Com Braga Netto na Defesa, Bolsonaro busca o que não conseguiu com Azevedo e Silva: apoio para o golpe

 
O currículo do general da reserva Walter Braga Netto, novo ministro da Defesa, é considerável, mas a nota emitida pelo antecessor, o também general da reserva Fernando Azevedo e Silva, causa preocupação.

Na nota, divulgada logo após a entrega do pedido de demissão ao presidente da República, Azevedo e Silva afirma que, ao longo dos mais de dois anos à frente da pasta, “preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”. Quem conhece os bastidores do poder e as entranhas do totalitarismo sabe que o ex-ministro resistiu às investidas de Jair Bolsonaro para um alinhamento das Forças Armadas ao governo e ao bolsonarismo.

Muito além desse detalhe, que é extremamente preocupante, a saída de Fernando Azevedo e Silva, que no comando da Defesa cumpriu o que determina a Constituição Federal, foi motivada pelo não apoio das forças militares ao Estado de sítio que Bolsonaro defende para fazer contraponto aos governadores que adotaram medidas restritivas para conter o avanço da Covid-19 no País.

A ideia de Jair Bolsonaro era usar os militares para pressionar o Congresso Nacional e conseguir a aprovação de um Estado de exceção, que suspende as garantias dos cidadãos e dá ao presidente da República plenos poderes. A tentativa de Bolsonaro de dar um “cavalo de pau” na democracia foi antecipada pelo UCHO.INFO nas edições de 19 e 22 de março. Na ocasião, ciente de que o monumental fracasso no combate à pandemia do novo coronavírus poderia lhe ceifar a chance de reeleição, o presidente afirmou “o caos vem aí”.

Pressionado por conta de mais um arreganho totalitarista, Bolsonaro tentou amainar o discurso alegando que qualquer eventual medida seria tomada de acordo com o que reza a Carta Magna, mas não convenceu.

A exemplo do que mencionou na nota sobre seu pedido demissão, Fernando Azevedo e Silva tentou convencer Bolsonaro de que as Forças Armadas são instituições de Estado, não de governo, mas o presidente estava decidido a levar adiante seu plano de golpe.

Desde a campanha presidencial de 2018, este portal alerta para o perigo de Bolsonaro atentar contra a democracia, previsão que nos rendeu ataques e ofensas das mais diversas, mas agora começa a se confirmar para o desespero dos cidadãos de bem.

 
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Em maio de 2020, quando apoiada pelo presidente da República a milícia bolsonarista saiu às ruas para pedir intervenção militar e o fechamento do Supremo Tribunal federal (STF) e do Congresso Nacional, Azevedo e Silva sobrevoou a Praça dos Três Poderes ao lado de Bolsonaro e recebeu críticas da imprensa, inclusive deste noticioso. Hoje, com a nota do ex-ministro percebe-se que sua permanência à frente do Ministério da Defesa salvou a democracia brasileira de um eventual golpe.

O novo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, é conhecido como um obediente cumpridor de ordens. Tanto é assim que seu mantra é “missão dada, missão cumprida”. E Braga Netto não mede esforços para cumprir uma ordem, mesmo que para isso precise ultrapassar as fronteiras do bom-senso. Na hierarquia da caserna, o comando das tropas militares é de responsabilidade dos coronéis, que têm profundo respeito por Walter Braga Netto.

Com a dança de cadeiras ocorrida nesta segunda-feira (29) instalou-se no cerne do governo Bolsonaro uma tríade que representa grave ameaça à democracia e ao Estado de Direito – Braga Netto, Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno, todos generais da reserva. Se por um lado Braga Netto é cumpridor de ordens, Luiz Eduardo Ramos, agora na Casa Civil, tem relação de cumplicidade com o novo ministro da Defesa, ao mesmo tempo em que atua como conselheiro de Bolsonaro. Na outra ponta do tripé está o chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), Augusto Heleno, que já deixou claro em diversas ocasiões que não morre de amores pela democracia.

Resta saber com que tipo de apoio militar Jair Bolsonaro pretende levar adiante seu projeto totalitarista. A maioria dos coronéis do Exército dedica respeito incondicional a Braga Netto, o que não significa endosso para um autogolpe. Resumindo, não foi por falta de aviso que o Brasil chegou a essa perigosa situação.

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