou ao receber de improviso o lunático Bolsonaro, que foi ao STF como lobista de empresários

 
Quando José Antonio Dias Toffoli foi indicado pelo então presidente Lula, em 2009, para ocupar vaga aberto no Supremo Tribunal federal (STF) com a morte do outrora ministro Carlos Alberto Menezes de Direito, o UCHO.INFO criticou a indicação com a costumeira responsabilidade. Quando Toffoli, já ministro do STF, não se declarou de participar do julgamento das ações penais decorrentes do Mensalão do PT, este portal também criticou-o de forma contundente, em especial pelo fato de ter comandado a Subchefia de Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência, entre 2003 e 2005, período em que foi subordinado ao petista José Dirceu. Quando Toffoli assumiu a presidência do STF, em outubro de 2018, e na ocasião anunciou que seu propósito era dar ares de modernidade à Corte, o UCHO.INFO também teceu críticas, já que ao Supremo cabe cumprir o que manda a Constituição e nada mais.

Nesta semana, que já caminha para o seu final, Toffoli, desrespeitando a Constituição, derrubou decisão de instâncias inferiores do Judiciário e autorizou o Ministério da Defesa a publicar novamente em seu site um texto do ministro Fernando Azevedo e Silva que exalta o golpe militar de 64 e classifica o ato como marco da democracia. É importante salientar que a Constituição de 1988 não abre espaço para qualquer alusão à ditadura, portanto a decisão de Toffoli é escandalosamente inconstitucional.

Se o presidente do Supremo busca um bom relacionamento com o Executivo federal no afã de alcançar a estabilidade institucional, que está a anos-luz do normal, Toffoli escolheu o momento inadequado e o governante errado para essa demonstração de cortesia e civilidade. Afinal, Jair Bolsonaro é um amante da ditadura e flerta diuturnamente com o autoritarismo e o retrocesso. Porém, a decisão de Dias Toffoli que favoreceu o Ministério da Defesa soou no Palácio do Planalto como uma espécie de “vale tudo”, o que não é verdade.

Por esse motivo, o presidente da República, acompanhado de ministros, do filho Flávio Bolsonaro e de empresários de diversos setores, foi ao STF para uma reunião de surpresa com Dias Toffoli, como se a Corte fosse um reles “puxadinho” do Palácio do Planalto. Ademais, com a pandemia do novo coronavírus fazendo vítimas em todo o País e de forma impressionante, um encontro presencial é um atentado ao bom-senso sanitário.

Bolsonaro sabe que exagerou no populismo barato que vem dedicando à pandemia e, querendo ou não, terá de enfrentar as consequências que o coronavírus deixará na economia do País. Como esse cenário de quase terra arrasada é inevitável e repercutirá no projeto de reeleição do Bolsonaro, querer dividir a responsabilidade da tragédia com o Supremo foi uma estratégia mal entabulada.

Por mais que a intenção de Toffoli em manter relação cordial com os Poderes da República seja das melhores, para lidar com Bolsonaro é preciso saber jogar da mesma maneira, infelizmente. No dia 19 de abril, em frente ao Comando-Geral do Exército, em Brasília, quando apoiadores pediram o fechamento do Congresso e do STF, Bolsonaro disse que não mais negociaria com quer que fosse. Ou seja, endossou a retórica criminosa dos seus aduladores.

 
Por ocasião da decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que suspendeu a posse de Alexandre Ramagem na direção-geral da Polícia Federal, o presidente da República disse que sua paciência havia acabado e que por pouco o País não mergulhou em grave crise institucional. Em outras palavras, quem faz afirmação nesse sentido é porque tem a intenção de fermentar a ruptura democrática.

Ciente desse quadro de seguidas ameaças, Toffoli, por razões das mais diversas, deveria ter recusado a reunião com tantos participantes, principalmente com lobistas de setores econômicos que fazem do Palácio do Planalto uma espécie de “muro das lamentações”. Se Bolsonaro crê que pode tratar a Presidência da República da mesma forma com que trata a mesa cozinha da sua casa, no Rio de Janeiro, é bom mudar de ideia antes que o pior aconteça.

No contraponto, o ministro Dias Toffoli deveria ser precavido o suficiente para não cair nas esparrelas de um delinquente intelectual que recorre ao populismo tosco e barato para esconder a própria incompetência. Aliás, não é da competência do STF dirimir questões relacionadas à economia, mas de responsabilidade de Paulo Guedes, que, segundo o presidente da República, é o “Posto Ipiranga” do governo.

Contudo, o ponto alto do desvario que tomou conta da reunião ficou a cargo dos empresários que acompanharam Bolsonaro ao Supremo. Em dado momento, como se a Corte fosse a recepção do lupanar da esquina, um empresário toma a palavra e diz que “a indústria está na UTI e ela precisa sair porque senão vamos ter uma recessão gravíssima”. Nesse momento, o ministro Dias Toffoli deveria ter encerrado o encontro, pois é preciso doses rasas de lucidez no momento em que milhares de pessoas em todo o País estão sendo sepultadas em covas rasas por causa da pandemia, sem contar as que começam a morrer em casa devido ao colapso do sistema de saúde.

Não obstante, dando vazão à imbecilidade do empresariado, um representante do setor industrial afirmou que se nada for feito para retomar a economia, em breve haverá a morte de muitos CNPJs (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica). É preciso que esses representantes do empresariado se conscientizem que muitos CPFs já foram sepultados, sem qualquer possibilidade de serem ressuscitados.

Se um ministro da Economia, que aos quatro cantos jacta-se de ter estudado na Universidade de Chicago e de ser liberal em termos econômicos, aceita participar de um espetáculo pífio e circense como foi a inesperada visita ao STF, é porque sua demissão já passou da hora. E isso só não aconteceu ainda porque a estupidez de Bolsonaro é muito maior do que a de Paulo Guedes.

Somente um desavisado em termos econômicos é capaz de acreditar que o afrouxamento do isolamento social em meio ao crescimento acelerado da pandemia será capaz de retomar a economia. Se a atividade econômica for retomada agora e números de infectados e de mortos disparar, a tragédia será muito maior do que se imagina. É preciso que alguém pare esse lunático que está no Palácio do Planalto, decidindo o futuro do País!