Guerra de narrativas

(*) Gisele Leite

Em plena guerra de narrativas, a Rússia insiste em afirmar que só ataca alvos militares na Ucrânia, e o mundo assistiu estarrecido ao bombardeio a um complexo dotado de hospital infantil e maternidade situado na cidade portuária de Mariupol.

O que foi considerado um dos ataques mais violentos desde o início da invasão da Ucrânia. O chanceler russo afirmou que a Ucrânia estava desenvolvendo armas biológicas com o apoio dos EUA e, quando se negociava o famigerado corredor humanitário para permitir que civis saiam da Ucrânia. Segundo autoridades ucranianas já morreram cerca de 1.170 civis.

Enfim, há um genocídio em franco andamento naquele país. O governo ucraniano criou um site na internet para registrar as violações de direitos humanos, o que tipifica crimes de guerra praticados pelo invasor russo.

O referido material será encaminhado à Corte Europeia de Direitos humanos e ao Tribunal Penal Internacional (TPI). A OMS confirmou que ocorreram dezoito ataques às instalações médicas e ambulâncias na Ucrânia, totalizando dez mortos e dezesseis feridos.

A reunião na Turquia entre os ministros do Exterior dos países beligerantes objetiva dar um fim ao conflito armado, que é chamado de “operação especial” na Rússia. Há de se serenar os ânimos, não sei o porquê, mas recordei que o Ministro da Alemanha nazista Ribbentrop fora enforcado pelos aliados após a Segunda Guerra.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou que os objetivos da invasão russa não incluem derrubar o governo de Kiev nem ocupar a Ucrânia. O que torna, muito confuso, entender os reais objetivos russos.

Entre as muitas razões apontadas que justificam a invasão russa, está a expansão da OTAN no Leste Europeu e, ainda, a possível adesão da Ucrânia à aliança militar, a contestação ao direito da Ucrânia à soberania independente da Rússia e, o desejo de Vladimir Putin em restaurar a zona de influência da falecida União Soviética. Houve uma estratégia de coerção e pressão política e diplomática que não surtiu efeito.

Já, estudiosos apontam que o domínio territorial em questão é, principalmente estratégico, não apenas por se tratar de um país que fora integrante da URSS, mas, também, por ser o segundo maior em extensão territorial no Velho Continente.

Ademais, não foram poucas as vezes que Putin em suas aparições públicas enfatizou que a Ucrânia faz parte da Rússia, seja pela via cultural, política e linguisticamente. Tanto que parte da população ucraniana se identifica com isso, porém, há uma outra parte mais nacionalista, que é mais próximo da Europa Central.

Enquanto existe o quadro de miséria e penúria, além da violência bélica dos ataques russos, o deputado Arthur do Val, cuja alcunha é “Mamãe Falei”, teve umas falas misóginas e sexistas que resultaram em vinte e seis pedidos de deputados da ALESP que pedem sua cassação parlamentar. Até o seu partido “Podemos” abriu procedimento para sua expulsão. O referido deputado pelo menos em seu argumento inicial afirmava que foi lá para oferecer ajuda humanitária.

Desistiu de sua pré-candidatura ao Governo do Estado de São Paulo e, recebeu o repúdio não apenas de Sergio Moro, mas até, do atual Presidente da República. Arrependido, o Mamãe Falei já pediu desculpas públicas e, também, decidiu se afastar do movimento MBL. Enfim, essa guerra faz suas vítimas bem além de suas fronteiras.

Ésquilo tinha razão: Na guerra, a primeira vítima é a verdade. Infelizmente, não é única…

(*) Gisele Leite – Mestre e Doutora em Direito, é professora universitária.

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