Mourão volta a desdizer Bolsonaro; clima entre militares e o presidente piora com o passar do tempo

 
Na edição de terça-feira (3), o UCHO.INFO afirmou que o vice-presidente Hamilton Mourão é o líder da nova frente de oposição a Jair Bolsonaro. Quem acompanha o nosso jornalismo sabe que há muito afirmamos que a relação entre Bolsonaro e Mourão equilibra-se sobre o fio da cimitarra, algo que acontece desde a corrida presidencial de 2018, quando o general da reserva fez declarações que irritaram o agora chefe do Executivo.

Lembramos em diversas ocasiões, com base em declarações de militares de alta patente que conhecem ambos (Bolsonaro e Mourão), que não existindo intercorrências ao longo do mandato, a relação seria respeitosa. Contudo, se surgissem frentes de atrito, como acontece agora, general não tem disposição para acatar ordem de capitão, pelo contrário

Após Jair Bolsonaro decidir desgastar publicamente alguns militares que integram a cúpula do governo, fruto da influência tacanha da ala ideológica, os militares resolveram reagir com algumas estocadas pontuais, todas a cargo de Mourão, que mantém o estilo de avançar e depois recuar.

Há dias, em entrevista à revista veja, Mourão disse “é claro” que o Brasil comprará a vacina chinesa contra a Covid-19. Dias antes, Bolsonaro afirmara que não havia qualquer possibilidade de o governo adquirir a Coronavac, imunizante desenvolvido pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo.

A declaração de Hamilton Mourão foi suficiente para a temperatura subir no Palácio do Planalto, a ponto de o vice-presidente negar a existência de qualquer conflito entre ele e Bolsonaro. “Aqui não há briga. Existem opiniões que ora coincidem e ora não, mas quem decide é o presidente e ele foi eleito para isso”, disse Mourão aos jornalistas.

Nesta quarta-feira (4), Hamilton Mourão voltou a confrontar a fala do presidente da República ao comentar a vantagem Joe Biden na eleição presidencial americana e a possível vitória do candidato democrata.

“O relacionamento do Brasil com os EUA é um relacionamento de Estado para Estado, independente do governo que tiver lá. Óbvio que cada governo tem suas prioridades, tem suas características. Então, pode ter algumas mudanças pontuais, mas no conjunto da obra nós vamos continuar com a mesma, vamos dizer assim, com as mesmas ligações”, afirmou.

 
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Que Bolsonaro dedica nauseante sabujice a Donald Trump o planeta já sabe, mas sua torcida pela vitória do republicano, no melhor estilo de chefe de torcida, chega a ser vergonhoso. Questionado se estava interferindo na disputa eleitoral dos EUA, o presidente recorreu à galhofa ao sugerir opções de como poderia se dar sua ingerência na disputa nos EUA. “Quer como? Econômica, bélica, militar ou cibernética?”, questionou Bolsonaro.

“Quem fala isso, quem escreve isso, tem que deixar os banquinhos escolares e ver como que é a realidade. Preferência acho que todo mundo tem, e não vou discutir com ninguém”, declarou o presidente aos seus ensandecidos apoiadores.

Para justificar mais uma vez a subserviência ao mandatário americano, Bolsonaro destacou a boa relação que mantém com Trump, de quem é fã de primeira hora. “Vocês sabem a minha posição. É clara, isso não é interferência. Tenho uma boa política com o Trump, espero que ele seja reeleito. E o Brasil vai continuar sendo o Brasil, sem interferir em nada, até porque quem somos nós para interferir”.

A reboque da teoria da conspiração, Bolsonaro atacou Joe Biden ao falar sobre as declarações do democrata sobre a Amazônia. “O candidato democrata, em duas oportunidades, falou sobre a Amazônia. É isso que vocês estão querendo para o Brasil? Aí sim uma interferência de fora pra dentro”, disse o presidente.

O despreparo de Bolsonaro é tamanho, que aos brasileiros só resta torcer para que aconteça por aqui o que ocorreu na eleição americana. Ou seja, que o presidente fracasse em seu projeto de reeleição. Independentemente do resultado da eleição nos Estados Unidos, questões envolvendo o meio ambiente serão essenciais para a sobrevivência do Brasil no cenário internacional. Falar em interferência enquanto a tragédia ambiental avança no País é demonstração de anorexia intelectual.

Fato é que até recentemente Hamilton Mourão atuava como “água fria” no caldeirão fervente das declarações de Bolsonaro. Depois que a caserna passou a se incomodar com as carraspanas oficiais, o vice passou à condição de ponta de lança das Forças Armadas.

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