Brasil Maior e manco

(*) Clésio Andrade –

O Governo Federal lançou, no início de agosto, o Plano Brasil Maior, que delineia uma nova política industrial, tecnológica, de serviços e de comércio exterior, com o objetivo de aumentar a competitividade dos produtos nacionais, a partir do incentivo à inovação e à agregação de valor.

Uma corajosa aposta do Governo que implica renúncia fiscal de R$ 25 bilhões e financiamentos facilitados via BNDES da ordem de R$ 500 bilhões. Boa parte dos eventuais ganhos em competitividade, porém, vai se perder nas estradas esburacadas, nos portos e aeroportos deficientes e mal operados, na escassez de ferrovias e hidrovias.

O atraso na infraestrutura de transporte e a falta de visão multimodal provocam custos logísticos de 11.6% do PIB brasileiro. O custo com logística dos Estados Unidos corresponde a 8,7% do PIB americano. Essa diferença de 3 pontos porcentuais do PIB daqui em relação ao americano equivale a R$ 120 bilhões, ou quase o lucro total das 500 maiores empresas nacionais no ano passado, segundo a última edição de Melhores e Maiores, da revista Exame.

Esse custo impacta a competitividade e as margens de lucro dos agentes econômicos brasileiros, reduzindo-lhes a capacidade de poupança e de investimento, o que desacelera o crescimento, eleva os preços finais e inibe o consumo.

Para que o slogan do Brasil Maior – “Inovar para Competir. Competir para Crescer” – se potencialize de fato, o país precisa investir, nos próximos anos, R$ 400 bilhões para elevar a infraestrutura de transporte de obstáculo a fator de competitividade, segundo o Plano CNT de Transporte e Logística 2011.

Serão necessários R$ 13 bilhões em projetos rodoviários urbanos em todo o país para construção de 553 km de corredores expressos para ônibus, os chamados BRTs e a construção de 338 km de vias urbanas. Outros R$ 57 bilhões, para a construção de 500 km de metrôs ou trens urbanos e implantação dos Veículos Leves sobre Trilhos (VLT), nas principais cidades do país.

O sistema ferroviário brasileiro demanda R$ 94 bilhões para adequar-se às necessidades do país, com a recuperação de 4.600 quilômetros de ferrovias e construção de novos 11 mil quilômetros. Apesar da participação das ferrovias já ter passado de 17% para 25% no transporte de carga, ainda falta muito para o mínimo desejável de pelo menos 40%.

Precisamos, com urgência, modernizar nossas áreas portuárias e retroportuárias, executar obras de dragagem e de derrocamento, construir novos portos e melhorar os acessos terrestres para atender às necessidades da navegação marítima nacional.

O Brasil deve investir na infraestrutura hidroviária, de modo a aproveitar seus mais de 40 mil quilômetros de rios navegáveis. Hoje, o transporte hidroviário no país não atinge a 3% do total da movimentação de bens, quando deviria ser de cerca de 12%.

Havendo decisão política, os recursos aparecem. E, tal qual na política industrial e de inovação, o Governo deve buscar parcerias na iniciativa privada (PPP) para suprir suas deficiências de capital e gerência para superar os gargalos em infraestrutura de transporte. Sem isso, certamente o Brasil Maior vai tropeçar na estrada.

(*) Clésio Andrade é senador pelo PR de Minas Gerais e presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT)