O Brasil precisa mudar com consciência e responsabilidade, retroceder jamais

 
(*) Waldir Maranhão

A atividade política vai muito além do que acredita e consome a extensa maioria da população. Seguidamente a política emite sinais, os quais devem ser interpretados de forma constante e parcimoniosa, pois só assim é possível avaliar a realidade, prever o próximo passo e evitar equívocos.

Como já afirmei em artigos anteriores, o país passa por um momento político turbulento, o que exige atenção redobrada de todos, já que a jovem democracia brasileira está ameaçada.

Em hipótese alguma deve-se encarar os delírios totalitaristas do presidente da República como meros discursos estabanados e com endereço certo, para seus apoiadores. Na verdade, o objetivo dessas manifestações antidemocráticas é empurrar o Brasil na direção do retrocesso e do obscurantismo.

A economia nacional encontra-se em estado cambaleante, sem que o governo consiga desatar o nó que estrangula a sobrevivência do cidadão. O desemprego não para de crescer, assim como a inflação, que quando analisada de perto, no universo cotidiano, é muito maior do que as análises e projeções oficiais despejam sobre a opinião pública.

A saúde transformou-se em verdadeiro pandemônio por causa não apenas da pandemia, mas também e principalmente pela incapacidade do governo de gerir uma crise sanitária que já tirou a vida de mais de 450 mil brasileiros e brasileiras. E sem cerimônia caminha para a assustadora marca de 500 mil mortes.

Aceitar passivamente um cenário que se assemelha ao genocídio é irresponsabilidade, falta de compromisso com o próximo, com si mesmo, é antipatriotismo. Afinal, a pandemia não tem filtro seletivo, bate à porta de qualquer um.

Abandonar a população à beira da estrada da pandemia é no mínimo crime contra a humanidade. Dezenas de milhares de vidas teriam sido poupadas se o governo tivesse agido com responsabilidade e à sombra de um planejamento. Nada disso ocorreu, pelo contrário. Criou-se no Palácio do Planalto um gabinete paralelo repleto de negacionistas convictos, os quais passaram a decidir o futuro de uma nação devorada por um inimigo desconhecido, versátil e implacável.

Quatorze meses depois do início da pandemia o governo decide fazer testagem em massa para o coronavírus, algo que por enquanto está somente no campo do discurso. Quatorze meses depois do início da pandemia o governo avalia a possibilidade de adotar barreiras sanitárias em portos e aeroportos. Quatorze meses depois do início da pandemia o governo continua defendendo o “tratamento precoce” e o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra o vírus.

Como se fossem milagreiros profissionais, integrantes do governo tentam transformar um anti-protozoário em antiviral. Talvez esses seres de outro mundo creem que o pensamento obtuso é a chave do sucesso.

O presidente Jair Bolsonaro insiste em ser do contra porque nada tem a mostrar em termos de realizações, mesmo que seus descontrolados apoiadores consigam enxergar o que inexiste.

Ao ser do contra – tudo e todos – o presidente alimenta o fanatismo de seus fiéis seguidores, o que de certa maneira lhe dá a falsa sensação de poder, ao mesmo tempo em que abre caminho para novos absurdos, novos descontroles.

A polêmica envolvendo o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, escancara a o grave furdunço institucional que vive o país, sem perspectiva de solução no curto prazo. Isso porque se o general Pazuello for punido como manda o regramento da caserna, o presidente da República sairá desmoralizado. Se o general for poupado, abre-se uma perigosa crise nas Forças Armadas.

Desafiar o óbvio e açoitar o bom-senso é a receita de Bolsonaro para fazer política e governar o Brasil, país que está cada vez mais isolado no cenário internacional.

Ninguém pode afirmar que desconhecia o viés incendiário do presidente da República, pois durante quase três décadas como parlamentar ele revelou sua essência por onde passou. Antes disso, como militar acabou expulso do Exército sob o rótulo de “mau soldado”, segundo o então presidente Ernesto Geisel.

Bolsonaro só sabe existir na frequência da dissonância, recorrendo a ataques rasteiros, desrespeitando a liturgia do cargo. Acredita ser o último dos gênios quando se aproxima do “quadradinho” montado na saída do Palácio da Alvorada, onde as vedetes do bolsonarismo disparam impropérios e se entregam à tietagem.

O Brasil não pode continuar refém da miopia política, do totalitarismo, das seguidas ameaças à democracia, do populismo barato que aciona a alavanca da insegurança jurídica.

O Brasil precisa olhar para frente, seguir em frente. De nada adianta continuar sendo o país do futuro apenas no discurso, enquanto caminha para trás em passo acelerado.

Muitos dirão que estou a defender o óbvio, mas o agora exige tal postura dos homens públicos que têm compromisso com o país e com o povo. Aproveito para citar o dramaturgo alemão Bertolt Brecht, que certa vez disse: “Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio?”.

Diferentemente do que muitos estão a pensar, não sou do contra, apesar de discordar do que estamos vivendo em termos de país, de política, de futuro. Sou a favor do Brasil, da minha terra natal, o Maranhão, dos brasileiros, dos meus conterrâneos, os bravos e corajosos maranhenses.

Como profetizou o grande Mahatma Gandhi, “diferendos honestos são muitas vezes um sinal saudável de progresso.”

É preciso mudar, é chegada a hora!

(*) Waldir Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.

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