Logo no início do mandato presidencial, Jair Bolsonaro acionou a alavanca do proselitismo barato e passou a falar em “velha política”, como forma de continuar ludibriando a parcela da sociedade que lhe confiou votos nas urnas de 2018.
Como sempre afirmamos, Bolsonaro, populista e boquirroto, é o que se conhece no meio político como “mais do mesmo”. Sem até o momento ter feito algo em prol do País e dos brasileiros, o presidente tem se dedicado ao longo dos últimos dois anos a levar adiante um projeto de reeleição que derrete cada vez mais.
O discurso do presidente contrário ao “toma lá, dá cá”, que domina a política nacional, é uma falácia monumental para manter de pé a imagem de probidade de um governo que chafurda na lama da corrupção. Os escândalos envolvendo negociações para a compra de vacinas contra Covid-19 não deixam dúvidas a respeito do tema.
Deputado federal pelo PP do Paraná e líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, um dos “caciques” do Centrão, bloco parlamentar que troca apoio político por cargos e outras benesses, está no olho do escândalo da compra da Covaxin, vacina contra o novo coronavírus fabricada pela farmacêutica indiana Bharat Biotech.
O deputado federal Luís Cláudio Miranda (DEM-DF) e seu irmão Luís Ricardo, servidor do Ministério da Saúde, informaram a Bolsonaro, em 20 de março, sobre a existência de esquema de corrupção na pasta para a aquisição de vacinas contra Covid-19. Imediatamente, segundo Luís Cláudio, o presidente da República responsabilizou Barros pelo que chamou de “rolo”.
O contrato para a compra da Covaxin, imunizante que ainda não tem autorização da Anvisa, é de R$ 1,6 bilhão (recursos empenhados) e exigia pagamento antecipado no valor de US$ 45 milhões a uma empresa com sede em Cingapura.
Ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, indicado ao posto pelo líder do governo, foi exonerado na última terça-feira (29) logo após novo escândalo vir à tona. Dias foi acusado de cobrar R$ 2 bilhões em propina para que a empresa norte-americana Davati Medical Supply fornecesse ao governo brasileiro 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca.
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Antes da pandemia, a Davati Medical atuava no ramo de construção civil nos EUA, mas viu na crise sanitária global uma oportunidade para lucrar em setor distinto. A empresa é investigada no Canadá por oferecer vacinas a comunidades indígenas locais.
Em outubro de 2020, o então ministro Eduardo Pazuello tentou demitir Ferreira Dias do comando do Departamento de Logística da pasta, mas foi impedido pelo Palácio do Planalto em razão de pressão política exercida pelo Centrão, mais precisamente do PP e de Ricardo Barros.
Quase dois meses após ter sido informado do esquema de corrupção na Saúde e insinuado que Ricardo Barros era responsável pelo imbróglio, o presidente da República não apenas se reuniu algumas vezes com o líder do governo na Câmara dos Deputados, mas nomeou sua esposa, Cida Borghetti, ex-governadora do Paraná, ao conselho da binacional Itaipu, cargo que rende salário mensal bruto de R$ 27 mil e outros mimos.
Beira a irresponsabilidade o governo negociar a compra de vacinas com uma empresa que não é do ramo e muito menos tinha as doses oferecidas. O escárnio torna-se ainda maior quando considerado o fato de o governo brasileiro ter adquirido diretamente da AstraZeneca lotes da vacina, sem conter que a Fiocruz tem acordo para a produção do imunizante no Brasil.
Não apenas esses escândalos mostram que a “velha política” continua dando as curtas no governo Bolsonaro. Integrante da tropa de choque do governo na CPI da Covid, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) reage com descontrole verbal quando a ameaça começa a rondar o Palácio do Planalto.
Defensor do chamado tratamento precoce, em especial da cloroquina, Marcos Rogério não age como “cão de guarda” do presidente da República por questões de convicção ou ideologia. No tabuleiro do escambo político, o senador rondoniense se movimenta com destreza. Em junho de 2020, como se em passe de mágica, a engenheira Andréia Schmidt foi nomeada para cargo em comissão na assessoria de Efraín Cruz, diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Coincidência ou não, Andréia Schmidt é ex-esposa de Marcos Rogério, que à época da indicação presidia a Comissão de Infraestrutura do Senado Federal, a quem cabe aprovar ou rejeitar as indicações para a diretoria da Aneel.
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