Como anunciado largamente pela imprensa – também pelo UCHO.INFO –, o presidente Jair Bolsonaro participou nesta terça-feira (10) de um desfile que reuniu dezenas de blindados e outros veículos militares em frente ao Palácio do Planalto. O evento teve caráter intimidatório, uma vez que o presidente tenta impor suas vontades à força e para tal usa a imagem das Forças Armadas como acessório.
Bolsonaro assistiu ao comboio do alto da rampa do Palácio Planalto, ao lado dos três comandantes das Forças Armadas e de diversos ministros, incluindo Walter Braga Netto (Defesa), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Ciro Nogueira (Casa Civil) e Anderson Torres (Justiça). Nenhum deles usava máscara de proteção contra o novo coronavírus.
A parada militar começou por volta de 8h30 (horário de Brasília) e durou cerca de dez minutos, reunindo, além de blindados, jipes, tanques e caminhões. Durante o desfile, um militar vestido com traje de combate desceu de um dos veículos e entregou ao presidente um convite para o treinamento de militares da Marinha programado para este mês na cidade de Formosa, em Goiás.
Em mensagem publicada nas redes sociais na segunda-feira, Bolsonaro explicou que a tropa viria do Rio de Janeiro para o exercício militar na cidade goiana e, portanto, passaria por Brasília. Na postagem, em meio à polêmica causada pelo desfile militar, o presidente convidou os presidentes do Legislativo e do Judiciário, entre outras autoridades do País, para assistir ao comboio. Nenhum dos convidados compareceu, exceto o ministro Ives Gandra Martins Filho, do Tribunal Superior do Trabalho (TST).
A parada militar foi alvo de críticas de parlamentares por ocorrer no mesmo dia em que a Câmara dos Deputados deve votar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso, amplamente defendida por Bolsonaro. Alguns deputados e senadores viram o desfile de blindados como uma tentativa de intimidação, ainda mais por ocorrer em momento de tensão entre os três Poderes.
A PEC foi rejeitada por uma comissão especial da Câmara na última semana, mas o presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), decidiu levar a proposta ao plenário. A maioria dos partidos já apontou votará contra o texto, sendo que o próprio presidente da República já reconheceu uma possível derrota.
Um dos líderes do Centrão, bloco parlamentar que tem o governo como refém, Lira disse que o fato de o desfile ocorrer no mesmo dia da votação na Câmara foi uma “trágica coincidência’”.
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Reação de parlamentares
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e a deputada Tabata Amaral (sem partido-SP) tentaram impedir a passagem do comboio militar junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas a ação acabou sendo rejeitada, pois o ministro Dias Toffoli entendeu que o caso deveria ser analisado pelo STJ.
“É um absurdo gastar recursos públicos em uma exibição vazia de poderio militar. As Forças Armadas, instituições de Estado, não precisam disso. Os brasileiros, sofrendo com as consequências da pandemia, também não precisam. O Brasil não é um brinquedo à disposição de lunáticos”, afirmou Vieira.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, Humberto Costa (PT-PE), também repudiou o ato, classificado por ele como demonstração de força de Bolsonaro para tentar pressionar e intimidar os deputados que votarão a PEC do voto impresso nesta terça-feira.
“Queria manifestar o meu repúdio ao presidente da República, que em vez de estar preocupado em cuidar do país, está preocupado em cercar o Congresso Nacional e, com isso, tentar intimidar os parlamentares na votação de um tema que é simples, é parlamentar, é da legislação, e está sendo transformado numa espécie de pretexto para demonstrações desse tipo, e quiçá até tentativas de golpe no nosso país”, disse Costa na segunda-feira, em reunião da comissão.
O desfile militar comprovou a fraqueza política de um governante que diuturnamente flerta com o autoritarismo e tenta, sem sucesso, justificar um eventual fracasso de seu projeto de reeleição. Por outro lado, o evento serviu para Bolsonaro manter atuante a sua base de insanos apoiadores, que há muito ameaça a democracia e o Estado de Direito.
O treinamento militar da Marinha ao qual Bolsonaro foi convidado durante o desfile, conhecido como Operação Formosa, acontece todos os anos na cidade goiana próxima a Brasília, desde 1988. É de praxe o presidente da República ser convidado, mas é inédita a realização de uma parada militar para a entrega do convite. (Com agências de notícias)
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