O apoio questionável dos integrantes da “frente ampla” de Boulos, o “moço comportado” do momento

 
Se há um setor da sociedade onde a coerência e o bom-senso simplesmente inexistem, esse certamente é a política. Candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos tem apresentado propostas que, como já afirmou o UCHO.INFO, são inexequíveis em função do orçamento do município, sem contar a necessidade de se considerar a formação da Câmara de Vereadores a partir do próximo ano.

Filiado a um partido que admite a origem no radicalismo, Boulos, tão logo passou ao segundo turno, conseguiu cooptar o apoio de lideranças políticas conhecidas, mas ao mesmo tempo contraditórias, em alguns casos, e envolvidas em escândalos.

Um dos apoios mais rumorosos é do ex-presidente Lula e do Partido dos Trabalhadores (PT), que durante 12 anos chafurdaram na lama da corrupção. Entendemos que no caso do apartamento triplex no Guarujá, no litoral paulista, não existiam provas para condenar o ex-metalúrgico, mas Lula sempre teve conhecimento da atuação criminosa de muitos “companheiros”. Além disso, no caso do sítio em Atibaia, por exemplo, sobram provas para condenar o ex-presidente.

Boulos tem afirmado de forma insistente que seu adversário, o prefeito Bruno Covas (PSDB), “esconde” o governador de São Paulo, João Dória Júnior, porque ele “queima o filme”, segundo o candidato do PSOL. Não se pode negar a rejeição que Dória tem na capital paulista, mas Boulos deveria avaliar o histórico de seus apoiadores antes de ataques descabidos.

Candidato derrotado à Prefeitura paulistana, o deputado federal Orlando Silva (PCdoB) é alvo de diversas denúncias e escândalos. O mais grave dos casos, que caiu no esquecimento da opinião pública, envolve o grupo empresarial J&F, controlado pelos irmãos Joesley e Wesley Batista.

Diretor de Relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud afirmou, em depoimento de delação premiada, que Orlando Silva tratou diretamente com a JBS sobre a estratégia que adotaria para maquiar propinas no valor de R$ 3 milhões, recursos que teriam sido utilizados na sua campanha de 2014. O delator entregou ao Ministério Público Federal contratos e notas fiscais que alega serem “frias” para justificar os gastos não contabilizados da empresa com a campanha eleitoral do então ministro dos Esportes do governo de Dilma Rousseff.

Outro apoiador polêmico é Ciro Gomes, ex-governador do Ceará, que além dos escândalos em que aparece como protagonista é dono de verborragia ácida e descontrolada. Em 2018, quando Ciro e Boulos concorreram à Presidência da República e tropeçaram no primeiro turno, o psolista não poupou palavras para criticar o ex-governador cearense. Boulos, em entrevista à revista “Fórum”, disse que Ciro havia colocado um fígado no lugar do cérebro.

“Ciro Gomes, lamentavelmente, desde a derrota no primeiro turno, tomou como seu guia político o ressentimento, botou um fígado no lugar da cabeça. E tem se guiado por isso. Acho que isso tem feito muito mal para ele e para esquerda brasileira. Com esse tipo de postura ele divide. Ciro se tornou o apologista maior do antipetismo no país”, disse Boulos.

“Não acredito que vamos renovar a esquerda brasileira, e precisa de renovação, destruindo quem representou a hegemonia da esquerda até o momento. Tem gente que só consegue pensar seu lugar político destruindo quem disputa esse lugar com ele”, completou o candidato do PSOL.

Na mesma entrevista, Boulos foi além em suas críticas a Ciro Gomes. “Pensar em 2022 agora é não entender o que tá acontecendo no Brasil, é de uma miopia tremenda”, declarou.

 
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Agora, de olho em 2022, Boulos, Ciro e Lula estão lado a lado, com o claro objetivo de esvaziar a pré-candidatura de João Dória à Presidência da República, já que Bolsonaro está derretendo politicamente à sombra da própria estultice. Ou seja, não há preocupação de dois deles (Ciro e Lula) com a população da maior cidade brasileira, São Paulo.

“Em São Paulo, trata-se de deixar como está ou mudar. A mudança é Guilherme Boulos e Luiza Erundina. É garra e experiência para garantir uma mudança segura”, disse Ciro Gomes ao declarar apoio ao candidato do PSOL, como se suas propostas fossem exequíveis.

Quem também declarou apoio a Boulos foi o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), reforçando que o candidato do PSOL age de acordo com a lei. “Fui presidente da Associação Nacional dos Juízes Federais. Sei do compromisso de Guilherme Boulos de governar de acordo com a Constituição e as leis. A honestidade e a coragem de Boulos e Luiza Erundina fazem bem para a política de São Paulo”, afirmou Dino.

Dino, que está a milhares de quilômetros da capital paulista, talvez desconheça que em 2016, por ocasião de protesto contra a “PEC do Teto de Gastos”, na Avenida Paulista, Boulos participou da manifestação na condição de líder do MTST e endossou a depredação da entrada do prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), como se a entidade fosse responsável pela medida.

À época, Guilherme Boulos, ao ser questionado sobre o quebra-quebra, respondeu: “O dano na fachada da Fiesp é muito pouco diante do dano que a Fiesp causa ao povo brasileiro”. Pois bem, se depredar patrimônio privado é agir de acordo com a lei, que o governador Flávio Dino venha a público para explicar o que significa ilegalidade.

O UCHO.INFO não defende ideologias, partidos políticos e candidatos, assim como não os demoniza, mas, ao exercer o compromisso com o bom jornalismo, cobra coerência das autoridades e dos postulantes a cargos eletivos, do mesmo modo que condena o radicalismo em qualquer situação.

Na segunda-feira (23), durante edição especial do programa Roda Viva, da TV Cultura, Boulos foi lembrado do episódio ocorrido em 2016 em frente ao prédio da Fiesp, mas no melhor estilo “lobo em pele de cordeiro” disse, respondendo ao jornalista Diego Schelp (UOL), que “não defende nenhuma forma de violência”.

A postura dissimulada de Boulos encontra respaldo em declaração do presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, que em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo” não negou a origem radical do partido, mas disse que a legenda amadureceu.

“O PSOL nasceu com a proposta de resgatar a ideia original do PT, de uma esquerda independente, classista. Passados 15 anos, o PSOL não olha mais para trás. Busca uma esquerda combativa, radical no melhor sentido da palavra, de ir à origem dos problemas, à raiz, mas que seja contemporânea, do século 21. Uma esquerda que incorporou temas como direitos humanos, meio ambiente, direitos das mulheres, LGBTs, negros, juventude”, disse Medeiros.

O discurso do presidente do PSOL, assim como o de Boulos, é semelhante à afirmação do candidato psolista ao atacar a campanha de Bruno Covas. Nos programas eleitorais, Guilherme Boulos diz que gostaria de morar na cidade que Covas apresenta na campanha. O UCHO.INFO gostaria que a fala de Juliano Medeiros pudesse migrar para o campo da ação, que, como sempre, exige recursos públicos em grande quantidade.

O Brasil rumou na direção do atraso durante muitas décadas e não será com discurso fácil e visguento que essa situação de penúria chegará ao fim. É preciso preparo, determinação e paciência para que soluções apareçam com o avanço do tempo. Até porque, revolução embalada por comunistas somente no cinema.

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