Fazenda Ibicaba: quando os crimes contra o meio ambiente são cometidos além do fogo no Pantanal

 
A tragédia ambiental que se abate sobre o País, destruindo biomas importantes como a Amazônia e o Pantanal, tem conquistado cada vez mais espaço no noticiário – nacional e internacional –, mas é importante ressaltar que as questões envolvendo o meio ambiente nacional vão além do fogo e da fumaça produzidos por incêndios criminosos.

Como sempre afirma o UCHO.INFO, a extração ilegal de madeira, preâmbulo do desmatamento para fins agropecuários, é uma operação cara que exige recursos de sobra para garantir a eficácia da logística criminosa. Isso significa que pessoas abastadas financiam os “fora da lei” que agem sorrateiramente no campo, com o objetivo de, na sequência, com a madeira ao rés do chão, terem áreas livres para o plantio ou destinadas à pastagem de rebanhos bovinos. Entre as espécies nativas na mira dos profissionais do desmatamento estão itaúba, cambará, jatobá, pinho cuiabano e cedrilho.

É fato que as cenas das queimadas que devastaram o Pantanal e centenas de animais – que sucumbiram ao calor do fogo e não conseguiram escapar das labaredas – são apocalípticas e aterrorizantes, mas não se pode ignorar aquilo que não se vê, ou seja, o que acontece diuturnamente nos biomas brasileiros de forma sorrateira e silenciosa, longe dos olhares da opinião pública.

A extração ilegal de madeira nas regiões Norte e Centro-Oeste avança de forma deliberada e sem resposta à altura do Estado, pois representa um negócio milionário, que, a depender da extensão da área invadida pelos “fora da lei”, rende entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão por dia aos assassinos do meio ambiente.

Essas investidas contra a natureza, que violam de forma flagrante a legislação vigente e atentam contra a flora e a fauna, contam com a proteção de agentes do Estado, que muitas vezes cobram pela conivência com o desmando ou tornam-se sócios de uma atividade que deveria ser punida com o máximo rigor. Além disso, o uso de notas fiscais fraudulentas para o transporte da madeira retirada das matas é um crime acessório que deveria ser punido com base na lei.

Em muitas áreas, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) autoriza o manejo da floresta, desde que debaixo de regras e condições, mas o que se vê nessa região do País é a continuidade do desmando, como se o Brasil fosse órfão de legislação ambiental. Em outras palavras, a gestão ambiental no País é caso de polícia, sem contar os discursos bravateiros das autoridades responsáveis pela preservação do meio ambiente.

Entre os crimes ambientais que merecem destaque na região está o praticado na Fazenda Ibicaba, em Marcelândia, no norte do estado de Mato Grosso, onde a extração ilegal de madeira configura um escárnio sem precedentes, que conta com o aval de agentes do Estado.

Alvo de demandas judiciais diversas, a Ibicaba está emoldurada por um cenário de suposta legalidade, mas que na verdade mescla interposição sequenciada de procurações e a constituição de diversas empresas, as quais funcionam com o objetivo de dificultar investigações e a tramitação de ações judiciais.

 
No que tange às procurações – algumas bisonhas, é importante ressaltar – a outorga de poderes se dá a partir de pessoas (físicas e jurídicas) desprovidas de respaldo legal para tanto e em favor de outras que ou desconhecem a legislação ambiental ou agem como “laranjas” de mal-intencionados e violadores da lei.

Ademais, a outorga de procurações, à sombra de manobras rasteiras e interesses escusos, tem servido para camuflar uma série de crimes contra a natureza e a propriedade privada, assuntos que se perdem no pântano do compadrio espúrio e na esteira da corrupção. Esse quadro permite a venda e revenda de propriedades de terceiros, com o desconhecimento dos verdadeiros proprietários, os quais acabam não apenas prejudicados, mas alçados à mira de investigações sem que tenham qualquer relação com os crimes praticados.

O Ibama tem conhecimento do que ocorre na Fazenda Ibicaba, mas em muitas ocasiões preferiu fechar os olhos para os desmandos cometidos na propriedade rural, deixando que o avanço do tempo mandasse o escândalo para debaixo do tapete da impunidade.

Na proa do imbróglio estão Manoel Nascimento Vieira Araújo, Willian Alves Ferreira, Josemar Petroski, Anderson Luiz Petroski, Garon Ribeiro de Moraes e Terêncio Vasconcelos Pinheiro, além das empresas GW Empreendimentos Imobiliários, Geral Agronegócios e Petroski Indústria e Comércio de Madeiras (Kper Wood). Na condição de contrarregras da epopeia aparecem Luciano Batista de Jesus e Exequiel Cândido Pinheiro.

Missa encomendada

Para reforçar o absurdo que tomou conta do caso, os envolvidos, transgressores da lei, têm se valido do jornalismo vendilhão, pois conseguem, sabe-se lá como, emplacar notícias mentirosas e improcedentes em veículos de imprensa (sic) que sequer fazem a checagem das informações e dos fatos. Recentemente, um site de notícias mato-grossense publicou matéria sobre temas relacionados à Fazenda Ibicaba, mas acabou obrigado a divulgar uma errata em razão da improcedência das informações.

A referida matéria, segundo o site, teria sido produzida por empresa de assessoria de imprensa, possivelmente contratada por uma das partes envolvidas no caso, mas isso não muda a realidade dos fatos. Em suma, o que se depreende da publicação é que o site de notícias tentou se justificar diante de postura jornalística questionável, induzido a erro seus leitores novamente, quando, na verdade, o que ocorreu em termos informativos é que o País esteve diante de uma obra de ficção sobre um fato sabidamente verdadeiro.

Jornalismo independente e comprometido com os fatos é tarefa hercúlea e exige experiência, determinação e vocação para o ofício, sob pena de o veículo de comunicação se transformar em “barriga de aluguel” para notícias improcedentes, talvez mentirosas. Não se trata ignorar a importância dos serviços de assessoria de imprensa, mas publicar matéria com base em “press release” (produzido pela Novo Selo Comunicação) sem a devida checagem das informações é algo temerário e que foge às regras do bom jornalismo. Longe de colocar em xeque o trabalho da empresa de comunicação em questão, publicar um texto sem os devidos cuidados só colabora com os seguidos atentados contra a natureza.

Ademais, vincular fatos alheios à matéria jornalística, sem uma nesga de nexo causal, sugere que estamos diante do que se conhece como “missa encomendada”.

Esta matéria jornalística, que leva o selo do UCHO.INFO – portal de notícias reconhecido por sua participação na vida política nacional e por investigar e denunciar escândalos de corrupção que culminaram em operações policiais (Chacal, Satiagraha e Lava-Jato), além dos casos Celso Daniel e Mensalão do PT – é o capítulo de estreia de uma série de reportagens que têm como pano de fundo a Fazenda Ibicaba.

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