Brasil volta a registrar inflação de dois dígitos; Guedes deveria cair por isso, não por causa de offshore

 
O Brasil voltou a registrar inflação na casa dos dois dígitos, com o maior índice para o mês de setembro observado desde os primórdios do Plano Real, em 1994.

A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou de 0,87% em agosto para 1,16% em setembro, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No acumulado de doze meses, a inflação chegou a 10,25%, ficando acima de dois dígitos, algo que não ocorria há mais de cinco anos. Este também é o maior índice anual registrado desde fevereiro de 2016, quando chegou a 10,36%. O IPCA acumula alta de 6,9% no ano.

Mesmo com a alta, os números ainda ficaram aquém das estimativas. Projeções feitas por diversas instituições financeira apontavam avanço de 1,25%. O IPCA aumentou ainda a distância frente ao teto da meta de inflação perseguida pelo Banco Central, de 5,25% em 2021. O centro é de 3,75%.

Habitação e energia puxam alta

Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados acusaram alta em setembro. O maior impacto veio da habitação (0,41 ponto percentual), assim como a maior variação (2,56%), que acelerou 0,68% em relação a agosto. O motivo foi o aumento de 6,47% na conta de energia elétrica, que em 12 meses acumula alta de 28,82%.

Os demais grupos que tiveram fortes impactos foram os transportes (1,82%) e alimentação e bebidas (1,02%), com impactos de 0,38% e de 0,21%, respectivamente.

 
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Vários fatores contribuíram para a alta da inflação. Entre os principais estão a pandemia de Covid-19, a crise política gerada pelo governo Bolsonaro e a crise hídrica, com o acionamento das usinas termelétricas em razão da falta de chuvas, o que aumenta os custos da geração de energia.

O aumento da taxa básica de juros (Selic), por parte do Comitê de Política Monetária do Banco Central, mantém os preços num patamar elevando, enquanto o país lida com um alto índice de desemprego.

Olho da rua

Desde o último final de semana, quando foi divulgada a série de reportagens do “Pandora Papers”, veículos da grande imprensa nacional têm insistido na tese de que o ministro Paulo Guedes perdeu as condições de conduzir a economia do País em razão de offshore mantida no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas (BVI).

Guedes deveria ser apeado do cargo não por causa de uma offshore declarada às autoridades brasileiras – isso é o que o ministro e seus advogados afirmam –, mas pela tragédia econômica enfrentada pela grande maioria da população.

Diferentemente do que afirmam os tais veículos de comunicação, Paulo Guedes lucrou com a desvalorização do real frente ao dólar, mas na verdade o que o ainda ministro tem depositado em BVI continua sendo US$ 9,5 milhões. Se a política econômica do governo é pífia a ponto de a conversão cambial no caso em questão ter subido às alturas, é porque há algo errado no reino de Bolsonaro e seus quejandos.

A imprensa deveria questionar os motivos que levam um cidadão endinheirado a constituir uma empresa em paraíso fiscal, algo permitido pela legislação brasileira. Isso acontece porque o Brasil transformou-se em um manicômio tributário, no qual a carga de impostos representa um terço do Produto Interno Bruto (PIB), sem que o cidadão tenha a devida contrapartida do Estado.

O cenário para defender a queda de Paulo Guedes é formado por 14 milhões de desempregados, 19 milhões de pessoas driblando a fome, preços dos alimentos e da energia nas alturas, gasolina vendida a R$ 7 o litro, botijão de gás custando R$ 100, inflação oficial em 10% e o salário mínimo valendo R$ 1.100,00. Se a imprensa não consegue sobreviver sem manchetes sensacionalistas, o governo de Jair Bolsonaro é refém do populismo barato.

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