Onde estão os velhacos e os pulhas que me atacaram quando afirmei que Bolsonaro é golpista e covarde?

(*) Ucho Haddad

Em 2018, muito antes da largada oficial da campanha eleitoral daquele ano, afirmei que Jair Bolsonaro, caso fosse eleito presidente da República, em algum momento daria um cavalo de pau na democracia. À época, entusiastas de sua candidatura, pusilânimes como o próprio candidato, dispararam ataques de todos os lados, como se tal investida fosse capaz de me intimidar.

Firme em minhas convicções, resisti a tudo e a todos, repetindo ao longo do pior governo da história nacional a afirmação de que Bolsonaro é golpista. Não se tratou de mera advinhação, mas de opinião embasada na trajetória de um político desqualificado, que jamais deveria ter chegado ao comando da nação. Durante anos acompanhei de perto a atuação pífia de Bolsonaro como parlamentar do “baixo clero”.

A certeza sobre sua essência golpista veio quando, na votação do processo de impeachment de Dilma Rousseff, o líder da turba dedicou seu voto ao facínora Brilhante Ustra, responsável por torturar os inimigos da ditadura militar, resultado de um golpe de Estado que os desajustados da caserna insistem em chamar de revolução. Somente quem não viveu de perto as barbáries cometidas pelos golpistas de então é capaz de falar em revolução.

A sanha autoritária de Bolsonaro subiu degrau por degrau durante o mandato presidencial, período em que mantive a afirmação de que um golpista convicto e perigoso estava a governar o Brasil. Simultaneamente, os abduzidos insistiam nos ataques, como se minhas reiteradas afirmações não retratassem a verdade.

Os canalhas de tudo inventaram para turbinar os ataques, afirmando, inclusive, de maneira absurda e inverídica, que bilionários internacionais contrários ao radicalismo direitista estavam a me financiar. Desafio qualquer um a provar que recebi qualquer quirera para acusar Bolsonaro de golpismo.

Aliás, ao longo da carreira (já se vão mais de quarenta anos) jamais aceitei um só centavo para criticar políticos e governos. Oportunidades não faltaram, mas optei pela consciência tranquila, apesar da gangorra financeira que enfrentei, sem contar os efeitos colaterais. Não faço jornalismo de encomenda, não tenho político de estimação nem tergiverso diante dos fatos. Apenas faço jornalismo com responsabilidade e atrelado à verdade dos fatos, gostem ou não os incomodados da vez. Se antecipo fatos, lamento!

O golpismo alimentado por Bolsonaro durante o mandato materializou-se em 8 de janeiro de 2023, quando sua turba invadiu e depredou as sedes dos três Poderes da República, acreditando que Lula pudesse ser apeado do cargo debaixo de um quebra-quebra generalizado. Covarde, como sempre afirmei, Bolsonaro se refugiou nos Estados Unidos, enquanto a malta era tangida aos corredores de uma fracassada tentativa de golpe de Estado.

Sempre escorado na sua inegável torpeza de pensamento, Bolsonaro conseguiu provar ao Brasil e ao mundo ser o responsável maior pela trama golpista, que não prosperou porque dois oficiais militares se recusaram a aderir ao plano de abolição do Estado Democrático de Direito: general Marco Antônio Freire Gomes e tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior. Ambos rejeitaram a hipótese de golpe, além de terem revelado às autoridades detalhes do plano que podem levar Bolsonaro a passar boa temporada atrás das grades. Freire Gomes chegou a dizer que prenderia Bolsonaro se o plano golpista avançasse.

Ato contínuo, os brasileiros de bem devem a manutenção da democracia e do Estado de Direito ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, que não se acanhou diante dos sistemáticos ataques da horda bolsonarista. À medida que a chiadeira rasteira e torpe contra Moraes cresce, fica claro que as decisões tomadas pelo ministro estão na direção correta e dentro dos limites da lei. A canalha fala em perseguição política, mas o melhor a se fazer é ignorar a verborragia mentirosa e insana.

De nada adiantam as alegações delirantes dos entusiastas do golpe, pois lidar com alguém da estirpe de Jair Bolsonaro exige rigor e coragem, sem rasgar a lei. Com esse tipo de gente não há espaço para hermenêutica, muito menos para bamboleios interpretativos. Assim não fosse, hoje o Brasil estaria a contemplar tanques e milicos armados desfilando no palco da truculência e na passarela da supressão da liberdade e dos direitos.

Tenho afirmado com certa insistência que ogolpismo ainda é uma ameaça concreta a rondar o Brasil e os brasileiros. Afinal, seus artífices continuam soltos e fermentando uma tese criminosa que precisa ser ferida de morte o quanto antes. Isso só acontecerá quando for decretada a prisão preventiva de Jair Bolsonaro, que, na modesta opinião de quem não flana nos céus do Direito, já passou da hora. Não só Bolsonaro precisa ser preso imediatamente, mas a “tropinha” golpista integrada por Augusto Heleno, Braga Netto, Almir Garnier, Paulo Sérgio de Oliveira, Anderson Torres, Mauro Cid e outros tantos diminutos. Será a hora do regozijo!

Hoje, após Alexandre de Moraes ter retirado o sigilo dos depoimentos dos ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica, tive a certeza de que agi corretamente ao afirmar que Bolsonaro é golpista nato e covarde contumaz. A sensação é de dever cumprido, mesmo que muitos tenham feito ouvidos moucos aos meus alertas. Há quem faça jornalismo em busca de prêmios, eu, para ter a consciência tranquila.

Aos canalhas que me atacaram e hoje estão entocados, a lamber o regurgito fétido do fracassado golpe, sejam corajosos e voltem a me enfrentar. A ojeriza que sempre nutri a fardas, mesmo nas festas momescas, permanece intacta.

Como canta o grande Ivan Lins, “no novo tempo / apesar dos perigos / da força mais bruta / da noite que assusta / estamos na luta / pra sobreviver…”. Já experimentei “a força mais bruta”, por infortúnio, e permaneço na luta para sobreviver, para sobrevivermos. Patifes, vade retro!

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, fotógrafo por devoção.


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