Somente com investimentos na Educação o Brasil conseguirá vencer as mazelas da pandemia, por Waldir Maranhão

 
(*) Waldir Maranhão

Enquanto a classe política discute, em Brasília, a instalação da CPI da Covid, cujo objetivo é investigar a atuação do governo federal no combate à pandemia do novo coronavírus, a crise sanitária continua avançando e produzindo estragos nos mais distintos segmentos.

Além disso, a queda de braços que se formou no entorno do Orçamento de 2021, aprovado com pelo menos três meses de atraso e ainda dependendo de sanção presidencial, produz efeitos colaterais em vários setores. A briga no campo do Orçamento está centrada no montante de R$ 20 bilhões destinado às emendas parlamentares.

No momento em que o País necessita de medidas urgentes, responsáveis e certeiras para minimizar as dificuldades enfrentadas pela população, a começar pela insegurança alimentar de mais da metade dos brasileiros, discutir recursos públicos adicionais destinados a emendas parece absurdo, ao mesmo tempo em que representa um deboche com os mais necessitados.

Faço menção à fala do deputado federal Samuel Moreira (PSDB-SP), relator da reforma da Previdência, que alertou para a inexequibilidade do Orçamento de 2021, que para contemplar emendas parlamentares reduziu o valor das verbas destinadas à saúde. Ou seja, o caos tende a aumentar.

A energia empregada por parlamentares e integrantes do governo na discussão em torno do Orçamento poderia ser revertida para iniciar a um debate sobre a tributação de grandes fortunas, que, tudo indica, parece assunto proibido entre políticos e endinheirados. Trata-se, na verdade, do único caminho seguro para garantir a cada cidadão os direitos fundamentais definidos pela Constituição de 1988.

Se por um lado dezenas de milhares de famílias choram a perda de entes queridos, o que é lamentável, por outro a pandemia aumenta a crise social, que se tornou visível a todos os cidadãos com o advento da Covid-19, e provoca a deterioração da educação pública, da qual dependem legiões de jovens brasileiros que em breve decidirão o futuro do País. Em outras palavras, o horizonte se fecha para os mais vulneráveis.

É importante que a educação pública brasileira dê um salto de qualidade em termos de conteúdo, mas também no setor de tecnologia. É necessário trazer ao mundo digital a experiência bem-sucedida do ensino à distância no modelo TV Escola, proporcionando oportunidades a alunos e professores. Para isso é preciso investimento público no setor.

Como já citado, a distância entre as classes sociais no Brasil tornou-se mais acentuada com a pandemia, cenário que certamente demandará muito tempo para retornar ao status pré-Covid, que, destaco, não era dos melhores, pelo contrário.

Gostem ou não os mais céticos, qualquer medida que vise a recuperação sustentável da economia e o desenvolvimento do País deve obrigatoriamente passar pela educação, sem a qual não se pode planejar o amanhã. A pandemia abriu as porteiras para que a fome avançasse sobre milhões de lares e impulsionasse o desemprego, mas também escancarou o quadro caótico que vive a educação pública brasileira.

Ao longo dos últimos 12 meses, milhões de jovens perderam a oportunidade de aprender por questões que envolvem tecnologia e investimento público nos estabelecimentos de ensino que garanta uma infraestrutura mínima. O que se viu nesse período foi o retrato de um descaso que há décadas deteriora a educação pública nacional, sugerindo que tal realidade não fosse de responsabilidade do Estado.

Todo homem público bem intencionado e comprometido com o futuro do País tem a obrigação de lutar por melhorias na educação. O primeiro passo, mesmo que tardio, deve ser a disponibilização de acesso à internet para escolas, professores e alunos. Ao mesmo tempo, é preciso garantir que cada estudante consiga participar de aulas remotas, sob pena de o aprendizado ficar comprometido. Não apenas na parte social, mas também na educação há uma distância criminosa entre ricos e pobres. Isso significa desperdiçar talentos fadados ao esquecimento em razão da inoperância do Estado.

Outro ponto de vulnerabilidade da educação envolve pesquisadores, que por razões diversas – de cortes no orçamento a questões ideológicas – tiveram subsídios reduzidos ou retirados. Não se pode falar de nação sem se preocupar com a ciência. A pandemia do novo coronavírus mostrou a importância do apoio financeiro a pesquisas e pesquisadores, muitos dos quais, por conta do inegável talento, foram cooptados por outros países.

Ainda no campo da ciência, questões ideológicas têm impedido que importantes trabalhos científicos sigam o curso natural ou até mesmo possam ser publicados em reconhecidos meios da comunidade científica. Não é o caso de pender para a direita ou para a esquerda, mas de cobrar dos governantes reponsabilidade e espírito democrático na aplicação de recursos públicos na educação como um todo.

Se nos dias atuais renomados cientistas brasileiros enfrentam dificuldades por causa de temas relacionados à ideologia, em pouquíssimo tempo esse problema não mais existirá, pois a demonização do meio acadêmico fará com que cientistas sumam do mapa. É esse o Brasil que sonhamos e queremos?

(*) Waldir Maranhão – médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.


Se você chegou até aqui é porque tem interesse em jornalismo profissional, responsável e independente. Assim é o jornalismo do UCHO.INFO, que nos últimos 20 anos teve participação importante em momentos decisivos do País. Não temos preferência política ou partidária, apenas um compromisso inviolável com a ética e a verdade dos fatos. Nossas análises políticas, que compõem as matérias jornalísticas, são balizadas e certeiras. Isso é fruto da experiência de décadas do nosso editor em jornalismo político e investigativo. Além disso, nosso time de articulistas é de primeiríssima qualidade. Para seguir adiante e continuar defendendo a democracia, os direitos do cidadão e ajudando o Brasil a mudar, o UCHO.INFO precisa da sua contribuição mensal. Desse modo conseguiremos manter a independência e melhorar cada vez mais a qualidade de um jornalismo que conquistou a confiança e o respeito de muitos. Clique e contribua agora através do PayPal. É rápido e seguro! Nós, do UCHO.INFO, agradecemos por seu apoio.