(*) Carlos Brickmann
Dizem que, certo dia, houve uma palestra para pacientes de disfunção erétil. O palestrante perguntou quantos ali tinham relações mais de uma vez por mês. Alguns se apresentaram. Uma vez por mês? Muitos levantaram o braço. Uma por semestre, ninguém. Uma por ano? Um senhor eufórico pulou da cadeira e gritou, eufórico: “Eu! Eu!” O palestrante quis saber por que tanta alegria. E o senhor explicou: “É que o dia é hoje!”
Mais uma vez, o presidente Bolsonaro fez propaganda de ser imbrochável, imorrível e incomível. Desta vez, foi sua esposa que divulgou a frase, com a qual ele concordou. Em outra ocasião, garantiu numa palestra que aquela manhã tinha sido especial para sua esposa. Por que desmenti-lo? Pode ser.
Acontece que o imorrível é falso. Todos os homens são mortais, ensinava o título de um bom livro de Simone de Beauvoir. Imortais são os deuses e os demônios. E, convenhamos, nem os mais fieis partidários de Sua Excelência irão achá-lo um deus. A propaganda deixa uma ideia ruim a seu respeito.
O incomível nem merece comentários. Mas por que tanta insistência no “imbrochável”, a ponto de fazer com que sua esposa assim o proclame?
Esta nota começa com uma piada e vai terminar com outra. Contam que um senhor de avançada idade disse ao médico que gostaria de ser como seus velhos amigos, capazes de novas peripécias a cada dia. O médico disse que era simples, bastava fazer como os amigos.
“Mas como, doutor?” “Invente”.
O uso do cachimbo…
Uma coisa impressionante no Brasil é ver como alguns políticos mentem, mesmo quando falar a verdade seria melhor para eles. O petróleo, em 8 de fevereiro, custava US$ 60 o barril (e era o maior preço em um ano). Hoje o barril está a US$ 120. E tanto a situação quanto a oposição reclamam do preço dos combustíveis. Dá para baixar? Dá: tem o nome de subsídio. É tirar dinheiro de um setor da economia para dar a outro. Costuma ter péssimos resultados. A Venezuela ordenhou a PDVSA e hoje, montada nas maiores reservas de petróleo do mundo, sua capacidade de extração é mínima. Não sobra à petroleira venezuelana nem o suficiente para se reequipar.
Aqui se brinca de trocar o comando da Petrobras. Reduzir a dependência do petróleo, isso pega mal. Dar subsídio direto aos mais pobres, para que possam comprar seu gás engarrafado? Se derem, é o mínimo possível. E toca a brigar com os lucros da Petrobras (que ainda está se recuperando dos prejuízos que sofreu nos tempos do PT) e se arriscar a tomar processos na Bolsa de Nova York.
…faz a boca torta
Os dirigentes do país deveriam dar o exemplo da economia nos gastos com combustível. O prefeito de Londres, por exemplo, não tem carro oficial, anda de Metrô. Aqui, o presidente da República lidera procissões de motos, de lanchas, os ministros adoram viajar de avião oficial. Para eles, há dinheiro.
Mentira, foi tudo mentira
Belo verso, este de Tito Madi em “Cansei de Ilusões”. Não pode ser esquecido – nem será. O presidente Bolsonaro foi visitar as enchentes de Pernambuco e disse a verdade: que os dirigentes políticos são responsáveis pela tragédia provocada pelas chuvas. Mas logo voltou ao normal: botou boa parte da culpa na população, “que poderia colaborar também, evitando construir suas residências em locais com excesso de precipitação”. Ah, esses pobres! Insistem em construir em terrenos ruins. Como preferem comer ossos em vez de uma picanha de quase R$ 2 mil o quilo? Como fazem questão de morar em lugares sem infraestrutura. Gente malvada, esses pobres: fazem isso de propósito para se fingir de vítimas e constranger as autoridades.
Dinheiro, pra que dinheiro
Chatos também são os jornalistas que, em vez de discutir hábitos sexuais do presidente, vão buscar notícias sobre seu trabalho. O repórter Carlos Madeiro, do UOL, é dos bons: o Governo Federal reservou, para os projetos e obras de contenção de encostas em área urbana, 96% a menos que os gastos de 2012. A culpa é dos governos em geral, não só do presidente de hoje: Dilma começou a limar esses recursos, Temer os manteve em baixa e Bolsonaro completou o trabalho. E todos fingem que o caso não é com eles.
Mergulhando no Tesouro
O ministro Raimundo Carreiro, do Tribunal de Contas da União, é o novo embaixador em Portugal. Aposentou-se com 15 anos de serviço no TCU e recebeu, a título de 674 dias de férias vencidas e não gozadas, R$ 926.500,00.
Mas como, em 15 anos, juntou 674 dias de férias? Não seriam 15 meses, ou 450 dias? Isso é para o comum dos mortais. Lá no Olimpo, há dois meses de férias por ano, 900 dias. E não pense que Sua Excelência trabalhava quase sem descanso: é comum que ministros tirem um ou dois dias de férias, terça e quarta (quando há sessões de julgamento), e enforquem o resto da semana, quando, digamos, o trabalho é menos intenso, não o considerando descanso remunerado.
Aí sobra esse monte de dias para receber na aposentadoria.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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