Morte do bailarino e coreógrafo Ismael Ivo, vítima de Covid-19, tira dos palcos um gênio da dança

 
Morreu na noite desta quinta-feira (8) o bailarino e coreógrafo brasileiro Ismael Ivo, aos 66 anos, em decorrência de complicações da Covid-19. Reconhecido internacionalmente, ele estava internado no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

A assessoria de Ismael Ivo informou que o artista estava internado há um mês e chegou a ser intubado na UTI. O coreógrafo apresentou melhoras e foi transferido para um quarto da unidade hospitalar, mas seu quadro piorou na madrugada de quinta-feira. Ivo havia sofrido dois acidentes vasculares cerebrais (AVCs) em junho de 2020 e se recuperado sem sequelas.

De origem humilde, tendo nascido e crescido na Zona Leste de São Paulo, onde foi criado pela mãe, que era empregada doméstica, Ismael Ivo conseguiu bolsas de estudos em escolas de dança e atuou como dançarino solo no Brasil. Ele brilhou no exterior, tendo atuado nos Estados Unidos e depois na Europa por mais de três décadas.

Em 1983, ele foi descoberto pelo coreógrafo americano Alvin Ailey durante apresentação na Bahia, que o convidou para atuar em Nova York. Na cidade, Ivo trabalhou como coreógrafo e dançarino. Em 1984, uma apresentação solo do brasileiro foi resenhada no “The New York Times”, que destacou sua forte presença no palco.

Mais de três décadas na Europa

Após Nova York, Ivo mudou-se para Viena, onde foi um dos fundadores, em 1984, do ImpulsTanz, que se tornaria um dos maiores festivais de dança da Europa.

Entre 1999 e 2004, Ivo trabalhou com a famosa bailarina e coreógrafa brasileira Márcia Haydée, como parceiro em obras conjuntas e em criações para grupos mundo afora. Ele também trabalhou em projetos conjuntos com grandes nomes como Marina Abramovic e Heiner Müller.

Na Alemanha, Ismael Ivo foi diretor da companhia de dança no Teatro Nacional Alemão de Weimar entre 1996 e 2005, tendo sido o primeiro negro e o primeiro estrangeiro a exercer a função.

 
Outro ponto alto de sua carreira foi a direção da seção de dança da Bienal de Veneza, cargo que exerceu entre 2005 e 2012. Além disso, o coreógrafo introduziu os Leões de Ouro na categoria dança.

Desde 2017, o dançarino dirigia o Balé da Cidade de São Paulo, tendo sido o primeiro negro a ocupar o posto. Em 2010, ele foi condecorado com a Ordem do Mérito Cultural no Brasil.

Na Enciclopédia Itaú Cultural, Ivo é descrito como um artista com carreira de projeção. Suas criações eram marcadas por caráter expressionista e ele preocupava-se em “construir suas obras com base em memórias e experiências pessoais”.

Repercussão da morte

A morte de Ismael Ivo causou comoção nas redes sociais. No Twitter, o governador de São Paulo, João Doria, lamentou a perda, descrevendo Ivo como “um dos maiores coreógrafos contemporâneos”.

Alê Youssef, secretário de Cultura de São Paulo, disse ao portal G1 que Ivo “teve uma carreira brilhante na arte e marcou uma geração da dança nacional e internacional”.

O jurista e filósofo Silvio Almeida, autor do livro “Racismo Estrutural”, escreveu: “Hoje o Brasil perdeu para a covid-19 Ismael Ivo, um dos maiores artistas da nossa história. Foi diretor do Balé da Cidade de São Paulo, Diretor da Bienal de Viena e do Teatro Nacional Alemão. Que nossos ancestrais o recebam em festa.”

Na Alemanha, Christian Holtzhauer, diretor no Teatro Nacional de Mannheim, descreveu no Twitter a morte de Ivo em consequência da Covid-19 como inacreditável. (Com agências de notícias)

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