O presidente da França, Emmanuel Macron, chegou nesta quinta-feira (7) ao Líbano e caminhou através de multidões nas ruas devastadas de Beirute. Ele prometeu ajuda após a explosão que devastou parte da cidade e ouviu gritos de protesto contra a elite política local.
Na antiga colônia francesa, Macron fez o que nenhum líder político libanês havia feito desde a explosão no porto de Beirute, que dois dias antes matou mais de 130 pessoas e deixou 5 mil feridos 3 aproximadamente 300 mil desabrigados. Cobrando reformas políticas por parte dos governantes locais, o francês se permitiu ser indagado pelos moradores de um dos bairros mais atingidos da capital.
Dezenas de pessoas cantando “revolução” e pedindo ajuda faziam força contra o cinturão de seguranças, enquanto Macron caminhava pela área de Gemmayzeh, a mais atingida pela explosão, por cerca de 45 minutos.
“Se reformas não forem realizadas, o Líbano continuará a se afundar”, disse Macron, que fora recebido no aeroporto pelo presidente libanês, Michel Aoun, mas caminhou sozinho pela região. “O que também é necessário aqui é uma mudança política. Esta explosão deve ser o início de uma nova era”.
A raiva latente contra os líderes libaneses está em alta desde a explosão, que parece ter sido causada por negligência e é amplamente vista como a manifestação mais trágica até agora da corrupção e incompetência da classe dominante.
A França há tempos procura apoiar sua antiga colônia e enviou ajuda de emergência logo após a catastrófica explosão. Mas ao mesmo tempo se uniu a outros países ocidentais em pressionar por reformas para erradicar a corrupção, cortar os gastos públicos e reduzir as enormes dívidas do Líbano.
Várias facções políticas, incluindo o grupo radical Hezbollah, apoiado pelo Irã, governam o país desde a guerra civil de 1975-1990. Quase todas as instituições públicas do país estão divididas entre essas facções, que as utilizam como capital político e para benefício de seus apoiadores.
Pouco progresso real de fato ocorre nas instituições, e tudo que requer ação conjunta muitas vezes se torna um emaranhado de conflito. Como resultado, até mesmo serviços básicos como eletricidade e coleta de lixo estão imersos em disputas políticas.
O pequeno país mediterrâneo é, além disso, assolado pelo aumento do desemprego e por uma crise financeira que dizimou a qualidade de vida de parte significativa da população.
“O povo quer que o regime caia”, gritavam os moradores para Emmanuel Macron. O presidente francês respondeu que proporia “um novo pacto político” e pediria a seus interlocutores, incluindo as principais autoridades libanesas, para “mudar o sistema, acabar com as divisões e combater a corrupção”.
Os prejuízos causados pela explosão foram estimados pelo governo de Beirute em US$ 15 bilhões e a reconstrução da capital libanesa pode demorar um ano ou mais. O desastre também pode acelerar a epidemia do novo coronavírus no país, já que milhares de pessoas foram levadas para os hospitais.
Diante do rastro de destruição deixado pela megaexplosão, dezenas de milhares tiveram que se mudar para a casa de parentes e amigos depois que suas casas foram danificadas, aumentando ainda mais os riscos de exposição ao vírus.
O ministro da Economia, Raoul Nehme, disse que o Líbano, com seu sistema bancário em crise, uma moeda em colapso e uma das maiores dívidas do planeta, tem recursos “muito limitados” para lidar com o desastre.
O presidente Michel Aoun afirmou que a explosão foi causada por 2.750 toneladas de nitrato de amônio, usado em fertilizantes e bombas, que estavam armazenados há seis anos no porto após serem confiscados. Ele prometeu investigar e responsabilizar os culpados.
O presidente francês, que teve uma breve reunião em uma sala do aeroporto com Aoun antes de partir para o porto da capital, local da explosão, disse que nos próximos dias vai coordenar a assistência logística e anunciou o envio de um avião “com uma equipe de investigação”.
“Minha mensagem é uma mensagem de fraternidade, amor e amizade da França para o Líbano, e buscamos garantir ajuda internacional ao povo libanês”, disse Macron. “Sabemos que a crise no Líbano é grande, e é política e ética, acima de tudo, e sua vítima é o povo libanês. Minha prioridade é apoiar o povo libanês”.
Macron prometeu voltar ao Líbano em setembro para verificar se a ajuda francesa foi bem aplicada. O mandatário francês disse que não medirá esforços para que a contribuição “não vá parar nas mãos da corrupção”.
“Minha casa em Gemmayzeh foi devastada e a primeira pessoa a me fazer uma visita é um presidente estrangeiro”, escreveu o ator Ziad Itani em suas redes sociais após a visita de Macron, dizendo ainda aos líderes libaneses: “Que vergonha!” (Com agências internacionais)
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