Com Queiroz e Márcia Aguiar na prisão, Centrão poderá aumentar “fatura” que impõe a Bolsonaro

 
A política brasileira, assim como a de muitos países, é um jogo complexo e bruto que exige paciência e profundo conhecimento de quem ousa compreender o que de chofre parece ser incompreensível. Esse cenário de aparente dificuldade no âmbito da compreensão decorre da interligação de fatos e os efeitos colaterais que se cruzam em terreno minado.

Como mencionou o UCHO.INFO em matéria anterior, a aprovação do presidente da República, de acordo com a mais recente pesquisa Datafolha, subiu no rastro do auxílio emergencial e farsesco estilo “paz e amor” adotado pelo sempre beligerante e gazeteiro Jair Bolsonaro. Segundo o levantamento, o índice dos brasileiros que consideram o governo “ótimo ou bom” está em 37%, contra 32% na pesquisa anterior, realizada em junho. Já o contingente dos que reprovam a gestão Bolsonaro encolheu de 44% para 34%.

Analisado de forma isolada, esse cenário ajuda o presidente na sua relação com o Congresso e principalmente na convivência com o Centrão, bloco parlamentar que sempre trocou apoio por cargos, no melhor estilo balcão de negócios. Isso significa que a aprovação de Bolsonaro poderia funcionar como moderador do apetite do Centrão, sempre disposto a dar uma “mordida maior e mais forte”.

Então governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto definiu com precisão e dose de humor a atividade política no País. “Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”, disse o mineiro.

Se os resultados da pesquisa Datafolha arrefeceram o apetite do Centrão, o bloco parlamentar que apoia o presidente da República recobrou forças com a decisão do ministro Félix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que revogou a prisão domiciliar do casal Fabrício Queiroz e Márcia Aguiar, ele investigado por comandar o esquema de “rachadinhas” no então gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

 
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Com o retorno de Queiroz à prisão e o ingresso de Márcia Aguiar no sistema penitenciário (não foi presa antes porque estava foragida), cresce a possibilidade de delação, principalmente no caso da esposa do ex-assessor parlamentar.

Bolsonaro não pode ser processado enquanto estiver na Presidência da República, mesmo que patente tenha sido sua íntima relação com Queiroz, mas os efeitos colaterais dos escândalos envolvendo os filhos dão ao Centrão a possibilidade de a cada novo episódio aumentar o valor da “fatura”. Como os últimos capítulos desse enredo criminoso apontam na direção de um escândalo muito maior do que se tinha conhecimento, os centristas comemoram de forma reservada nos bastidores, como hienas diante da presa abatida.

Com esse novo desenho da atual política brasileira, Bolsonaro terá problemas para levar adiante seu discurso – nada convincente, é importante ressaltar – de respeitar o teto de gastos e buscar o equilíbrio fiscal. Com os escândalos envolvendo o clã presidencial fermentando cada vez mais com o passar dos dias, garantir apoio no Congresso só será possível com loteamento de cargos e aumento de gastos, já que a volúpia do Centrão dispara em situações complexas e difíceis.

Do contrário, Bolsonaro deve se preparar para um eventual processo de impeachment, que por enquanto está descartado em função do espúrio apoio dos centristas. Não custa lembrar que a então presidente Dilma Rousseff, por ocasião do impeachment, também distribuía cargos e verbas oficiais à vontade, inclusive aos mesmos que hoje apoiam Bolsonaro, mas em determinado momento o cenário político ficou favorável ao processo que culminou com seu afastamento do cargo.

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