Ensino à distância: polêmica, apesar dos avanços

Inovação tecnológica leva o ensino aos que querem aprender

(*) Gilmar Corrêa –

ead_01A rede mundial de computadores veio também para revolucionar o ensino. As novas tecnologias permitiram que milhares de pessoas pudessem estudar à distância. Novos modelos estão sendo criados para permitir a aproximação entre o aluno e o professor. Apesar dos avanços e da reconhecida eficácia do Ensino à Distância (Ead), ainda persistem suspeitas sobre o modelo que já foi reconhecido pelo próprio Ministério da Educação.

Estudar pela internet ou pela televisão está muito além dos conhecidos cursos de idiomas, culinária ou mesmo de informática. Já é possível freqüentar aulas à distância para concursos, capacitação diversas, atividades corporativas, ter aulas técnicas e até mesmo graduação e pós-graduação.

A discussão em torno do ensino à distância, assim como o seu aperfeiçoamento, tem reunido diferentes especialistas, entendidos em educação e até os formandos em ensino de graduação. Foi o que fez Suelaine Soraia Cantanhede Pereira, na sua monografia “Cibereducação: convergências e perspectivas nos ambientes virtuais de aprendizagem”.

A aluna, que se formou em Radiojornalismo na Universidade Federal do Maranhão, chega à seguinte conclusão: “A separação existente entre tecnologias e o espaço escolar é um equivoco, pois a universidade não só usufrui dessas ferramentas, mas também é responsável por engendrar e experimentar formatos que exploram distintas maneiras de interação”.

Segundo o portal “EAD no Brasil”, o maior sítio eletrônico no país dedicado ao tema, a educação à distância é a modalidade que mais cresce no ensino superior brasileiro. O número de estudantes de graduação chegou a 760.599, um aumento de 91% em relação a 2007. Em quatro anos, de 2004 a 2008, o salto foi de 1.175%.

“Embora os cursos à distância atendam o equivalente a apenas um sexto dos alunos presenciais, eles avançam num ritmo de fazer inveja às faculdades tradicionais. O dado mais recente do Ministério da Educação relativo a cursos presenciais é de 2007, quando havia no país 4,8 milhões de estudantes. Na comparação com o ano anterior, isso representa crescimento de 4,4%. No período 2004-2008, as matrículas presenciais aumentaram meros 17%”.

Somente no Programa Escola Técnica Aberta do Brasil (e-Tec), até o fim do ano passado, foram criadas mais 26 mil vagas na modalidade. O diretor de regulamentação e supervisão da Seed, Hélio Chaves Filho, informa que o número de vagas deverá chegar a 200 mil em 2010. Para isso, serão criadas 150 mil novas vagas.

“A cultura local tem mudado em relação à modalidade de ensino a distância. O programa e-Tec vai se estabelecer e fazer parte da qualificação profissional do futuro”, afirmou. Para isso, o Ministério da Educação ampliou o número de pólos. Em 2008 eram 195. Hoje são 540. A meta é chegar aos mil neste ano, ofertando 200 cursos de ensino técnico.

Na sua monografia, a radialista Suelaine observou que, apesar dos novos tempos, a introdução cada vez mais crescente de recursos tecnológicos em nosso cotidiano tem alterado, sobremaneira, a nossa experiência com o outro, o imaginário humano, “re-ordenando nossa relação com o artefato tecnológico e o processo de construção do conhecimento. Assim, este cenário tem sido causa de muita polêmica na admissão de uma nova cultura que se instaura sob batismo de ciberespaço”.

Há pelo menos três correntes que se encontram nesse embate de ideias sobre essas novas mídias de comunicação e informação. “Os primeiros são tecnofóbicos, avessos a qualquer interação via máquinas, herdeiros de um pensamento frankfurtiano e que neste trabalho aparecem também com o nome de apocalípticos. Os segundos crêem não ser mais possível viver fora dessa hiper-realidade, nem conhecer e se relacionar aquém desse sistema de informação: são prosélitos de uma nova cultura que cada vez mais tende a ganhar adeptos. Por fim, a terceira corrente sem nominação específica que se utiliza das tecnologias sem perder a reflexão sobre ela e suas implicações na sociedade. É neste sentido que avaliamos a chegada e o uso das tecnologias de informação e comunicação e da internet no contexto da educação à distância (Ead)”.

Embora concorde com novos métodos de ensino, aí incluído as novas tecnologias, a radialista chegou à conclusão que quando o suporte é a televisão, um meio de massa, a elaboração de uma vídeoaula tem seu conteúdo comprometido pelo fraco teor de discussão.

Nesse particular, Suelaine Soraia Cantanhede Pereira critica o Telecurso 2000. Entre tantas experiências e práticas desenvolvidas, “uma nos chamou atenção pela sua história, pelas nuances políticas e, principalmente, pelo projeto pedagógico midiático em que se pautou”.

Ela afirma que o Telecurso, traz em seu bojo as discussões sobre o processo de educação em massa feita pelo instituto, paralelo à justificativa de quitar uma dívida sócio-histórica, encarnada nos altos índices de analfabetismo no país. Logo, lançar um olhar sobre a realidade da educação no Brasil é entender como se fincou e de que meios se utilizou esse programa para ter cada vez mais franca expansão pelo país.

A trajetória repleta de irregularidades e justificativas fragmentadas revela uma rede de “meias verdades” na estruturação da emissora da Rede Globo que, em breve, alcançaria níveis internacionais em qualidade e quantidade na programação.

Suelaine Soraia cita a pesquisadora Alessandra de Assis Picanço. Ela afirma que essa fragmentação vai se dar, sobretudo, na concepção e realização, ou seja, na teoria e na prática o processo se deu a expansão da radiodifusão no país, em especial da Rede Globo.

A radialista avalia que o crescimento da educação à distância é irreversível e o fermento dessa mudança são as tecnologias de comunicação. Esse mercado atinge muitos setores da sociedade. São instituições que oferecem algum curso à distância; professores que elaboram conteúdos específicos para esta modalidade de ensino, por conseguinte, alunos se matriculam em disciplinas e cursos online. Empresas que fornecem serviços e insumos para o mercado de publicação de artigos e livros sobre conteúdos explorados neste modelo de ensino; ademais, desenvolvem-se tecnologias voltadas para esse nicho de mercado, e assim se desdobra a Ead.