Ex-juiz Sérgio Moro e a fundamentalista cristã Damares Alves não terão vida fácil no Senado

 
Longe da formalidade que marca a atividade política no Brasil – principalmente nos plenários, solenidades e eventos oficiais –, o cotidiano dos políticos não é para amadores e aventureiros. Quem acompanha de perto a política nacional sabe que o jogo é pesado e bruto. Diante do tabuleiro do poder sentam-se apenas os que conhecem as regras do jogo e sabem que um recuo nem sempre representa derrota.

Eleitos em 2022 na esteira do golpismo bolsonarista, alguns parlamentares terão dias difíceis pela frente, em especial os mais obedientes ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que continua em seu refúgio dourado nos Estados Unidos fomentando o radicalismo e o discurso de ódio.

Fundamentalista cristã e subserviente a Bolsonaro, a agora senadora Damares Alves será presa fácil para os experientes parlamentares que compõem o Senado Federal. Acusada de ter se omitido diante da tragédia Yanomami, Damares estreou no Senado da maneira errada. Isolada no plenário durante o processo de votação para a escolha do presidente do Senado, Damares confrontou jornalistas que cobraram explicações sobre a inação do Ministério das Mulheres, da Família e dos Direitos Humanos no caso dos indígenas.

A senadora bolsonarista rebateu as acusações de omissão que recaem sobre sua gestão alegando que as provas das ações da pasta no caso dos Yanomami estariam em seu perfil “Instagram” e em relatórios ministeriais. Não é o que revela o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, agora sob o comando de Silvio Almeida.

Dona de discurso que atende aos interesses de Jair Bolsonaro, a senadora eleita pelo Distrito Federal repete aquilo que convém ao ex-chefe. Visivelmente irritada, Damares disse aos jornalistas que a tragédia dos Yanomami “ocorre há décadas, que falta orçamento e que só vai responder às acusações que pesam sobre ela na Justiça”.

É importante que Damares e Bolsonaro se preparem com a devida antecedência no campo jurídico, pois tudo indica que os Yanomami foram alvo de genocídio patrocinado por um governo truculento e golpista, cujo objetivo era devastar a terra indígena em questão para abrir caminho aos garimpeiros.

Como se não bastasse o fato de a pasta outrora sob o comando de Damares Alves ter ignorado inúmeros alertas e recomendações sobre a tragédia humanitária na terra Yanomami, Bolsonaro foi a um garimpo ilegal para se encontrar com os criminosos que devastam a floresta amazônica.

 
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Moro em desconforto

Outro senador que não terá vida fácil é Sérgio Moro, ex-juiz da Operação Lava-Jato e ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro. No assento do plenário que lhe foi destinado, seguindo as regras da Casa, Moro estará cercado por petistas. Os assentos no plenário do Senado não são de livre escolha, pois seguem uma divisão de acordo com a unidades da federação do parlamentar e em ordem alfabética.

Sérgio Moro, que tentou driblar a Justiça Eleitoral em São Paulo com um endereço domiciliar arrumado de última hora, tomou posse como senador anunciando que fará forte oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Além do cenário de constrangimento ideológico, Moro não tem a simpatia dos entusiastas da Lava-Jato por ter traído o ex-senador Alvaro Dias (Podemos-PR) na disputa por vaga no Senado. Moro filiou-se ao Podemos sob as bênçãos de Alvaro Dias, que endossou sua pré-candidatura à Presidência da República.

Meses depois, Moro se deixou abduzir pelo discurso de Luciano Bivar, presidente nacional do União Brasil, e mudou de partido, acreditando que seria o presidenciável da legenda. O plano de Moro fracassou e lhe restou uma candidatura à Câmara dos Deputados por São Paulo. À Justiça Eleitoral o ex-juiz informou o endereço de um hotel da capital paulista como sendo seu domicílio.

O registro eleitoral de Moro foi devolvido ao Paraná, mas trair Alvaro Dias foi uma decisão equivocada do ex-juiz, que a partir de agora aprenderá como se dá o jogo político. Ultrapassa os limites da compreensão um cenário em que Alvaro Dias é barrado nas urnas e Sérgio Moro se elege.


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