Fraude do Panamericano recebe adereços e rombo do antigo banco de Silvio Santos chega a R$ 4,3 bi

Adubando dá – Imagine você chegando à casa da sua avó quituteira e descobrindo que ela acabou de colocar um bolo para assar. Diante do inesperado, você decide aguardar para saborear mais uma das apetitosas travessuras da vovó. Com a massa encruada, o bolo, contemplado através do vidro do forno, parece teimosamente não crescer. Persistente, ela decide esperar, pois milagres acontecem. Passado o tempo recomendado na receita, a desconsolada vovó decide tirar o bolo do forno daquele jeito mesmo. Ao colocar sobre a mesa, a boa e inocente velhinha percebe que o tal bolo começa a crescer. E o bolo, que parecia perdido, transforma-se em algo colossal, magnânimo.

Você deve estar se perguntando se isso é possível. No mundo da culinária jamais alguém presenciou fenômeno como esse. De igual maneira você deve estar se questionando sobre qual a relação entre um bolo encruado e um site noticioso que se dedica às coisas da política e outros assuntos, exceto os da cozinha. Pois bem, o preâmbulo culinário que ora nos valemos serve para explicar o escândalo que levou o inocente empresário Silvio Santos a vender o Banco Panamericano.

Quando a fraude contábil foi noticiada, descobriu-se que o Panamericano tinha um rombo de R$ 2,5 bilhões. Com o patrimônio entregue como garantia, o apresentador de televisão conseguiu que o Fundo Garantidor de Crédito aportasse a respectiva dinheirama no caixa do banco para evitar uma falência. Dias antes da operação, Silvio Santos surgiu repentinamente no Palácio do Planalto para um rápido encontro com o então presidente Luiz Inácio da Silva. Ao deixar a sede do Executivo federal, Silvio disse que esteve no palácio para pedir uma doação de Lula para o “Teleton”. Lula, que apela a terceiros para pagar suas contas pessoais, não é pessoa de doações financeiras.

A decisão de aporte de dinheiro no Banco Panamericano foi justificada pelo chamado risco sistêmico, termo do economês que serve para explicar o abafamento de falcatruas cometidas por banqueiros. Faltando horas para o dono do Baú passar para frente o banco, eis que surge uma informação nova: o rombo do Panamericano, que anteriormente era de R$ 2,5 bilhões, pulou inexplicavelmente para R$ 3,8 bilhões. De qualquer maneira, Silvio Santos acabou vendendo o Banco Panamericano para o grupo BTG-Pactual.

Ao deixar o encontro que sacramentou a venda do Panamericano, Silvio disse não saber o valor do negócio. Mentira! O empresário sabia que o BTG-Pactual pagaria R$ 450 milhões pelo banco devassado pela diretoria já demitida, sendo que o dinheiro acabaria nos cofres do Fundo Garantidor de Crédito. Em outras palavras, algumas semanas depois de alguém tomar emprestados R$ 2,5 bilhões surge um desavisado e quita a dívida com R$ 450 milhões. Como disse certa vez um filósofo mambembe que acredita ser o único presidente-gênio do planeta, “nunca antes na história deste país”.

Com o Panamericano vivendo as primeiras horas sob a nova direção, surge a notícia de que o rombo do banco é na verdade de R$ 4,3 bilhões. O problema a partir de agora, cremos nós, é de quem comprou. Independentemente de quem pagará por mais esse “plus” criminoso, a história mal contada do Panamericano vai ao encontro da estória do bolo da vovó, que só cresce depois de se afastar do calor do forno.

Como a nebulosa operação de venda do Banco Panamericano causou frisson no mercado financeiro, o que poderia lançar suspeitas sobre o ex-camelô Silvio Santos, seus assessores dispararam para algumas das principais redações economistas dispostos a transformar o apresentador em vítima. Um deles, quase que plenamente ousado, disse que Silvio foi vítima dos administradores do banco. E que a situação do empresário não era muito confortável, pois no fim das contas houve a perda de uma instituição financeira. Ora, se Silvio Santos perdeu o banco por causa de fraudes protagonizadas por pessoas que até então eram de sua confiança, que ele corra atrás do prejuízo, pois tamanha soma de dinheiro não evapora da noite para o dia.

