Entre as “rachadinhas” de Flávio e os funcionários fantasmas de Carluxo, aprovação de Bolsonaro cresce

 
Há muito o UCHO.INFO afirma que o brasileiro é preguiçoso politicamente, pois ao longo de décadas acostumou-se com a chamada “coisa pronta”. Essa preguiça, que corrói a democracia e atropela a cidadania, tornou-se mais evidente desde a chegada de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto, algo que se deu a reboque de falsos discursos em defesa da ética pública e do combate à corrupção.

Os escândalos envolvendo o presidente da República e sua família são tantos, que é impossível não se indignar diante dos fatos. O escândalo das “rachadinhas” que tem na proa o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, agora de volta à prisão, deveria ser motivo suficiente para uma indignação generalizada. Mas não é isso que acontece no Brasil, onde o populismo barato e a compra da consciência de muitos cidadãos acontecem no picadeiro do poder e com a ajuda do suado dinheiro público.

Queiroz e a esposa, Márcia Aguiar, depositaram R$ 89 mil na conta bancária da primeira-dama Michelle Bolsonaro. O presidente afirmou, por ocasião da Operação Furna da Onça, que um depósito de R$ na conta de Michelle era pagamento de parte de um empréstimo (R$ 40 mil) feito ao ex-assessor parlamentar. Agora sabe-se que a fala de Bolsonaro era uma ode à mentira.

Nathália Queiroz, filha do ex-assessor e “personal trainer” no Rio de Janeiro, foi funcionária fantasma no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados e no de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Durante esse período, Nathália repassou parte dos salários ao pai, que comandava o criminoso esquema das “rachadinhas”. Queiroz, por sua vez, pagou em dinheiro vivo dezenas de contas pessoais de Flávio, como mensalidades da escola das filhas do senador e de plano de saúde da sua família.

A primeira esposa de Bolsonaro, Rogéria Nantes Nunes Braga – mãe de Flávio, Carlos e Eduardo – comprou um apartamento em dinheiro enquanto estava casada com o agora presidente da República. Atualmente, o valor pago pelo imóvel corresponde a R$ 621 mil.

A segunda mulher de Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle, mãe de Jair Renan, não só comprou imóveis com dinheiro em espécie, mas conseguiu emplacar alguns parentes como funcionários fantasmas nos gabinetes dos enteados. Entre 1997 e 2008, período em que ficou casada com Bolsonaro, Ana Cristina adquiriu 14 imóveis (apartamentos, casas e terrenos). No momento da separação, o patrimônio imobiliário do casal foi avaliado em aproximadamente R$ 3 milhões, valor que hoje equivale a R$ 5,3 milhões. Pelo menos cinco imóveis foram pagos em espécie.

Flávio Bolsonaro, que é investigado também por sua meteórica evolução patrimonial, disse que não se recorda ter usado dinheiro em espécie para comprar dois apartamentos no bairro de Copacabana, na zona sul carioca. Responsáveis pela investigação, promotores descobriram que no mesmo dia em que a compra foi registrada em cartório, por R$ 310 mil, o vendedor dos dois apartamentos efetuou depósito de R$ 638 mil em dinheiro vivo em agência bancária localizada a poucos metros do cartório onde foi lavrada a escritura.

Para o MP-RJ, a venda foi registrada abaixo dos valores negociados, sendo o pagamento em espécie feito no momento da escritura e com dinheiro proveniente do esquema das “rachadinhas”. É compreensível uma pessoa não se recordar da forma como efetuou determinada compra, mas no caso de dois apartamentos e com dinheiro sonante é algo difícil de esquecer.

 
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Outro vértice da investigação apura se uma loja de chocolates, de propriedade de Flávio Bolsonaro, serviu para lavar o dinheiro sujo das “rachadinhas”. Essa suspeita ganhou reforço de peso com o depoimento do antigo dono do negócio, Cristiano Correia Souza e Silva.

Cristiano disse aos promotores que Flávio Bolsonaro fraudava as notas fiscais da loja de chocolates estabelecida em um shopping da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. O empresário afirmou que o agora senador, em dado momento, vendia produtos da marca Kopenhagen por preços abaixo da tabela. A nota fiscal era emitida no valor estabelecido pelo franqueador, mas o cliente pagava a compra com 20% de desconto, em média.

Os investigadores descobriram que a loja de Flávio recebia dinheiro vivo em montante acima da média das outras franqueadas do mesmo porte, o que sugere lavagem de dinheiro. Além disso, o senador e a mulher investiram R$ 1 milhão no negócio, valor não condizente com a renda do casal. Fernanda Bolsonaro, esposa de Flávio, não consta oficialmente como sócia, mas de sua conta bancária saíram R$ 350 mil para o negócio.

No contrato da loja, Flávio tem como sócio Alexandre Ferreira Dias Santini, que na opinião do MP-RJ é um “laranja” do casal. Santini é acusado de intimidar a mulher de Cristiano Souza e Silva, ex-dono da loja, que denunciou a fraude nas notas fiscais.

Cristiano revelou aos investigadores que ele e a mulher foram ameaçados por e-mail depois que a denúncia chegou ao grupo de mensagens dos franqueados da Kopenhagen. O empresário disse também que, em 23 de dezembro de 2016, Santini enviou pelo aplicativo de mensagens uma imagem para a mulher dele de pessoas sendo enforcadas. O casou alegou ao MP ter ficado assustado com as ameaças e por isso registrou boletim de ocorrência na delegacia de polícia. Em seguida, temendo algum tipo de retaliação ou ação violenta, Cristiano e a mulher desistiram de levar o caso adiante. Mesmo assim, a polícia deveria ter acionado o Ministério Público, que tem obrigação legal de investigar ameaças.

Para completar essa epopeia bandoleira envolvendo a família presidencial, que não deve acabar tão cedo, o Ministério Público fluminense identificou indícios da prática de peculato por parte de Carlos Bolsonaro, o “02”, desde seu primeiro mandato (2001) como vereador no Rio de Janeiro

No relatório, os promotores afirmam que “há indícios, ao menos em tese, do crime de peculato na contratação de servidores de Carlos Bolsonaro”. A Subprocuradoria-Geral de Justiça aceitou o pedido dos promotores e abriu procedimento investigatório criminal. Ao menos oito pessoas já foram ouvidas pelo MP desde julho de 2019. Entre os investigados, alguns funcionários não apareciam na Câmara Municipal há meses. Outros sequer tinham crachá de servidor da Casa legislativa carioca. Descobriu-se também que alguns dos “contratados” por Carluxo estudavam ou tinham outro emprego enquanto seus nomes apareciam como servidores do gabinete do vereador.

Apesar desse enredo criminoso, o presidente Jair Bolsonaro rompeu a sexta-feira (14) com a notícia de que seu índice de aprovação cresceu e atingiu o maior patamar desde o início do governo. Resumindo, para o brasileiro a corrupção em si não é o problema maior, mas, sim, quem a leva a cabo. Ou seja, se o corrupto for de direta, a ordem é “passar um pano rápido” e seguir adiante, sempre que possível usando Lula e seus quejandos como tábua de salvação.

Jair Bolsonaro, que não pode ser processado enquanto estiver na Presidência, deve uma explicação minimamente convincente aos que acreditaram em suas falaciosas promessas de combate à corrupção e restauração da ética no exercício da política. Por outro lado, os integrantes do núcleo duro do governo, caso tivessem doses rasas de vergonha, já teriam deixado o Palácio do Planalto.

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