Três décadas depois, como Marias e Clarices, o Brasil ainda chora a morte da insuperável Elis Regina

Para sempre – Em 19 de janeiro de 1982, o Brasil foi tomado por uma comoção nacional após o anúncio da morte de Elis Regina. Nascida na capital do Rio Grande do Sul em 17 de março de 1945, a filha de Romeu Costa e Ercy Carvalho morreu em decorrência de overdose de cocaína, álcool e tranquilizantes.

Precoce, Elis lançou o primeiro LP da carreira aos dezesseis anos. Sobre o começo da carreira e a polêmica sobre quem de fato lançou profissionalmente a cantora que ainda repousa na memória dos amantes da MPB, o produtor Walter Silva revelou o enigma ao jornal Folha de S. Paulo. “Poucas pessoas sabem quem realmente descobriu Elis. Foi um vendedor da gravadora Continental chamado Wilson Rodrigues Poso, que a ouviu cantando menina, aos quinze anos, em Porto Alegre. Ele sugeriu à Continental que a contratasse e em 1962 saiu o disco dela. Levei Elis ao meu programa, fui o primeiro a tocar seu disco no rádio. Naquele dia eu disse: Menina, você vai ser a maior cantora do Brasil. Está gravado”, disse Silva.

Filiada ao Partido dos Trabalhadores em 1981, Elis Regina foi crítica ácida da ditadura militar brasileira durante a vergonhosa era plúmbea, período em que músicos e intelectuais foram perseguidos e exilados. A crítica tornava-se pública em meio às declarações ou nas canções que Elis Regina interpretava. Em 1969, no auge da ditadura militar, Elis teria afirmado, durante entrevista, que o Brasil era governado por gorilas, mas há controvérsias sobre tal declaração. Arquivos militares mostram a cantora dizendo que tal frase foi criada pela imprensa sensacionalista. A popularidade que conquistou nos palcos foi o salvo-conduto que lhe manteve fora da prisão.

Engajada politicamente, Elis participou de uma série de movimentos pela renovação política e cultural do País, sendo uma das mais ativas vozes da campanha pela anistia aos exilados brasileiros. Seu engajamento ficou marcado em interpretações consagradas de “O Bêbado e a Equilibrista”, música de João Bosco e Aldir Blanc, eleita como o hino do movimento. A canção emoldurou a volta ao Brasil de personalidades que passaram anos no exílio, como “o irmão do Henfil”, o Betinho, importante sociólogo brasileiro.

Uma das mais completas cantoras da música popular brasileira de todos os tempos, Elis Regina, aos 36 anos, deixou órfã uma geração de brasileiros que ao seu lado combateu a ditadura militar. No auge da truculência que infestava os porões da ditadura, e temendo a popularidade da cantora, os militares obrigaram Elis a cantar o Hino Nacional durante evento num estádio de futebol, que causou revolta em setores da esquerda verde-loura.

Elis Regina, a Pimentinha, jamais foi superada por qualquer outra cantora brasileira nesses trinta anos de ausência. Ainda chora a nossa pátria mãe gentil!

Confira alguns dos sucessos de Elis Regina


É Com Esse Que Eu Vou


Como Nossos Pais


Encontro de gênios: Tom Jobim e Elis em “Águas de Março”