Após covarde ameaça a jornalista, entidades repudiam novo e sórdido ataque de Bolsonaro à imprensa

 
Entidades de defesa da liberdade de expressão e de imprensa condenaram o ataque feito no domingo (23) pelo presidente Jair Bolsonaro a um repórter do jornal “O Globo” que questionou o chefe do Executivo sobre depósitos feitos pelo ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz na conta bancária da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

O jornalista, que acompanhava Bolsonaro em visita ao entorno da Catedral de Brasília, perguntou ao presidente sobre os motivos para Queiroz e a esposa dele, Márcia Aguiar, terem depositado R$ 89 mil na conta da primeira-dama. Diante da insistência do repórter, o presidente respondeu: “A vontade é encher tua boca com uma porrada.”

Em reação à ameaça de agressão por parte do presidente, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) a Artigo 19, Conectas Direitos Humanos, Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB e Repórteres sem Fronteiras (RSF) divulgaram nota conjunta em que externam solidariedade ao repórter e condenam “mais um episódio violento” protagonizado pelo presidente.

A reação de Bolsonaro “foi não apenas incompatível com sua posição no mais alto cargo da República, mas até mesmo com as regras de convivência em uma sociedade democrática”, destaca a nota.

A Abraji afirma que, desde que Bolsonaro tomou posse, jornalistas vêm sendo alvo de agressões verbais e que a segurança dos repórteres que cobrem a Presidência da República preocupa. A associação lembrou que em junho alguns veículos de comunicação – incluindo o grupo Globo e o jornal “Folha de S. Paulo” – decidiram suspender temporariamente a cobertura jornalística na porta do Palácio da Alvorada, em Brasília, devido à hostilidade enfrentada pelos repórteres por parte de apoiadores de Bolsonaro.

“O discurso hostil e intimidatório de Bolsonaro contra a imprensa vem incentivando sua militância a assediar jornalistas nas redes sociais nos últimos meses, inclusive com ameaças de morte e agressões aos profissionais e a seus familiares”, enfatiza a nota conjunta. “A frase ‘minha vontade é encher tua boca com uma porrada’ pode ser entendida como uma legitimação do cometimento de crimes como esses.”

Ao repercutir no Twitter a nota divulgada pela Abraji, a organização Repórteres sem Fronteiras destacou o seguinte trecho: “um presidente ameaçar ou agredir fisicamente um jornalista é próprio de ditaduras, não de democracias”.

Citado pela imprensa brasileira, o presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Marcelo Rech, também condenou a atitude de Bolsonaro. “É lamentável que mais uma vez o presidente reaja de forma agressiva e destemperada a uma pergunta de jornalista. Essa atitude em nada contribui com o ambiente democrático e de liberdade de imprensa previstos pela Constituição”, afirmou.

Em sua conta no Twitter, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, lamentou o fim da moderação por parte de Bolsonaro vista nas últimas semanas. “Lamentável ver a volta do perfil autoritário que tanta apreensão causa nos democratas. Nossa solidariedade ao jornalista ofendido e ao jornal O Globo.”

 
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Os depósitos

No início de agosto, uma reportagem da revista Crusoé apontou que Fabrício Queiroz depositou R$ 72 mil na conta bancária de Michelle Bolsonaro entre 2011 e 2018. Os repasses foram descobertos com a quebra de sigilo bancário do ex-policial militar e contrariaram a versão sobre o caso apresentada pelo presidente.

A quebra do sigilo bancário de Queiroz foi autorizada pela Justiça no âmbito da investigação sobre o esquema criminoso das “rachadinhas” – prática ilegal através da qual os funcionários de parlamentares são coagidos a devolver parte de seus salários – no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O filho do presidente foi deputado estadual entre 2003 e janeiro de 2019, e Queiroz foi seu assessor entre 2007 e 2018.

De acordo com a reportagem, Queiroz depositou ao menos 21 cheques na conta de Michelle entre 2011 e 2018, em valores que somam R$ 72 mil. Até então, era conhecido apenas um repasse de R$ 24 mil do ex-assessor para a esposa do presidente.

Quando o caso veio à tona, no final de 2018, Bolsonaro afirmou que os repasses feitos por Queiroz a Michelle eram parte de pagamento de uma dívida de R$ 40 mil que o ex-assessor tinha com o presidente. Bolsonaro alegou que os valores haviam sido depositados na conta de sua esposa por ele não ter tempo de ir ao banco.

Os depósitos de Queiroz a Michelle divulgados pela Crusoé foram confirmados pelo jornal “Folha de S. Paulo”, que noticiou ainda que a esposa de Queiroz, Marcia Aguiar, também repassou dinheiro em 2011 para a primeira-dama, por meio de seis cheques que somaram R$ 17 mil.

Com isso, os valores repassados para a primeira-dama somariam R$ 89 mil, bem acima do suposto empréstimo de R$ 40 mil que Bolsonaro mencionou. Desde as recentes revelações, o presidente não se manifestou sobre os depósitos à sua esposa. (Com agências de notícias)

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