Casada com o chefe da Casa Civil do DF, secretária de Justiça deveria ser ouvida pela CPI do “8 de Janeiro”

 
Como afirmamos em matérias anteriores, a CPI dos Atos Antidemocráticos – também chamada de CPI do 8 de Janeiro – que tramita na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) insiste em não convocar alguns integrantes do primeiro escalão do governo de Ibaneis Rocha (MDB), que retornou ao cargo após 65 dias de afastamento imposto pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Chefe da Casa Civil do governo do Distrito Federal, Gustavo do Vale Rocha continua fazendo jus à fama de “intocável” na equipe de Ibaneis, ou seja, ainda não foi incomodado pela CPI presidida pelo deputado distrital Chico Vigilante, cujo partido, o PT, está empenhado em identificar os que se omitiram no dia da onda de vandalismo.

Por ocasião dos atos terroristas de 8 de janeiro passado, Rocha foi acusado de negligência pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) por ignorar pedido para que a Polícia Militar do DF ajudasse a proteger o Congresso Nacional diante do avanço dos golpistas que vandalizaram as sedes dos três Poderes.

Se por um lado causa estranheza o fato de Gustavo do Vale Rocha não ter sido convocado pela CPI dos Atos Antidemocráticos, por outro intriga a não convocação da secretaria de Justiça e Cidadania do DF, Marcela Meira Passamani. Arquiteta e advogada, Passamani, que no governo anterior de Ibaneis comandava a mesma pasta, é casada com o chefe da Casa Civil. Em suma, o “casal 20” gravita na órbita mais privilegiada de Ibaneis Rocha.

A atual secretária de Justiça do DF tinha a pretensão de sair candidata à Câmara dos Deputados nas eleições passadas, mas as articulações políticas locais transformaram o sonho em pesadelo. Mesmo assim, antes do naufrágio do projeto de candidatura, Marcela Passamani fez campanha nas redes sociais, acreditando que poderia representar os eleitores do DF no Congresso Nacional, o mesmo que foi abandonado à própria sorte pelo marido.

 
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Na rede social TikTok, a então pré-candidata, usando roupa de ginástica, apostou em dancinhas ao som de um jingle com a seguinte frase: “É a força da mulher que fez e que vai fazer. Marcela Passamani você viu, você vai ver”.

É sabido no mundo da política que promessas feitas em campanhas eleitorais têm pouca chance de aterrissar no campo da realização. Mesmo assim, omissão por parte de servidor público, nomeado ou concursado, configura crime de prevaricação e tem punição prevista na legislação vigente.

Muito estranhamente, contrariando o jingle da pré-campanha, nos atos terroristas de 8 de janeiro ninguém viu Marcela Passamani, esposa do maior dos intocáveis da equipe de Ibaneis Rocha. A secretária de Justiça do DF deixou os vândalos dançarem à vontade, ao som do mantra golpista, no Palácio do Planalto, no Supremo Tribunal Federal e no Congresso Nacional. Além disso, Passamani poderia ter honrado a primeira parte do jingle e mostrado “a força da mulher que fez e vai fazer” e cobrado o marido por causa da letargia funcional.

Coincidência ou não, Marcela Passamani se filiou ao Partido Liberal, em março de 2022, com o apoio de Jair Bolsonaro, o golpista fujão, e de Ibaneis Rocha, o mais bolsonarista dos emedebistas. Atualmente, a secretária de Justiça está filiada ao MDB, partido ao qual são filiados o marido (Gustavo do vale Rocha) e o governador do DF. Detalhe: enquanto o presidente da CPI é do PT (Chico Vigilante), o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito, deputado João Hermeto de Oliveira Neto, é do MDB.

O enredo em questão é extremamente confuso e muitíssimo mal escrito, por isso é importante que a CPI dos Atos Antidemocráticos tome o depoimento de Gustavo do Vale Rocha e de Marcela Passamani. Afinal, o que se viu em 8 de janeiro foi uma tentativa de golpe de Estado que fracassou, com direito à prevaricação de muitas autoridades.


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