(*) Carlos Brickmann
Os dois primeiros colocados nas pesquisas nasceram lá pela metade do século passado, já foram presidentes e o último que botou a mão no fogo por qualquer dos dois ganhou o apelido de Capitão Gancho. Quando Francisco Alves, na época o mais famoso cantor do país, lançou a música de Haroldo Lobo e Marino Pinto em favor de Getúlio Vargas, O Retrato do Velho não precisou dizer o nome do candidato: só um se enquadrava na descrição do velhinho que já havia estado lá. “Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar/o sorriso do velhinho faz a gente trabalhar”. Hoje não tem jeito: a letra, adaptada aos tempos modernos, ou usa os defeitos do candidato para identificá-lo – e eles não vão gostar – ou vira só lembrança do século 20.
Um é o grosseirão de maus modos e linguagem de estrebaria, com quatro filhos que são zeros à esquerda, que pouco se importa com a morte dos outros, seja por tragédias naturais, como agora, seja por falta de vacinas. Uma letra adaptada: “o sorriso do velhinho é de a gente arrepiar”. Ou “eu já peguei o meu, da família não sairá/a aula eu já te dei, e tu não vais rachar?” Ou “Bota o Centrão do meu lado, outra vez/A ajuda do Centrão deixa a gente governar”. Dá galho.
E o outro candidato? Só um companheiro precisou devolver US$ 100 milhões, que tinha recebido de forma desburocratizada. Letra adaptada: “O retrato não é meu, o meu amigo é que vai botar”. Ou “Bota o retrato do velho outra vez/bota pra gente roubar”. Dá galho também.
A letra inteira
Em 1950, Getúlio Vargas, que tinha sido ditador de 1930 a 1945, quando foi deposto, queria voltar ao poder em eleições democráticas. Seu adversário, forte, era o brigadeiro Eduardo Gomes. Entre outros cuidados, Getúlio buscou astros da música para seu jingle: Haroldo Lobo e Marino Pinto, os compositores, e Francisco Alves, o cantor-ídolo. E saiu a marchinha, enorme sucesso (https://www.youtube.com/watch?v=eVgOODBrCMc):
Bota o retrato do velho outra vez/Bota no mesmo lugar
Bota o retrato do velho outra vez/Bota no mesmo lugar
O sorriso do velhinho faz a gente trabalhar
O sorriso do velhinho faz a gente trabalhar
Eu já botei o meu/E tu, não vais botar?
Eu já enfeitei o meu/E tu, não vais enfeitar?
O sorriso do velhinho faz a gente se animar
O sorriso do velhinho faz a gente se animar
Lembrança
Agora é hora de se lembrar de que teremos eleições em menos de nove meses – 2 de outubro é o primeiro turno. E o prazo para tirar o título de eleitor termina no dia 4 de maio. Quem perder o prazo não poderá votar na eleição.
Invertendo o jogo
A bancada do PT na Câmara Federal pediu à Presidência do Congresso a convocação de uma comissão que avalie o impacto das enchentes e analise a melhor maneira de reduzir os danos à população. Curioso: o então ministro Roberto Campos dizia que o resultado do trabalho de uma comissão em geral é ruim. Completava: “O camelo é um cavalo projetado por uma comissão”. Os parlamentares aprenderam que a melhor maneira de adiar uma decisão é formar uma comissão para avaliar o que fazer.
Mas as coisas mudam: hoje, uma comissão é muitas vezes a melhor forma de fazer as coisas andarem.
Boa notícia, má notícia
A boa notícia em primeiro lugar: a informação de que Bolsonaro não quis interromper suas férias e assumir o comando do socorro à Bahia, vítima das inundações, não tem nada a ver com desprezo aos nordestinos, aos baianos, nem mesmo ao governador petista, Rui Costa, que lhe faz oposição.
A má notícia é que Bolsonaro não quer mesmo é enfrentar problemas desse tipo, seja qual for o local em que ocorram: também não vai a Minas, igualmente vítima de inundações, e onde houve uma tragédia à parte, a morte de dez turistas que passeavam de barco e foram atingidos pelo desabamento de um paredão de rocha. O governador de Minas, Romeu Zema é do Novo e tem tido até um bom relacionamento com o presidente. Mas ir até lá significa trabalhar. Há até torresmos para engolir inteiros e provocar problemas, mas vamos convir que torresmo, por melhor que seja, é sempre mais barato que camarão.
Preparando a estreia
A sala de 400 metros quadrados destinada ao novo ministro do Supremo André Mendonça, antigo ministro da Justiça, já está sendo preparada para sua estreia, nos próximos dias: o primeiro objeto pessoal a ser levado para lá foi o Troféu D. Quixote de la Mancha, prêmio a quem defende a Justiça e a paz social, que lhe foi ofertado em 2019. Mendonça recebeu seu prêmio na mesma cerimônia que homenageou William Witzel, que na época iniciava seu mandato como governador do Rio (ficou pouco mais de um ano, sendo o primeiro governador do país a sofrer impeachment).
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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