Escândalo envolvendo Demóstenes Torres faz inveja aos mais criativos novelistas mexicanos

Set de gravação – O escândalo envolvendo o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) tem detalhes de sobra para servir de enredo àqueles novelescos dramalhões mexicanos. O parlamentar goiano nega qualquer relação mais íntima com Carlinhos Cachoeira, mas a Polícia Federal tem provas de que Demóstenes pediu dinheiro ao bicheiro. O advogado do senador, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, um dos mais caros do País, afirma que seu cliente mantém a amizade com o contraventor por questão de caráter. “Demóstenes e Cachoeira são amigos há bastante tempo. Mais de metade de Goiânia era amiga do Cachoeira e agora, depois desse episódio, aparecem os engenheiros de obra pronta que começam a dizer que não o conheciam. O Demóstenes, como demonstração de caráter, mantém sua posição desde sempre”, disse o advogado.

Por mais que muitos neguem, política não é tarefa para inocentes. Quem conquista um mandato de senador deve ter nas veias doses mínimas de esperteza, pois do contrário será devorado pelos pares de parlamento. De acordo com Kakay, seu cliente sequer desconfiava das atividades ilícitas do amigo. “O Cachoeira havia dito que tinha parado com qualquer atividade de contravenção e trabalhava atualmente com um laboratório”, disse. Ora, se Cachoeira trocou as atividades ilícitas pelas lícitas, Demóstenes deveria desconfiar de alguém que usa rádios-comunicadores habilitados nos Estados Unidos para evitar grampos e outros quetais.

Para provar que a política não é reduto de inocentes, Demóstenes abriga em seu gabinete no Senado Federal, desde setembro de 2011, na condição de assessora parlamentar, Ketlin Feitosa Ramos, enteada do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.

Famoso não apenas pela competência como operador do Direito, mas também e principalmente por cobrar honorários elevados, Kakay ainda não revelou quem pagará pelos seus serviços. De igual modo, Demóstenes, que como senador recebe mensalmente R$ 26,7 mil brutos, continua devendo aos brasileiros uma explicação sobre a fórmula encontrada para custear a defesa.

O presidente do Democratas, senador José Agripino Maia (RN), já sinalizou que a legenda não terá problema algum para expulsar Demóstenes se ficarem comprovadas as denúncias feitas a partir das provas colhidas pela Polícia Federal. “Um partido com a história do Democratas, que já fez o que já fez, chegando a expulsão de um governador [José Arruda, do DF] tem moral para dizer que vai fazer o que outros partidos não fizeram […] O partido já esteve em circunstância preocupante, e teve um posicionamento claríssimo, e não vai hesitar em nenhum momento em repetir a dose [expulsão] se as evidências se mostrarem iguais”, disse o potiguar Agripino.

No caso de ser expulso do partido, Demóstenes terá pela frente uma avalanche de pedidos para que renuncie ao mandato. O que é provável que aconteça em breve, pois tal movimento vem ganhando força nos bastidores da política. Ao renunciar, o senador goiano poderá ser substituído pelo empresário Wilder Pedro de Morais, atual secretário de Infraestrutura do governo de Goiás, comandado pelo tucano Marconi Perillo. Na eleição de 2010, Wilder declarou à Justiça Eleitoral patrimônio de R$ 14,4 milhões, sendo R$ 2,2 milhões em espécie, dinheiro guardado em casa. Algo estranho em um país onde a insegurança pública grassa do Oiapoque ao Chuí.

A esposa de Wilder de Morais abandonou-o para viver com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, assunto que ganhou o noticiário através de Demóstenes Torres, que usou o enrosco amoroso do seu primeiro suplente para justificar os trezentos telefonemas que fez ao empresário da jogatina que se encontra preso. Por conta da nacionalização do vexame, Wilder torce pela queda de Demóstenes, pois receberia como prêmio de consolação um mandato de senador até 2019.

Na eventualidade de Wilder desistir de assumir o mandato de senador, como forma de ficar longe dos holofotes do escândalo e manter o projeto de disputar a prefeitura de Anápolis, assumiria a vaga o segundo suplente, José Eduardo Fleury Fernandes Costa, um agricultor e pecuarista de Quirinópolis, que desde 2002 integra a chapa encabeçada por Demóstenes Torres. Naquele ano, 2002, Fleury declarou patrimônio de R$ 5,7 milhões, incluindo rebanho bovino (2.608 cabeças de gado) avaliado em R$ 1,3 milhão.

O projeto político de Demóstenes Torres prevê a disputa pela prefeitura de Goiânia em outubro próximo. Se o Democratas decidir pela expulsão, o sonho do senador oposicionista será transformado em pesadelo, pois candidato sem partido não existe no Brasil, pelo menos por enquanto.