Analisando por outro prisma, Silvio Santos – nesse caso é melhor falar em Senor Abravanel – é o primeiro banqueiro do universo que jamais se interessou pelo melhor dos seus negócios. Segundo informações, o Panamericano era a empresa mais rentável e lucrativa do Grupo Silvio Santos. Fazendo uma rápida analogia, alguém tem um vasto e recheado galinheiro e prefere entregar as chaves para o lobo-mau.

Para justificar a aquisição do controle acionário do Banco Panamericano, o BTG-Pactual, horas depois da concretização do negócio, fez circular a informação de que o objetivo era colocar um pé no varejo do mercado financeiro. E para isso se valeu de uma “engenharia financeira” – termo vago e enganador – para abocanhar a maioria das ações de um banco problemático, a um passo da bancarrota.

Nesta quinta-feira (3), uma nova noticia tratou de despejar mais dúvidas sobre um negócio que ultrapassou com folga os limites do duvidoso. Para que o Banco Panamericano possa atuar com tranquilidade e competitividade, os controladores, BTG-Pactual e a CaixaPar (braço da Caixa Econômica Federal) – injetarão no caixa da instituição nada menos que R$ 14 bilhões. A Caixa será responsável pelo aporte de R$ 10 bilhões, enquanto o BTG-Pactual desembolsará os R$ 4 bilhões restantes.

O reforço do caixa do Panamericano não acontecerá na mesma proporção do controle acionário. Os R$ 10 bilhões da Caixa serão investidos na compra de carteiras de crédito (R$ 8 bilhões) e em certificados de depósito interbancário (R$ 2 bilhões). Já os R$ 4 bilhões que serão aportados pelo BTG-Pactual servirão investidos em CDI, título financeiro equivalente ao CDB, comercializado somente entre bancos e financeiras. Ora, BTG-Pactual, que justificou a compra do Panamericano com discurso de que o objetivo era ingressar no varejo do mercado financeiro, continuará no atacado.

Para compreender essa sinuosa e bisonha negociação é preciso voltar no tempo em um primeiro momento. E a viagem não será longa. Por ocasião da recente corrida presidencial, o SBT, do empresário Silvio Santos (antigo dono do Panamericano) não deu trégua ao candidato tucano José Serra. Em relação à candidata palaciana, Dilma Rousseff, o tratamento foi bem mais ameno. Na bancada do Jornal do SBT, o tucano Serra foi torpedeado pelos entrevistadores, mas a experiência como homem público lhe permitiu escapar das armadilhas. Mesmo nervosa na entrevista que concedeu à emissora de Silvio Santos, a neopetista Dilma quase não sofreu pressão por parte dos seus entrevistadores.

Coincidência ou não, foi a partir de uma reportagem do SBT que o então presidente Lula passou a afirmar que José Serra, durante caminhada em calçadão do subúrbio do Rio de Janeiro, foi acertado por uma bolinha de papel e fez um estardalhaço alegando fora atingido por um material rígido e que lhe cortou a testa. Lula, com base nas imagens nada convincentes do SBT, inclusive desqualificou o laudo técnico emitido pelo perito Francisco Molina, que confirmou que Serra não foi atingido por pedaço de papel amassado.

Voltando à vovó quituteira, aquela do bolo que só cresce depois de sair do forno, dedicamos um pouco da nossa memória familiar, pois muitos de nós ouvimos, pelo menos uma vez ao longo da vida, as nossas avós dizerem que dinheiro chama dinheiro. Ou seja, Silvio Santos nem mesmo em sonho pediu uma doação a Lula para o Teleton.