Que o presidente Jair Bolsonaro desrespeita a liturgia do cargo todo brasileiro de bom-senso e atento aos fatos já percebeu, mas nos últimos tempos algumas incursões do chefe do Executivo federal têm chamado a atenção de quem acompanha a miúde a política nacional.
Há alguns meses, depois das absurdas e inaceitáveis investidas do presidente contra os poderes Legislativo e Judiciário, movimento que serviu para agradar a porção ultrarradical de seus apoiadores, Bolsonaro foi aconselhado a “adoçar” o discurso, caso quisesse continuar no cargo. Afinal, há motivos de sobra para avançar com um processo de impeachment.
A mudança de postura tornou-se mais evidente a partir do momento em que dois de seus filhos políticos, Carlos e Eduardo Bolsonaro, foram alçados à mira do Supremo Tribunal Federal (STF), onde, sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, tramita inquérito que apura os atos antidemocráticos.
Na esteira do depoimento do deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP), que no âmbito do referido inquérito forneceu à Polícia Federal os IPs (Internet Protocol, em inglês) de computadores de Brasília e do Rio de Janeiro, ligados a Eduardo Bolsonaro e que teriam sido usados para a disseminação de notícias falsas sobre os ministros da Corte, a luz de emergência acendeu na sede do governo. Um dos IPs está relacionado à conta de e-mail que Eduardo, deputado federal pelo PSL paulista, informou à Justiça Eleitoral.
Quando o ministro Alexandre de Moraes tomou a decisão de compartilhar os dados do inquérito sob sua relatoria com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro percebeu que a possibilidade de ser apeado do cargo crescera sobremaneira, em especial porque informações apontam para o financiamento ilegal de campanha em 2018, principalmente por conta do disparo em massa de mensagens por aplicativos pela chapa eleitoral encabeçada pelo agora presidente da República, ação custeada por apoiadores abastados.
Se a possibilidade de perder o mandato deixou Bolsonaro preocupado, o presidente perdeu o sono quando foi informado por assessores sobre a chance crescente de os filhos Eduardo e Carlos serem alvo de mandados de prisão no âmbito do inquérito em curso no STF. Como qualquer ameaça aos filhos elava o presidente a atitudes inexplicáveis, o melhor foi amainar a verborragia e proteger o clã. Coincidência ou não, Eduardo Carlos submergiram.
Não por acaso, Bolsonaro se aproximou do ex-presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli, que à frente da Corte adotou a política da “boa vizinhança”, estratégia que incomodou os demais magistrados. Além disso, coube a Toffoli instaurar, por ato de ofício, o inquérito sobre os atos antidemocráticos e escolher Moraes como relator. À sombra de seus conhecidos impulsos, Bolsonaro solicitou, há dias, encontro com o atual presidente do STF, ministro Luiz Fux, que na ocasião limitou-se a manter postura institucional, como prometeu na cerimônia de posse no cargo.
A eventual prisão dos filhos “02” e “03” seria um golpe considerável em um governo pífio e que até agora não mostrou a que veio. Para completar o cenário de exacerbada preocupação com a família, o presidente teme que o filho Flávio Bolsonaro, senador pelo Rio de Janeiro e na proa do escândalo das malfadada “rachadinhas” também se torne presa fácil do Judiciário. O STF ainda não decidiu sobre o foro privilegiado de Flávio – pedido improcedente de acordo com decisão da própria Corte –, o que explica a disposição de Bolsonaro de a todo instante cruzar a Praça dos Três Poderes.
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