Como se fosse ode à moralidade pública, Bolsonaro comenta com risos e deboche o afastamento de Witzel

 
Há muito que o UCHO.INFO afirma que Jair Bolsonaro, além de movido por monumental incompetência, é desprovido de estofo para cargo de tanta responsabilidade e relevância como a Presidência da República. E o presidente já demonstrou em diversas ocasiões ser desconhecedor da liturgia do cargo.

Sempre pronto para avançar no terreno do revanchismo político, algo que vem fazendo desde a corrida presidencial de 2018, Bolsonaro deveria tentar manter a compostura e evitar comentários esdrúxulos e rasteiros que colocam o País na vala do vexame.

Nesta sexta-feira (28), logo após ser informado sobre o afastamento do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), o presidente abusou do deboche ao tratar do assunto com um apoiador que o chamou à saída do Palácio da Alvorada. Ao ouvir “Rio de Janeiro”, Bolsonaro disparou: “O Rio está pegando, o Rio está pegando hoje. Está sabendo do Rio hoje? Governador já… Quem é teu governador?”.

Imediatamente, o apoiador respondeu: “Meu governador? É o vice”. E Bolsonaro, aos risos, foi à tréplica: “Está acompanhando aí”.

Se há no País alguém que não pode debochar de políticos envolvidos em escândalos, esse é o presidente da República, que até o momento não explicou os motivos que levaram o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz a depositar R$ 89 mil na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Suspeita-se, com base nas investigações, que os recursos usados nos canhestros depósitos são oriundos do esquema das “rachadinhas”, que teve lugar no então gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), onde Queiroz passou a trabalhar por indicação do presidente da República, à época deputado federal.

 
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Bolsonaro, o presidente, deveria recolher-se à sua insignificância e sugerir que o filho Flávio desistisse de, a bordo de chicanas jurídicas, postergar a conclusão do inquérito das “rachadinhas”, pois é impossível que alguém consiga descobrir o milagre da multiplicação das cédulas, como aconteceu na vida do senador.

Rusgas políticas à parte e deixando de lado os escândalos do clã presidencial – que envolvem “rachadinhas”, funcionários fantasmas e evoluções patrimoniais suspeitas – Jair Bolsonaro deveria ser alertado para o fato de que Witzel foi eleito com seu apoio e o do filho Flávio, na esteira do falso discurso de moralização da política e resgate da ética pública.

Além disso, o presidente deveria se recordar que um dos presos na operação, Pastor Everaldo, presidente nacional do PSC, foi responsável pelo batismo do chefe do Executivo federal nas águas do Rio Jordão, em Israel.

Foi a partir desse evento emoldurado pela fé que Bolsonaro conseguiu estreitar sua relação com a comunidade evangélica, que acreditando no moralismo tosco do então candidato ajudou a elegê-lo.

No momento em que algum integrante do Judiciário, imbuído do seu dever público e com doses extras de coragem, decidir convocar Michelle Bolsonaro para depor com o objetivo de esclarecer os depósitos bancários feitos por Queiroz, possivelmente o presidente da República não encontrará tempo para gargalhadas e deboches. A conferir!

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