O plano golpista do presidente Jair Bolsonaro avança perigosamente, enquanto alguns profissionais da grande imprensa afirmam que é preciso deixar o tema de lado, pois o objetivo do chefe do Executivo é criar um enredo para justifica eventual derrota nas urnas. Diferentemente do que alegam esses falsos profetas, Bolsonaro não só rejeita a ideia de ser derrotado por Lula, mas necessita de um novo mandato para não ser preso e blindar os filhos e os amigos mais próximos, acostumados a estripulias.
Na tarde desta quinta-feira (19), Bolsonaro voltou a disparar ataques na direção do Judiciário. Durante evento no Rio de Janeiro, o presidente afirmou que o Supremo Tribunal Federal (STF) tem interferido em sua gestão.
“Mais da metade do meu tempo passo me defendendo de interferências indevidas do Supremo Tribunal Federal”, disse Bolsonaro, que sistematicamente diz que é preciso “jogar dentro das quatro linhas da Constituição”, mas se recusa a respeitar a Carta Magna.
O Supremo, ao contrário do que diz Bolsonaro, limita-se a fazer cumprir o que estabelece a Constituição e só entra em ação quando provocado, ou seja, quem discorda das atitudes do presidente da República recorre ao Judiciário. Se o STF é acionado muitas vezes é porque há algo de errado no jeito de Bolsonaro governar.
Apenas os que se recusam enxergar a realidade dos fatos não percebem a trama ardilosa que Jair Bolsonaro vem costurando com o fio do autoritarismo. O plano é insistir na tese de que o STF atrapalha o governo e apoia a candidatura de Lula, o que não é verdade, para criar um cenário favorável a um clima de desobediência civil, com direito à invasão do Supremo e do Congresso Nacional.
Nesta quinta-feira, Bolsonaro disse que foram convidadas a participar da Comissão de Transparência Eleitoral (CTE), convite feito pelo ministro Luís Roberto Barroso, e que as sugestões dos militares “não vão ser jogadas no lixo”. Em outras palavras, o presidente volta a acenar com a possibilidade de golpe.
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Não é de hoje que Jair Bolsonaro atenta contra a ordem democrática, mas nos últimos dias a escalada golpista ficou mais evidente. Em São Paulo, durante evento de abertura de uma feira do setor de alimentos, o presidente disse que as eleições de outubro poderão ser “conturbadas” e que jamais será preso. A declaração foi feita, na segunda-feira (16), a centenas de empresários e contou com um cipoal de palavras de baixo calão, o que não causa surpresa.
“A liberdade é mais importante que a nossa própria vida. Em mais da metade do meu tempo eu me viro contra processos. Ainda falam que eu vou ser preso. Por Deus que está no céu, eu nunca serei preso”, afirmou o presidente. “Não estou dando recado para ninguém”, emendou.
No dia seguinte, em inauguração de trecho de uma rodovia no estado de Sergipe, Bolsonaro falou sobre a necessidade de se usar armas de fogo para defender a democracia
“A arma de fogo, além de segurança para as famílias, é segurança para nossa soberania nacional e a garantia de que a nossa democracia será preservada. Não interessa os meios que um dia porventura tenhamos que usar. Nossa democracia e nossa liberdade são inegociáveis”, declarou.
Na quarta-feira, o presidente apresentou ao STF notícia-crime contra o ministro Alexandre de Moraes, sob a alegação de que o magistrado, que relator do inquérito das “fake news”, cometeu abuso de autoridade. O ministro Dias Toffoli negou o pedido para investigar Moraes, que em breve assumirá a presidência do Tribunal Superior Eleitoral. Diante da negativa, o presidente acionou a Procuradoria-Geral da República (PGR), que não se manifestou até o momento.
No contraponto, também nesta quinta-feira, o ministro Alexandre de Moraes aproveitou a abertura das celebrações de 90 anos da Justiça Eleitoral, no TSE, para reagir. Sem citar o nome do golpista de plantão, Moraes disse que a Justiça Eleitoral nasceu e segue com “vontade de concretizar a democracia e coragem para lutar contra aqueles que não acreditam no Estado Democrático de Direito”.
Preocupa sobremaneira o silêncio das autoridades em geral e da população diante do comportamento golpista de Jair Bolsonaro, que precisa ser parado antes de o pior ser consumado. De igual modo, causa estranheza o comportamento do presidente da Câmara dos Deputados, que a essa altura já deveria ter colocado em marcha ao menos um dos mais de 130 pedidos de impeachment contra o adorador de torturadores.