Em novo devaneio, Mourão diz que temor pelo futuro da democracia é “choro dos perdedores”

Vice-presidente eleito, o general reformado Hamilton Mourão é o que se pode chamar de “fulanização” da insensatez, para não avançar na seara de adjetivos mais contundentes. Considerado inteligente por pessoas mais próximas, Mourão tem uma notória dificuldade para expressar seu pensamento, que, via de regra, é tosco e preconceituoso. O que não surpreende, pois do contrário não estaria a fazer dupla com Jair Bolsonaro, cujo pensamento não fica atrás.

Em entrevista à BBC News Brasil, Mourão classificou como “choro de perdedores” as manifestações de temor pelo futuro da democracia verde-loura. O general, assim como qualquer cidadão, tem o direito à livre manifestação do pensamento – é uma garantia constitucional –, mas sua fala é típica de quem flerta com o totalitarismo, mas precisa desviar a atenção da opinião pública. As declarações do presidente eleito e de alguns integrantes do seu entourage não deixam dúvidas a respeito dos riscos que a democracia brasileira corre.


Na entrevista, concedida na sede do PRTB em São Paulo, Hamilton Mourão disse que tais manifestações em defesa da democracia são “desserviço” prestado pelos adversários. O militar deu a entender que as preocupações com a democracia surgiram na esteira de uma “rede de contatos” de pessoas ligadas à campanha do petista Fernando Haddad. Essa afirmação por si só evidencia o pensamento de quem não se importa com a democracia e ignora o direito à liberdade de expressão e ao contraditório.

Sobre “desserviço”, Hamilton Mourão deveria repensar os próprios conceitos, pois nos últimos tempos suas declarações causaram muito mais prejuízos ao País do que a preocupação de cidadãos de bem com a democracia. Ademais, não merece respeito quem afirma que “o brasileiro herdou a malandragem dos africanos e a indolência dos indígenas”. De igual modo, não merece respeito quem afirma que uma família sem pai e avô é uma “fábrica de desajustados”.

A grande mazela nacional é o contingente de pessoas estúpidas que, da noite para o dia, descobrem-se geniais – e especialistas em todos os assuntos – e decidem que o País deve submeter-se às suas regras, pensamentos e imposições. Alguém precisa avisar a esse senhor que a era plúmbea é coisa do passado. Para que uma nova ditadura, mesmo que disfarçada, volte à cena será preciso atropelar a resistência, formada por aqueles que não votaram no despreparado Jair Bolsonaro.