Todo dia ele faz tudo sempre igual

(*) Carlos Brickmann

Já teve o chilique, já botou mais um fardado dentro do Governo, já pisou no Paulo Guedes mais uma vez (e nenhum dos dois se cansa!), já prometeu aos caminhoneiros que agora vai, que não precisam fazer greve – mas, por via das dúvidas, já fizeram a greve em Belo Horizonte, tumultuando a vida da cidade. Agora, é aquela questão matemática: pegue o preço da gasolina e do Diesel antes dessa confusão toda, some o chilique, some a promoção do fardado, multiplique pela humilhação do Superministro da Economia, e a conta vai dar exatamente o preço da gasolina e do Diesel antes da confusão.

Por que a vida dos caminhoneiros está tão difícil? Comecemos lembrando que Dilma, para agradar a categoria, financiou caminhões a juros de BNDES, estimulando os autônomos a trocar seus veículos. Perfeito: só que, embora baixos, os juros têm de ser pagos. Com mais caminhões do que o necessário, a tendência dos fretes é cair. O presidente já é Temer: para evitar uma greve, fixou um piso para o frete. Temer sabia, claro, que isso é impossível: se um cliente vai pagar cem e um caminhoneiro sem carga se oferece por 80, quem irá atrapalhar os dois? Mas Temer sabia também que seu mandato estava no fim, e o problema ficaria para o presidente seguinte. E Bolsonaro, para evitar uma greve, teve então seu chilique, disse que ia fazer e acontecer.

Mas não vai, não: as raízes desta crise estão fora de seu alcance. Não tem como reduzir o número de caminhões, nem de lotá-los. É jogo jogado.

O Real e o real

Mas por que Diesel e gasolina subiram tanto? Por dois motivos: primeiro, a desvalorização do Real – que vem se enfraquecendo dramaticamente. Das 30 moedas mais negociadas do mundo, o Real foi a que mais valor perdeu em 2020 – já no Governo Bolsonaro. Foram 28%. Lembra do dólar a R$ 4? Pois hoje oscila perto de R$ 5,50. São mais reais para pagar o mesmo barril de petróleo. O barril de petróleo também já não é o mesmo: faz frio nos EUA, o que aumenta muito o uso de combustíveis para aquecimento. O preço do fim de 2020 oscilava perto de US$ 50. Hoje, oscila em torno de US$ 65.

Ponha 30% no preço do petróleo, some mais uns 30% de desvalorização do Real, e tente manter hoje o preço do Diesel e da gasolina em 2020, já alto. Bolsonaro pode chilicar à vontade que não vai mudar a temperatura dos EUA. A desvalorização do Real é água passada, diga Guedes o que disser, tente Bolsonaro baixar o preço quanto quiser. Dilma fez isso e não deu certo.

Hotel da sucessão

Só quem conhece a história da TV brasileira recorda este programa de sucesso de 1955, na época da eleição que levou Juscelino Kubitschek ao poder. No hotel se hospedavam os personagens da campanha. Lá circulava não muito discretamente um objeto misterioso que convencia os políticos a mudar de opinião.

Economizar, jamais

A coluna Diário do Poder, de Cláudio Humberto, faz uma comparação impressionante entre Brasil e Estados Unidos. O Palácio do Planalto, sede do Governo brasileiro, tem 4.600 funcionários; a Casa Branca, sede do Governo americano, tem 460 funcionários. O presidente americano mora e trabalha na Casa Branca. O presidente brasileiro trabalha no Palácio do Planalto, mora no Palácio da Alvorada e dispõe da Granja do Torto; tem também à disposição o Palácio Rio Negro, em Petrópolis.

E a mania de palácios à vontade não é exclusiva dos presidentes, seja qual for seu partido: o governador de São Paulo mora e trabalha no Palácio dos Bandeirantes, tem um palácio no Horto Florestal, em São Paulo, tem outro palácio em Campos do Jordão. Para que? Para nada.

The British way

O primeiro-ministro britânico mora e trabalha numa casa em Downing Street, 10. A casa foi um presente do rei George 2º a seu principal ministro, Robert Walpole, por bons serviços prestados. Walpole aceitou o presente, desde que não fosse algo pessoal: a casa seria utilizada por quem quer que ocupasse o cargo.

Curiosidade

As notas Hotel da Sucessão; Economizar, Jamais; e The British Way foram publicadas originalmente em 2013, há quase oito anos. O mundo gira e o Brasil fica parado. O que acontece de novo é ainda pior: o Governo fica sossegado enquanto 250 mil pessoas morrem de Covid, mas se movimenta para, usando incontáveis e sólidos argumentos, ganhar o apoio do Centrão. Corte de despesas? Houve algum em qualquer dos três Poderes, excetuando os inúmeros cortes das 700 toneladas de picanha para a turma lá de cima?

O esperto

Daniel Silveira só agora está descobrindo que vai pagar sozinho por sua cafajestada. Está preso, Bolsonaro está quieto, seus colegas de Câmara estão preparando uma lei pela qual deputado não possa ir para a cadeia. Só ele.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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