Mourão tenta minimizar ameaça de Bolsonaro sobre madeira ilegal e desautoriza mais uma vez o presidente

 
Há muito o UCHO.INFO afirma que a relação entre a cúpula das forças militares e o presidente Jair Bolsonaro tem azedado com o avanço dos dias. Em matéria recente, afirmamos que o vice-presidente Antônio Hamilton Mourão assumira a liderança da mais nova frente de oposição a Bolsonaro, cristalizando a insatisfação das Forças Armadas com muitas atitudes do presidente da República, entre as quais a humilhação pública de alguns militares que integram o governo ou que dele participaram.

Mourão, general da reserva, tem feito contraponto a muitas declarações de Bolsonaro, movimento que começou ainda na campanha presidencial de 2018. A mais recente incursão de Mourão tem como foco a questão do desmatamento na Amazônia, mais precisamente a ameaça torpe de Bolsonaro de revelar uma suposta lista de países que importam madeira extraída ilegalmente da maior floresta tropical do planeta.

“Estaremos revelando nos próximos dias, países que tenham importado madeira de forma ilegal da Amazônia, e alguns desses países são os mais severos críticos ao meu governo tocante a essa região Amazônica”, disse o presidente.

Como afirmamos em matéria publicada nesta semana, Bolsonaro, ao fazer tal ameaça durante cúpula dos BRICS, que aconteceu de forma virtual em razão da pandemia do novo coronavírus, mostrou pequenez e irresponsabilidade como chefe de Estado, pois países não compram madeira, mas sim empresas sediadas em determinadas nações. Na mencionada matéria, destacamos que a investida rasteira de Bolsonaro é tão absurda, que equivaleria afirmar que o Brasil compra cocaína da Bolívia apenas porque traficantes brasileiros adquirem grandes quantidades da droga produzida no país vizinho.

 
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Além disso, se o presidente Jair Bolsonaro tem em mãos dados sobre empresas internacionais que importam madeira extraída ilegalmente das florestas brasileiras, é caso de processá-lo por prevaricação, já que como presidente deveria ter denunciado às autoridades para que o crime ambiental fosse contido e punido dentro dos ditames da lei. Ademais, ciente de que empresas estrangeiras estão violando a legislação ambiental, Bolsonaro deveria contar outros chefes de Estado ou de governo para unir forças e combater tal ilegalidade.

Nesta quinta-feira (19), Mourão disse que a relação de importadores de madeira amazônica ilegal é “uma questão de empresas”, não de países. Ou seja, o vice-presidente endossa a nossa matéria. O grande senão na intervenção de Hamilton Mourão é que, ao dirigir-se aos jornalistas, ele tentou minimizar a polêmica afirmando que “o presidente deixou muito claro”, como se Bolsonaro tivesse feito referência a empresas, não a países.

O imbróglio envolvendo a ameaça de Bolsonaro criou constrangimentos diplomáticos que podem isolar o Brasil ainda mais no campo internacional. Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, o embaixador da Dinamarca no Brasil, Nicolai Prytz, rebateu a fala de Bolsonaro afirmando que “não se culpa países por importação ilegal de madeira” e que tal situação, se realmente existir, estaria restrita a empresas.

“Mas se ele existe, se tiver alguma alegação substancial sobre um crime supostamente cometido, seria a ocasião de as autoridades brasileiras, pelos canais já estabelecidos, contatarem as autoridades da Dinamarca para ver esse assunto. É assim que funciona, e isso vale para qualquer matéria, não só sobre um crime com madeira, mas qualquer outro assunto”, disse Prytz.

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