Complexo do Pomeri (MT): depósito de futuros algozes, que saem para matar ou morrer

(*) Adriana Vandoni, do blog Prosa e Política –

Em 2009 entrei no Complexo do Pomeri, o centro de ressocialização de menores infratores do Mato Grosso. Claro que entrei disfarçada, pois as visitas de qualquer agente da imprensa são rigorosamente controladas, ainda mais sem agendamento prévio.

A realidade que conheci lá dentro foi de um impacto devastador em mim. Eram animais enjaulados sem as mínimas condições de dignidade. Os detentos, quando nos viam, estávamos em três pessoas acompanhadas por um funcionário, gritavam: “a senhora é juíza?”; “o senhor é juiz?”. Perguntei o porquê da ansiedade em falar com um juiz e um menor com parafusos na perna e que parecia liderar sua jaula, disse que a juíza da infância e adolescência só aparecia lá duas vezes ao ano.

Daí meu espanto hoje quando vejo uma entrevista com uma juíza (que não é a mesma da época) reclamando atitude do prefeito de Cuiabá. A função é do Estado e a situação indigna não começou agora. Não é possível que só agora o juizado da infância e adolescência tenha tomado conhecimento.

Do outro lado desse pavilhão ocupado, um novinho em folha, inaugurado em 2007, sem ocupação. Porque está vazio? Por que se esqueceram da rede elétrica. Essa foi a explicação que recebi de um funcionário. Depois de passar pelas alas onde gente, esgoto e o almoço que estava sendo servido, se misturavam causando um cheiro perturbador, chegamos à ala de triagem, aonde os recém chegados ficam por um tempo. Lá tinha um garoto de 17 anos, vindo de Quatro Marcos, 314 km de Cuiabá.

O seguinte diálogo se deu:
– Você está aqui por quê?
– Roubo.
– É a primeira vez?
– Não senhora. Segunda vez.
– Qual o motivo da primeira internação?
– Furto.
– Então não aprendeu nada, né? Sabe qual futuro dessa carreira? IML.

O Complexo do Pomeri não passa de um guarda volume de futuros algozes da sociedade e de futuros clientes do IML. Porque os que entram ali, saem para matar ou morrer.

Antes de entrar no Pomeri, em 2009, a superintendente nos falou muito sobre curso de informática, cheguei a pensar: “puxa, então estão mesmo trabalhando para ressocializar”. Já lá dentro perguntei ao guia sobre atividades para os menores. “De vez em quando há aula de informática”.

Esta é uma preocupação e cobrança que deve ser de toda a sociedade, se não por compaixão, por precaução. Ou você acha que o destino deles jamais cruzará com o seu?

Como no poema de Fernando Pessoa que diz que “O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia…”, não podemos agir como se apenas o nosso rio importasse sem observar que mais a frente todos os rios se encontram.