Se há no almoxarifado da política brasileira produtos sempre em falta, a coerência certamente é a primeira da lista. Afinal, cobrar coerência dos atores políticos é a mais hercúlea das tarefas, talvez seja missão impossível.
Dando claro e repetidos sinais de que sentiu o “golpe” da CPI da Covid, que funcionamento no Senado Federal, o presidente Jair Bolsonaro retomou o jogo sujo e o discurso rasteiro para atacar o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator das investigações que apuram as omissões do governo central no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.
Menos de 24 horas após o filho “01”, senador Flávio Bolsonaro, sair em defesa do ex-secretário de Comunicação da Presidência e chamar o senador alagoano de “vagabundo”, o presidente da República fez eco ao ataque descabido ao emedebista.
Nesta quinta-feira (13), durante evento de inauguração de casas na capital alagoana, Bolsonaro ao discursar para uma plateia de aluguel atacou Calheiros, sem citar o nome do parlamentar, chamado de “picareta” e vagabundo”. O presidente, o falso valentão que costumeiramente recorre à covardia, ignorou a omissão criminosa do governo no âmbito da pandemia e disparou: “Sempre tem algum picareta, vagabundo, querendo atrapalhar o trabalho daqueles que produzem. Se Jesus teve um traidor, temos um vagabundo inquirindo pessoas de bem no nosso país. É um crime o que vem acontecendo nessa CPI.”
A pusilanimidade de Jair Bolsonaro é tamanha, que ao ver-se acuado politicamente passa a invocar o nome de Deus, como se o País desconhecesse seu perfil luciferiano. Como cidadão, Bolsonaro tem o direito à livre manifestação do pensamento, podendo, inclusive, faltar com a verdade, mas na condição de chefe do Executivo não pode mentir. Afirmar que a CPI está a atrapalhar que produz é no mínimo hilário.
Desde que tomou posse na Presidência até hoje, o máximo que Bolsonaro conseguiu produzir foi confusões, ameaças e intimidações que ficaram circunscritas ao discurso tosco e bravateiro. A economia, que já não era boa antes da pandemia, piorou muito durante a crise sanitária, as disparidades sociais tornaram-se maiores e mais evidentes, mas Bolsonaro se preocupa com churrascos com carne ao preço de R$ 1,2 mil o quilo (na promoção).
Não se trata de gostar ou desgostar de Renan Calheiros, mas quem não conhece o relator da CPI da Covid pode imaginar que ataques intimidatórios podem lograr êxito. Quanto mais Renan for atacado, mais evidente ficará o desespero que tomou conta de Bolsonaro e de boa parte da cúpula do governo.
Além disso, como preconiza a terceira Lei de Newton, “a toda ação corresponde a uma reação de igual intensidade, mas que atua no sentido oposto. Isso significa que a resposta aos ataques chulos de Bolsonaro virá com o aprofundamento das investigações no escopo da CPI. Como afirmamos em matéria anterior, o esperado depoimento de Eduardo Pazuello, agendado para 19 de maio, pode se tornar desnecessário diante do que já foi revelado até agora na CPI.
Voltando à escassez de coerência… Se Renan Calheiros é de fato “picareta” e “vagabundo”, como disse o presidente da República, deve ser classificada como hipocrisia a tentativa de Bolsonaro de se aproximar do senador alagoano no afã de minimizar os estragos provocados pela CPI. Ao buscar contato com Calheiros, o presidente recorreu, sem sucesso, a José Sarney, a Rodrigo Pacheco (presidente do Senado) e a Renan Filho (governador de Alagoas).
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