Eles também falam a verdade

(*) Carlos Brickmann

Comecemos por Donald Trump: “Vou promover uma luta dos diabos para que o Congresso não confirme a vitória de Biden”. A frase é de um comício na Georgia, onde apoiava a eleição dos dois candidatos republicanos ao Senado. O Senado tem maioria republicana de 50×48; ganhando os republicanos, a oposição a Biden terá o controle da casa. Se os democratas vencerem, fica 50×50. E o voto decisivo será da presidente do Senado, a vice Kamala Harris, democrata. Os democratas já controlam a Câmara.

Mais Trump, promovendo uma manifestação em Washington, a seu favor, marcada para hoje, que terá ao menos um grupo que promete ir armado, embora isso não seja permitido: “Estejam presentes! Será selvagem!”

Continuemos com Bolsonaro: tudo bem, ele disse a verdade, mas foi só na metade final de uma frase. Antes disse que tinha tirado férias de uma semana, quando foram 17 dias, escondeu o envio de seu filho Eduardo, o 03, com esposa e filha pequena, a Washington, para uma visitinha a Trump, errou ao dizer que o Brasil está quebrado (a economia poderia estar melhor, mas quebrado o país não está) e aí disse a sua verdade: “Eu não consigo fazer nada”.

Ele tem razão: o ministro Paulo Guedes prometeu arrecadar trilhões com privatização de estatais, isso antes da pandemia. Bolsonaro, ao assumir, achou o Governo com 46 empresas privatizáveis; hoje, há 46 empresas privatizáveis. Tanto que o secretário da Privatização preferiu ir embora.

Pato manco, ou café frio

Os americanos se referem ao candidato que completa seu mandato depois de ter sido derrotado como “lame duck”, pato manco. No Brasil, comenta-se que, depois de perder uma eleição, ninguém consegue sequer tomar um café quentinho. Vem frio, isso se vier. Trump está passando por essa experiência. Telefonou ao secretário de Estado da Georgia, Brad Raffensperger, um leal republicano linha dura, de seu partido, e pediu-lhe que arrumasse 11.780 votos, para reverter a votação em que foi derrotado por 11.779 votos. “Diga que você recalculou”, pediu Trump. Raffensperger disse que a impressão de Trump de que venceu as eleições está errada, que a Georgia já recontou os votos duas vezes e que seus números são bons.

E aí, o limãozinho na ferida: a gravação do telefonema entre os dois foi parar na imprensa. E por que o secretário se comprometeria com um presidente derrotado? Bye, bye, Trump.

Boa notícia…

O agronegócio brasileiro espera exportar cerca de US$ 113 bilhões neste ano – com isso, mais uma vez garante o superávit comercial do Brasil. Com a pandemia, os preços subiram. A produção deve aumentar. Esta continua sendo a área mais dinâmica da economia brasileira, sempre em ascensão.

…e chega!

A boa notícia é só esta aqui de cima e não é para acostumar. A partir do dia 15, carne, leite, frutas e legumes, pães e congelados pagarão mais 4,32% de ICMS. A Associação Paulista de Supermercados, a Associação Comercial de São Paulo e a Federação das Associações Comerciais do Estado pediram que o novo imposto seja retirado. Mas alguém acredita que o Governo paulista deixe de lado, ao menos por instantes, a ordenha do contribuinte?

Sobe!

O caro leitor paga aluguel? Pois é bom estar preparado para negociar: os contratos com aniversário em janeiro podem ser reajustados em 23,14%. É o percentual acumulado do IGP – M nos últimos 12 meses. Mas não fique tão chateado: o aumento do salário do prefeito Bruno Covas (PSDB) é o dobro.

O elogio da traição

O deputado Baleia Rossi (PMDB-São Paulo) é o candidato da maioria dos parlamentares e dos partidos à Presidência da Câmara dos Deputados, na sucessão do deputado Rodrigo Maia (DEM-Rio). Quer dizer que já ganhou? Não: política é mais complicada do que isso. Rossi é candidato da oposição ao presidente Jair Bolsonaro. Quer dizer que os oposicionistas votam nele? Pode ser: o candidato de Bolsonaro, Arthur Lira (PP-Alagoas), tenta pegar votos de Baleia, e pode conseguir vários – inclusive no PT, que às vezes não se lembra de que é oposição a Bolsonaro.

Lira é do ramo, já foi até apanhado com a mão na massa, nas rachadinhas, e a Receita lhe cobrou imposto, que ele vem pagando. E candidato do Governo sempre tem bons argumentos para conseguir votos. Mas Lira, hoje ligado a Bolsonaro, não aceitaria facilmente pedidos de impeachment. Baleia pode aceitá-los – o que significa que o voto de cada parlamentar passa a valer muito mais. Ganhar agora ou no futuro?

Dupla ação

O ex-presidente Michel Temer é hoje um dos conselheiros do presidente Bolsonaro (se é que Bolsonaro aceita conselho). O PT o odeia, por julgá-lo responsável pelo impeachment de Dilma. Mas, na Câmara, pode ser que Temer feche com Baleia, de seu partido, e cujo pai, o ex-deputado Wagner Rossi, é seu amigo.
Não se surpreenda se tivermos Temer dos dois lados.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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