A queda de braços entre o presidente Jair Bolsonaro e o vice Antônio Hamilton Mourão, que nesse embate tem a companhia de boa parte da cúpula das Forças Armadas, está apenas começando. Cansados das bizarrices de Bolsonaro e inconformados com as humilhações a que são submetidos, os militares de alta patente estão dispostos a levar adiante esse embate que cresce e ganha força nas coxias do poder.
Na edição de 3 de novembro, o UCHO.INFO afirmou, sem receio de errar, que Mourão havia se transformado em líder da mais nova frente de oposição ao presidente da República. Na ocasião, muitos duvidaram da nossa informação, mas o tempo – curto, é verdade – foi o senhor da razão. Dias antes, em 30 de outubro, o vice-presidente contrariou declaração de Bolsonaro ao dizer que o Brasil certamente comprará a vacina Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.
Em 4 de novembro, Mourão confrontou declaração de Bolsonaro ao falar sobre a vantagem do democrata Joe Biden na eleição presidencial americana. “O relacionamento do Brasil com os EUA é um relacionamento de Estado para Estado, independente do governo que tiver lá. Óbvio que cada governo tem suas prioridades, tem suas características. Então, pode ter algumas mudanças pontuais, mas no conjunto da obra nós vamos continuar com a mesma, vamos dizer assim, com as mesmas ligações”, afirmou o vice.
A situação piorou sobremaneira quando Hamilton Mourão tentou minimizar a ameaça feita por Bolsonaro ao presidente eleito dos Estados Unidos. “Quando acaba a saliva tem que ter pólvora. Não precisa nem usar a pólvora, mas tem que saber que tem”, afirmou presidente. “Assistimos há pouco um grande candidato à chefia de Estado dizendo que, se eu não apagar o fogo da Amazônia, ele vai levantar barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que podemos fazer frente a tudo isso? Apenas pela diplomacia não dá”, afirmou Bolsonaro.
Mourão por sua vez, exercendo seu papel de “babá de plantão” de um tresloucado com mandato, usou o termo aforismo antigo para colocar panos quentes sobre a ameaça feita por Bolsonaro, caso o próximo presidente dos EUA cumpra a promessa de retaliar comercialmente o Brasil se o governo não agir para conter o desmatamento na Amazônia.
“Acho que ele se referiu a um aforismo antigo que diz que quando acaba a diplomacia entram os canhões, foi isso que ele se referiu”, afirmou o vice aos jornalistas.
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A temperatura entre ambos subiu na esteira de recente declaração do ex-juiz Sérgio Moro, que considerou Mourão um bom nome para enfrentar Bolsonaro na corrida presidencial de 2022. Para piorar o cenário, uma proposta do Conselho Nacional da Amazônia Legal, presidido por Mourão, prevê a expropriação de terras onde ocorram desmatamentos e queimadas.
Jair Bolsonaro, ciente de que o nascedouro da proposta é o Conselho da Amazônia, rebateu a ideia com sua verborragia insana. Em rede social, o presidente postou a seguinte mensagem: “Mais uma mentira do Estadão ou delírio de alguém do Governo. Para mim a propriedade privada é sagrada. O Brasil não é um país socialista/comunista”. O documento com a sugestão de Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que prevê a expropriação de terras foi obtido pelo jornal “O Estado de S. Paulo”.
Na sequência, em conversa com os apoiadores que se aglomeram diariamente na saída do Palácio da Alvorada, em Brasília, Bolsonaro, falar sobre a proposta, disse que “ou é mais uma mentira ou alguém deslumbrado do governo resolveu plantar essa notícia aí.”
“A propriedade privada é sagrada. Não existe nenhuma hipótese nesse sentido. E se alguém levantar isso aí, eu simplesmente demito do governo. A não ser que essa pessoa seja indemissível”, afirmou o presidente.
Como Hamilton Mourão não é passível de demissão, até porque foi eleito, Bolsonaro terá de travar uma guerra intestina se quiser esvaziar uma eventual candidatura do vice em 2022. Caso isso ocorra, é preciso reconhecer que parte do eleitorado conservador despejará votos em Mourão, que no campo do conhecimento e da inteligência está muito à frente do presidente da República.
Para incrementar o cabo de guerra que se instalou no Planalto Central, o Ministério da Defesa decidiu que todos os oficiais da ativa das Forças Armadas terão de se submeter a vacinação compulsória, não importando contra qual doença. A decisão contraria discurso de Bolsonaro, que defende a não obrigatoriedade da vacinação.
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