Ingerência de Bolsonaro na disputa pela presidência da Câmara visa inviabilizar João Dória em 2022

(Agência Câmara)

 
Quando tomou posse na Presidência da República, Jair Bolsonaro prometeu respeitar e cumprir a Constituição Federal, que no artigo 2º estabelece: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.

Nesta quarta-feira (27), Bolsonaro disse que, “se Deus quiser”, vai “influir na presidência da Câmara”. Na verdade, o que o presidente da República pretende é repetir o exatamente aquilo que condenou durante eleição de 2018, quando prometeu acabar com o que classificou como “velha política”.

“Viemos fazer uma reunião aí com 30 parlamentares do PSL e vamos, se Deus quiser, participar, influir na presidência da Câmara, com estes parlamentares, de modo que possamos ter um relacionamento pacífico e produtivo para o nosso Brasil”, disse Bolsonaro, após participar de um café da manhã com parlamentares de seu antigo partido.

Na sequência, ao deixar o prédio do Ministério da Economia, Bolsonaro admitiu em conversa com os jornalistas ter tratado das disputas na Câmara dos Deputados e no Senado.

“Foi encontro político, tratando de eleição de Mesa. Esse pessoal que foi lá é o pessoal que está do nosso lado do PSL. Vou reunir com eles novamente para discutir questão partidária porque não vou, eu, ir para um partido e depois falar para eles ‘oh, fui em tal partido’. Quero participar com eles nesta construção de qual partido nós iremos a partir de março”, afirmou.

Enquanto o Palácio do Planalto apoia o deputado Arthur Lira (PP-AL), o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), trabalha para o emedebista Baleia Rossi (SP).

Incomodado com a interferência do governo na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, Maia telefonou para o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e cobrou o fim das investidas palacianas em assuntos legislativos.

Além do declarado e escandaloso apoio a Arthur Lira, o Palácio do Planalto tem atuado nos bastidores para incentivar parlamentares do Democratas desembarcarem da candidatura de Baleia Rossi.

 
Para tal, o governo vem acenando, através de Lira, com ofertas de cargos e liberação de emendas. A investida mais ousada aconteceu na Bahia, reduto eleitoral de ACM Neto, ex-prefeito de Salvador e presidente nacional do Democratas. ACM reuniu-se com Lira na última segunda-feira (25), na capital baiana.

Apesar de ACM Neto afirmar que o Democratas apoiará Baleia Rossi, não é certo que os parlamentares baianos da legenda seguirão esse caminho. Contudo, caso prevaleça o discurso de ACM em relação à disputa na Câmara, a candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) à presidência do Senado fica comprometida.

Esse cenário se explica com a possibilidade de o PP, partido de Lira, retirar o apoio a Pacheco, migrando para a candidatura de Simone Tebet (MDB-MS), que concorre ao comando do Senado. Rodrigo Pacheco é o candidato do atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que está alinhado com Bolsonaro.

Muito além do desejo de transformar a Câmara dos Deputados em “longa manus” de uma ditadura disfarçada de democracia, Jair Bolsonaro age para implodir o Democratas com os olhos voltados para 2022.

Isso porque o governador de São Paulo, João Dória Junior (PSDB), virtual candidato à Presidência da República, vem trabalhando nas coxias do tucanato para que o partido não tenha candidato ao governo estadual, algo inédito.

A estratégia de Dória tem duas vertentes distintas. A primeira delas é deixar o caminho livre para o atual vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (DEM), se candidatar ao Palácio dos Bandeirantes em 2022. Isso daria a Dória a possibilidade de garantir o apoio do DEM em sua tentativa de chegar à Presidência.

A segunda vertente tem Rodrigo Garcia como candidato a vice na chapa de Dória em 2022. Contudo, essa possibilidade começa a enfrentar nebulosidade por causa das investidas do governo Bolsonaro na direção do Democratas, que mantendo a tradição desde os tempos de PFL, está cada vez mais disposto a continuar vivendo à sombra do poder. E isso significa cargos e mais cargos na máquina federal.

Faltando apenas seis dias para a eleição no Congresso Nacional, que definirá as Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, os brasileiros de bem ainda podem pressionar para que o Parlamento não seja transformado em mero puxadinho do Palácio do Planalto, o que significa, de chofre, dar largos passos na direção do obscurantismo e do retrocesso. É preciso conter Jair Bolsonaro enquanto é tempo.

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