Bolsonaro está à caça de boa desculpa para explicar os R$ 72 mil que Queiroz depositou na conta de Michelle

 
Ex-assessor parlamentar do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), Fabrício Queiroz depositou R$ 72 mil na conta de Michelle Bolsonaro, esposa do presidente Jair Bolsonaro, entre 2011 e 2018, segundo reportagem da revista “Crusoé”. Os repasses foram descobertos com a quebra de sigilo bancário do ex-policial militar e contrariaram a versão sobre o caso apresentada pelo presidente da República.

A quebra do sigilo bancário de Queiroz foi autorizada pela Justiça no âmbito da investigação sobre o esquema criminoso das “rachadinhas”, prática ilegal que consiste na devolução, por coação, de parte dos salários dos servidores no gabinete do então deputado estadual (2003-2019) Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Queiroz foi assessor de Flávio entre 2007 e 2018. Além disso, há os misteriosos funcionários fantasmas, que fizeram um verdadeiro “turn over” nos gabinetes da família.

De acordo com a reportagem, Queiroz depositou ao menos 21 cheques na conta de Michelle entre 2011 e 2018, no total de R$ 72 mil. Até agora, conhecia-se apenas um repasse de R$ 24 mil reais do ex-assessor para a esposa do presidente.

Quando o caso veio à tona, no final de 2018, Bolsonaro afirmou que os repasses feitos por Queiroz a Michelle eram referentes a uma dívida de R$ 40 mil que o ex-assessor tinha com o presidente. Bolsonaro alegou que os valores haviam sido depositados na conta de sua esposa por ele não ter tempo de ir ao banco.

Os depósitos de Queiroz a Michelle divulgados pela “Crusoé” foram confirmados pelo jornal “Folha de S.Paulo”, que noticiou ainda que a esposa de Queiroz, Márcia Aguiar, também repassou dinheiro em 2011 para a primeira-dama, por meio de seis cheques que somaram R$ 17 mil. Com isso, os valores repassados para a primeira-dama somam R$ 89 mil, bem acima do suposto empréstimo de R$ 40 mil que Bolsonaro mencionou.

Nenhum repasse de Bolsonaro a Queiroz aparece nos extratos, segundo a “Crusoé”. A quebra de sigilo bancário mostrou também que o ex-assessor movimentou em dez anos um valor bem acima de seus rendimentos.

Entre 2007 e 2018, R$ 6,2 milhões em crédito foram registrados na conta de Queiroz. Deste valor, cerca de R$ 2 milhões vieram de repasses de funcionários do gabinete de Flávio, o que poderia comprar o esquema das “rachadinhas”. Outros R$ 900 mil têm fontes não identificadas.

Para o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), Queiroz era o operador do esquema das “rachadinhas” no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. O ex-assessor é amigo de longa data do presidente e foi por intermédio dele que conseguiu uma vaga no gabinete de Flávio.

O escândalo das “rachadinhas”

Fabrício Queiroz é investigado por lavagem de dinheiro, peculato, ocultação de patrimônio e organização criminosa. O ex-assessor parlamentar foi preso em junho em Atibaia, no interior de São Paulo, em imóvel de propriedade do advogado Frederick Wassef, que até então defendia Flávio no caso das “rachadinhas”

Pouco após a prisão, o filho do presidente anunciou que Wassef não era mais seu advogado. Em julho, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) concedeu a Queiroz o benefício de prisão domiciliar, em decisão absurda do presidente da Corte, ministro Joao Otávio de Noronha, que premiou com o mesmo benefício a foragida Márcia Aguiar.

 
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Em meados de maio, a Polícia Federal afirmou que investigaria a afirmação feita pelo empresário Paulo Marinho de que o senador foi informado com antecedência, que atingiu Queiroz. Marinho é suplente de Flávio no Senado, pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro pelo PSDB e foi uma figura importante na campanha presidencial de Bolsonaro.

Desdobramento da Operação Lava-Jato, a Furna da Onça foi deflagrada em novembro de 2018, quando Flávio Bolsonaro era senador eleito. Flávio teria revelado a Marinho, em 13 de dezembro de 2018, que soube antes da operação. À época, Queiroz estava sumido, mas Flávio disse a seu suplente que mantinha contato indireto com o ex-assessor por meio de um advogado.

Em 6 de dezembro de 2018, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), um órgão do Ministério da Fazenda, detectou uma série de operações bancárias suspeitas de mais de sete dezenas de assessores e ex-assessores da Alerj. O documento foi produzido no âmbito da Operação Furna da Onça.

Na lista constava o nome de Fabrício Queiroz. O ex-assessor, que também é amigo de Jair Bolsonaro desde a década de 1980, logo passaria a ser personagem central da primeira crise do novo governo.

Segundo o relatório inicial do Coaf, Queiroz, que morava em um apartamento simples em um bairro de classe média baixa do Rio, movimentou R$ 1,2 milhão em doze meses (entre 2016 e 2017), época em que estava lotado no gabinete de Flávio. O documento apontou que as movimentações eram “incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional” de Queiroz.

O mesmo relatório detalhou as operações bancárias realizadas pelo ex-assessor, entre as quais um depósito no valor de R$ 24 mil na conta de Michelle Bolsonaro. No total, Queiroz sacou dinheiro em 176 oportunidades, em 14 bairros do Rio de Janeiro. Vários dos saques eram idênticos e fracionados, o que levantou suspeitas de tentativa de ocultação.

O relatório ainda citou a filha de Queiroz, Nathalia Melo de Queiroz, que foi beneficiada pelos recursos movimentados pelo pai. Nathalia foi funcionária do gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro entre dezembro de 2016 e outubro de 2018.

Em março de 2019, Queiroz quebrou o silêncio, oferecendo à Justiça pela primeira vez explicações sobre as suspeitas de corrupção que pairavam sobre ele. O ex-assessor disse ao Ministério Público que recolhia parte dos salários de servidores do gabinete, mas negou ter se apropriado dos valores.

Segundo a explicação que Queiroz prestou por escrito ao MP-RJ, o dinheiro recolhido dos funcionários do gabinete era usado para contratar assessores informais e “expandir a atuação parlamentar” de Flávio nas bases eleitorais. O ex-assessor também afirmou que Flávio não sabia do esquema.

Apesar das declarações, as investigações apontam que parte das despesas pessoais de Flávio teriam sido quitadas por Queiroz em dinheiro vivo, com recursos desviados no esquema das “rachadinhas”.

Diante desse enredo típico de novela de quinta, Jair Bolsonaro deve estar às voltas com a construção de uma desculpa esfarrapada para despejar sobre a parcela da população que o apoia. Enquanto isso, a súcia bolsonarista permanece em silêncio obsequioso, sem coragem para criticar o líder da seita. (Com agências de notícias)

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