Bolsonaro comemorou ação policial contra Witzel, mas classificou prisão de Queiroz como “espetaculosa”

 
Em matéria anterior, o UCHO.INFO afirmou que o melhor que o presidente Jair Bolsonaro poderia fazer em relação ao caso da prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor de seu primogênito, seria passar ao largo do episódio, como forma de não levar para o Palácio do Planalto uma confusão com potencial considerável potencial explosivo.

Diferentemente do que sugerirmos, Bolsonaro, no primeiro momento, reagiu com indignação, a ponto de convocar reunião de emergência no Palácio do Planalto para avaliar uma resposta à altura do fato que dominou o noticiário e continuará ocupando os veículos de comunicação do País e do exterior.

Em sua costumeira “live” das quintas-feiras, transmitida pelo Facebook, Jair Bolsonaro apareceu desprovido do discurso beligerante e do tomo irônico e provocador que marcam suas transmissões semanais. O presidente disse que não é parte do inquérito comandado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, mas afirmou que a prisão de Queiroz foi “espetaculosa”, pois o ex-assessor do filho não era foragido e não existia até dias atrás um mandado de prisão em seu desfavor.

“Não sou advogado do Queiroz e não estou envolvido nesse processo. Queiroz não estava foragido e não havia nenhum mandado de prisão contra ele. E foi feita uma prisão espetaculosa. Já deve estar no Rio de Janeiro, deve estar sendo assistido por seu advogado, e que a Justiça siga o seu caminho. Mas parecia que estavam prendendo o maior bandido da face da Terra”, afirmou o presidente na “live”.

Bolsonaro, que tanto cobra coerência daqueles que o obrigam a cumprir e respeitar a legislação vigente no País, deveria ser coerente e tratar a operação para prisão de Queiroz com o mesmo entusiasmo e ironia com que comemorou a operação de busca e apreensão em endereços do governador Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro. Ou seja, o presidente precisa entender que ‘o pau que bate em Chico, bate em Francisco”.

É fato que a preocupação maior de Bolsonaro não é com a prisão do amigo e ex-assessor parlamentar, mas com o que Queiroz poderá falar caso se convença de que revelar a verdade é o melhor caminho. E se isso acontecer, a situação do senador Flávio Bolsonaro há de piorar sobremaneira, com direito a respingos em toda a família do presidente da República.

Sobre a presença de Queiroz na casa do advogado Frederick Wassef, que defende Flávio no inquérito das “rachadinhas”, Bolsonaro declarou que o imóvel fica próximo ao local onde o ex-assessor faz tratamento contra um câncer no intestino, cujo tumor foi retirado durante cirurgia realizada no caro Hospital Israelita Albert Einstein, na cidade de São Paulo, que cobrou R$ 133 mil pelos procedimentos médico-hospitalares, valor pago em dinheiro vivo.

 
“Tranquilamente, se tivesse pedido ao advogado, creio eu, o comparecimento dele a qualquer local, ele teria comparecido. Por que estava naquela região de São Paulo? Porque é perto do hospital de onde faz tratamento de câncer”, justificou Bolsonaro.

É importante ressaltar que a distância entre a casa de Wassef, em Atibaia, no interior paulista, e o Hospital Albert Einstein, onde Queiroz iniciou tratamento quimioterápico após a cirurgia, é de 90 quilômetros ou mais. Em suma, a alegação do presidente da República é típica de quem está acuado e sem saber como explicar o que muitos consideram inexplicável.

Se Bolsonaro ignora as provas levantadas durante as investigações do inquérito das “rachadinhas” é um problema que deveria ser tratado no divã do psicanalista mais próximo, mas não há como fechar os olhos para fatos estarrecedores e que deveriam indignar quem se elegeu à sombra do discurso de combate à corrupção.

O Ministério Público do Rio de Janeiro, mais precisamente o Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (GAECC), levantou provas como transferência de dinheiro de Queiroz para a conta de Fernanda Bolsonaro, esposa de Flávio, e o pagamento de mensalidades da escola onde estudam as filhas do senador e filho do presidente da República. Quem conhece minimamente sobre processo investigatório sabe que essas provas justificam a prisão não apenas de Fabrício Queiroz, mas também de Flávio Bolsonaro.

Ademais, a prisão de Fabrício Queiroz se justifica pelo fato de que ele, mesmo escondido na casa de Wassef, manipulava provas e pressionava testemunhas e investigados no caso das criminosas “rachadinhas”.

Não se pode esquecer que em janeiro de 2019, o então senador eleito Flávio Bolsonaro (a posse aconteceu em 1º de fevereiro daquele ano) disse que após a divulgação do caso conversou com Queiroz, que lhe garantiu que nada tinha a esconder. Além disso, Flávio garantiu que ouviu do ex-assessor “explicações plausíveis” sobre o relatório do Coaf que aponto movimentação bancária irregular de R$ 1,2 milhão no período de um ano.

Pois bem, se Fabrício Queiroz nada tem a esconder, se as explicações dadas a Flávio Bolsonaro foram consideradas “plausíveis”, se nada existia para ser omitido, não havia razão para o ex-assessor parlamentar permanecer escondido em imóvel de propriedade de Frederick Wassef, advogado do presidente da República. Diante disso, Jair Bolsonaro não tem motivo para se indignar.

Merece atenção o fato de Queiroz, no momento da prisão, ter declarado ao delegado responsável pela operação policial: “Olha, tudo bem. Vocês cumprem a função de vocês, vou me entender com a Justiça”. Como relatou o delegado Oswaldo Nico Gonçalves, da Polícia Civil paulista e que comandou a operação, essa declaração pode ser traduzida como sensação de alívio por parte de Fabrício Queiroz, que no primeiro momento mostrou preocupação com a possibilidade de as filhas também serem alvo de mandado de prisão.