Irritado com decisão do STF que determinou instalação de CPI, Bolsonaro mostra-se dissimulado e covarde

 
Como informou o UCHO.INFO em matéria publicada na noite de quinta-feira (8), a decisão liminar do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), de determinar ao Senado a instalação da CPI da Covid impôs ao presidente Jair Bolsonaro um duro e amargo revés, que continua insistindo no negacionismo e na irresponsabilidade genocida.

Visivelmente irritado, Bolsonaro, em conversa com apoiadores que se aglomeravam em frente ao Palácio da Alvorada, nesta sexta-feira (9), disse que “falta coragem moral” ao ministro do Supremo.

“Pelo que me parece, falta coragem moral para o Barroso e sobra ativismo judicial”, disse o presidente. Em rede social, Bolsonaro escreveu: “Falta-lhe coragem moral e sobra-lhe imprópria militância política.”
Inconformado com a decisão, Bolsonaro apelou ao jogo rasteiro e continuou atacando o ministro do STF, que, provocado por senadores, apenas fez valer o que estabelece o regimento interno do Senado.

“Barroso, nós conhecemos teu passado, a tua vida, o que você sempre defendeu, como chegou ao Supremo Tribunal Federal, inclusive defendendo o terrorista Cesare Battisti. Então, use a sua caneta para boas ações em defesa da vida e do povo brasileiro, e não para fazer politicalha dentro do Senado”, disparou o presidente.

Jair Bolsonaro é um néscio assumido que ao longo de 28 anos como deputado federal não se dignou a ler por inteiro a Constituição Federal, que garante a qualquer cidadão o direito à ampla defesa, ao contraditório e ao devido processo legal. Não importa se Battisti foi julgado no Brasil por atos considerados terroristas e cometidos na Itália, pois os direitos constitucionais prevalecem em qualquer situação.

Em entrevista à rede de televisão CNN Brasil, na noite de quinta-feira, o presidente destilou mais vez seu inconformismo ao atacar o magistrado, que em sua decisão teve o apoio da maioria dos integrantes da Corte.

“Agora, no Senado, tem pedido de impeachment de ministro do Supremo. Eu não estou entrando nesta briga, mas tem pedido. Será que a decisão não tem que ser a mesma também, para o Senado botar em pauta o pedido de impeachment de ministro do Supremo?”, questionou Bolsonaro.

Nesta sexta-feira, em diálogo com apoiadores, o presidente voltou a cobrar a abertura de pedidos de impeachment contra magistrados. “Se tiver moral, um pingo de moral, ministro Barroso, mande abrir o processo de impeachment contra alguns dos seus companheiros do Supremo Tribunal Federal”, disse.

 
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Sobre a instalação da CPI da Covid, Bolsonaro preferiu ignorar a Carta Magna e defender a união dos Poderes constituídos na busca de soluções para conter a pandemia no País, como se o governo até o momento tivesse atuado de maneira exemplar. Não fosse os governadores e prefeitos a enfrentar o novo coronavírus, o número de mortos já teria ultrapassado a barreira dos 500 mil.

“Não está na hora de, em vez de ficar procurando responsáveis, unir Supremo, Legislativo, Executivo para a busca de soluções? O que que vai levar a abertura da possível CPI? As provas que estamos no caminho certo, que fizemos tudo o possível estão aí”, completou.

Bolsonaro vive em um mundo paralelo e recorre a lampejos de coerência de acordo com a necessidade. Sempre crítico das medidas para conter o avanço da pandemia de Covid-19, o presidente agora surge em cena com a capa do falso bom-mocismo, como se a opinião pública ignorasse a inoperância do governo diante da mais grave crise sanitária dos últimos cem anos.

Ademais, afirmar que há provas de que o governo atua de maneira assertiva no combate à Covid-19 é demonstração clara de esquizofrenia ou de desvio de caráter.

A apoiadores, nesta sexta-feira, o presidente retomou o ilusionismo discursivo ao sugerir que os ministros da STF fecham os olhos para os recursos públicos destinados ao combate à pandemia e desviados por governadores.

“Eles não querem saber do que aconteceu com os bilhões desviados por alguns governadores e alguns poucos prefeitos também”, declarou o chefe do Executivo.

Caso tenha provas de eventuais desvios cometidos por governadores no escopo da pandemia, o presidente da República tem o dever legal de requerer investigação, já que são federais os recursos repassados aos estados. Ao não agir como determina a lei, Bolsonaro incorre em crime de responsabilidade e prevaricação.

Bolsonaro sabe que a CPI da Covid mostrará ao País a extensão da irresponsabilidade das autoridades federais no âmbito do combate à pandemia, o que provocou dezenas de milhares de mortes que teriam sido evitadas se fossem seguidas as recomendações dos cientistas.

Até recentemente, a doença causada pelo novo coronavírus era, na opinião do presidente da República, “gripezinha”, “resfriadinho” e “coisa de marica e de frouxos”. Agora, com a CPI batendo à porta do Palácio do Planalto, Bolsonaro diz que o País “não precisa de conflitos”. Em suma, o causador-mor de conflitos agora mostra-se covarde.

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