Cineasta palestino que ganhou Oscar de melhor documentário é agredido e preso na Cisjordânia

O cineasta palestino Hamdan Ballal foi libertado nesta terça-feira (25) de uma delegacia de polícia no assentamento de Kiryat Arba, na Cisjordânia ocupada, um dia após ter sido preso pela polícia israelense e espancado por colonos judeus. Ele é um dos diretores de “Sem chão” (“No Other Land”), que conquistou o Oscar de Melhor Documentário 2025.

Na véspera, Ballal participava de uma reunião para celebrar o fim do jejum diário do Ramadã, no lugarejo de Susiya, perto de Hebron, quando o grupo foi atacado por israelenses.

A esposa do cineasta, Lamia Ballal, conta que agressores utilizando uniformes militares cercaram a casa da família e seu marido foi ao encontro deles para impedir que a invadissem: “Os colonos o atacaram e começaram a bater nele. E aí o prenderam.”

De acordo com Jihad Nawajaa, chefe do conselho local, os agressores roubaram cerca de dez ovelhas e deixaram oito palestinos feridos: “Não é a primeira vez que os colonos atacam a nossa reunião, mas nos últimos tempos os ataques aumentaram.”

Forças de segurança israelenses se omitem

Recentemente, tem havido relatos de saques contra vilarejos e acampamentos palestinos e beduínos na Cisjordânia. De acordo com habitantes locais e ativistas que monitoram tais investidas, normalmente policiais e soldados observam os acontecimentos sem intervir.

Segundo a americano-canadense Anna Lippman, seu grupo, da organização Centro de Não Violência Judaica, chegou em Susiya cerca de 15 minutos mais tarde, e foi igualmente atacado. Pouco depois, “Hamdan foi vendado e algemado”.

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Além dele, a polícia israelense deteve dois outros palestinos. Segundo a advogada que os representa, Lea Tsemel, o grupo foi forçado a passar a noite no chão de uma base militar, apesar de ferimentos graves. Jornalistas da agência de notícias Associated Press relataram que, quando os três foram libertados, nesta terça-feira, Ballal trazia hematomas no rosto e sangue nas roupas.

Por sua vez, os militares afirmaram em comunicado que policiais e soldados intervieram porque palestinos teriam jogado pedras contra cidadãos e, mais tarde, contra forças de segurança israelenses. Além dos palestinos, teria sido preso também um civil israelense “envolvido na confrontação violenta”.

Vingança por documentário revelador?

Realizado por um coletivo palestino-israelense, “Sem chão” trata das adversidades de viver sob ocupação, ao registrar a destruição, por soldados de Israel, de Masafer Yatta, um conjunto de 19 aldeias palestinas situado próximo ao local do incidente desta segunda-feira. Além do Oscar, o longa-metragem recebeu um total de 69 prêmios – entre os quais o da Berlinale e o da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo – e 31 indicações.

Um dos outros três codiretores, Basel Adra, disse crer que o Exército teria atacado a casa da família para vingar-se da forma como o episódio de ocupação foi apresentado no documentário: “Porque [Ballal] carrega a sua câmera e documenta o que está acontecendo, eu acho que ele foi visado, e se vingaram dele dessa forma, à noite.” Os demais codiretores de “Sem chão” são Yuval Abraham e Rachel Szor.

Assim como alguns países europeus, o governo dos Estados Unidos, sob Joe Biden, impusera sanções contra colonos israelenses violentos, porém o atual mandatário, Donald Trump, tratou de retirá-las.

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