Entregues ao STF, exames para Covid-19 de Bolsonaro têm resultados negativos, mas dúvida permanece

 
Na catapulta de polêmicas em que se transformou o Brasil desde a chegada de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto, a epopeia desta quarta-feira (13) está por conta dos três exames para Covid-19 entregues ao Supremo Tribunal federal (STF) pela Advocacia-geral da União (AGU), os quais atestam que o presidente da República não foi infectado pelo novo coronavírus.

De acordo com os laudos apresentados, Bolsonaro realizou testes laboratoriais nos dias 12, 17 e 21 de março, ou seja, há dois meses. Os testes entregues ao ministro Ricardo Lewandowski, do STF, apenas atestam que até as respectivas datas o presidente não tinha sido infectado pelo SARS-CoV-2, vírus causador da Covid19. A infecção pode ter ocorrido de lá para cá, principalmente porque Bolsonaro manteve contato próximo com pessoas do seu staff que contraíram a doença, além de ignorar de forma reiterada as recomendações para isolamento social.

Se os resultados são realmente negativos para a Covid-19, não havia razão para o presidente da República fazer tanto mistério em torno do assunto. Bastava disponibilizar os testes e mostrar à opinião pública que até então tinha escapado do novo coronavírus. Esse enredo contraria o comportamento de Bolsonaro logo após o ataque a faca que sofreu em Juiz de Fora, durante a campanha eleitoral de 2018. Na ocasião, o então candidato fez questão de levantar a camisa e exibir a cicatriz deixada pela cirurgia necessária para corrigir os dados causados pela facada.

Há alguns pontos nesse enredo que devem ser considerados. Ao realizar os mencionados exames laboratoriais, Bolsonaro usou os codinomes Airton Guedes e Rafael Augusto Alves da Costa Ferraz, mas no formulário do laboratório Sabin constam os números do CPF e do RG do próprio presidente. O terceiro exame, realizado pela Fiocruz, não traz qualquer informação sobre o paciente (CPF, RG, endereço), identificando o usuário genericamente apenas como “paciente 05”.

 
O fato de os formulários referentes aos dois primeiros exames conterem os números dos documentos de identificação do presidente da República não garante a autenticidade do teste e do resultado.

Em 13 de março, a emissora de televisão norte-americana Fox News afirmou que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) havia confirmado à reportagem que o presidente testara positivo para o novo coronavírus e aguardava a contraprova. Depois da repercussão da notícia, o filho de Jair Bolsonaro negou que tivesse dado essa informação à emissora.

Na fatídica reunião ministerial do dia 22 de abril, realizada no Palácio do Planalto, Bolsonaro afirmou que não divulgaria a “porcaria” do exame de Covid-19 por temer um processo de impeachment. Se os resultados dos exames são negativos, como mostram os laudos de posse do ministro Lewandowski, não havia razão para o presidente da República temer qualquer desdobramento após dar publicidade aos laudos. O temor externado por Bolsonaro só se justifica se o resultado fosse positivo e o presidente insistisse em desrespeitar o isolamento social.

Quem conhece os meandros do poder sabe como se dão os fatos e de que maneira são manipuladas informações. Considerando que o editor deste portal acompanhou de perto, no Hospital de Base de Brasília, o calvário do então presidente eleito Tancredo de Almeida Neves, o UCHO.INFO reserva-se o direito de duvidar dos exames disponibilizados.