Prefeito de SP diz que irá a evento convocado por Bolsonaro porque “precisa ser solidário” ao golpista

 
O emedebista Ricardo Nunes só chegou ao comando da maior cidade brasileira, São Paulo, por conta do falecimento de Bruno Covas, em maio de 2021. Quando Covas, em 2020, anunciou Nunes como candidato a vice na sua chapa, o UCHO.INFO alertou para o perigo que tal escolha representava. À época, um escândalo envolvendo o agora prefeito começava a sair das catacumbas, mas a chamada articulação política impôs as regras, nocivas, como sempre.

Pífio como administrador da capital paulista, Ricardo Nunes tentará a reeleição em outubro próximo. Com o claro objetivo de contemplar eventual vitória, Nunes não se fez de rogado e há muito iniciou processo de aproximação com o bolsonarismo, não se importando com os muitos imbróglios que cercam o ex-presidente.

Depois da deflagração da Operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal, que investiga os artífices do fracassado golpe de Estado, os quais podem parar atrás das grades, Nunes foi aconselhado por assessores e marqueteiros a evitar qualquer comentário sobre a investida policial contra Jair Bolsonaro.

Bolsonaro, que em algum momento acabará preso, podendo ficar mais de vinte anos na prisão e inelegível por três décadas, continua com a prerrogativa de indicar o candidato a vice na chapa de Nunes. O preferido do golpista, por enquanto, é Mello Araújo, coronel da reserva da Polícia Militar e ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). Somente alguém com insensibilidade política aceita um companheiro de chapa com tal currículo, em uma cidade onde a violência policial contra os mais pobres só cresce.

Como sempre, Bolsonaro insiste na vitimização e convocou um ato para o próximo dia 25 de fevereiro, na Avenida Paulista, ocasião em que, segundo o golpista, servirá para se defender das acusações que fazem a Polícia Federal no âmbito das investigações sobre a tentativa de golpe. Para não deixar sua digital na convocação do ato, Bolsonaro deixou a autoria da ideia para o pastor Silas Malafaia, cuja trajetória dispensa apresentações.


 
Depois do anúncio do ato convocado para o próximo dia 25, Ricardo Nunes foi aconselhado a não participar do evento como forma de evitar danos à sua campanha eleitoral. Apesar dos apelos, Nunes decidiu que participará da manifestação. O prefeito paulistano alegou que “precisa ser solidário”. “Deve me apoiar, portanto, evidentemente, eu preciso ser solidário e parceiro”, disse Nunes, acrescentando ter “gratidão” ao ex-presidente. Bolsonaro não está apoiando Nunes, mas indicando o candidato a vice.

Para os principais adversários de Nunes na corrida à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB), o cenário atual não poderia ser melhor. O prefeito afirma ser solidário ao golpista que tentou arrebentar a democracia brasileira e vai ao evento convocado por um pastor acusado de lavagem de dinheiro.

Operação Timóteo

Considerando que a população tem memória curta e o Brasil é uma usina de escândalos, lembramos que Silas Malafaia foi indiciado por lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Timóteo (dezembro de 2016), que investigou esquema de corrupção na cobrança de royalties sobre exploração mineral. De acordo com a PF, Malafaia recebeu cheque no valor de R$ 100 mil de um dos escritórios investigados e depositou em conta bancária pessoal.

Malafaia alegou que o cheque era uma doação para a Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que, presume-se, deve ter CNPJ e conta bancária. Em outras palavras, o depósito em conta pessoal desmonta a versão do pastor adorador de golpista.

O delator do esquema criminoso confirmou em depoimento que o tal cheque era uma doação. Por razões óbvias não diria algo diferente. Fato é que o dinheiro da suposta doação é produto de crime. No contraponto, o delegado federal responsável pela operação policial afirmou à época que eram “robustas” as provas contra Malafaia.


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