Crítica palaciana à nefasta FIFA pode acabar mal e repete o impasse dos supersônicos da FAB

Chumbo trocado – A queda de braços entre o governo federal e a FIFA tem tudo para terminar em um entrevero de grandes proporções. Quando a entidade máxima do futebol anunciou, em outubro de 2007, que o Brasil sediaria a Copa de 2014, o ucho.info afirmou que o País não tinha – e ainda não tem – condições de abrigar um evento de tamanha magnitude. À época, Lula disse que torcíamos contra o Brasil, mas nosso papel é alertar o leitor sobre as mazelas do Estado e as inverdades balbuciadas por seus governantes. Com um cipoal de prioridades aguardando investimentos oficiais, aplicar o suado dinheiro do contribuinte na construção de estádios e seus respectivos entornos, por exemplo, é um acinte se considerarmos que brasileiros morrem nas filas dos hospitais públicos por falta de atendimento.

Na última sexta-feira (2), o secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke, reclamou do atraso nas obras para a Copa e disse que o Brasil precisa de um “pé no traseiro” para acelerar o ritmo. É preciso reconhecer que Valcke foi deselegante, mas também é importante admitir que ele não está errado ao fazer tal reclamação. Quem bem conhece o funcionamento de obras públicas sabe que atrasos são propositais, pois a chancela da urgência máxima garante contratos sem a necessidade de concorrência. Foi assim nos Jogos Pan-Americanos, será assim na Copa e nos Jogos Olímpicos, pois política no Brasil precisa de dinheiro sujo. E as paralisações de trabalhadores nas obras das arenas esportivas que receberão jogos da Copa não são mera coincidência. São, sim, operações orquestradas, pois aditivos contratuais aguardam as assinaturas de algumas autoridades. Situação conhecida e que via de regra serve para inchar orçamentos.

Quando apresentou a candidatura do Brasil à FIFA, o então presidente Luiz Inácio da Silva tinha conhecimento das regras da disputa. A Copa do Mundo é um evento da FIFA, não do país-sede. E como tal tem seus ditames, muitos deles inegociáveis. É o caso da venda de bebidas alcoólicas nos estádios, algo que fere a legislação brasileira. Não há como reclamar, pois o Palácio do Planalto endossou a lista de exigências da FIFA. O ucho.info é radicalmente contra a venda de bebidas nos estádios, pois é o estopim da insegurança e da violência, mas mantém a coerência ao reconhecer o que foi acertado entre a FIFA e o governo brasileiro.

Ministro dos Esportes, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) disse no último sábado (3), durante sabatina no jornal “Folha de S. Paulo”, que o governo da presidente Dilma Rousseff não mais aceitará Jérôme Valcke como interlocutor da FIFA para assuntos da Copa do Mundo. Ao ministro não cabe a prerrogativa de ingerir nos assuntos internos da entidade máxima do futebol, onde, diga-se de passagem, não há inocentes. Na verdade, no futebol sobram alarifes de plantão.

A reação de Aldo Rebelo mostra que as relações do Palácio do Planalto com a FIFA pioraram desde a chegada de Dilma Rousseff ao poder central. Situação idêntica ocorreu no caso da renovação da frota de supersônicos da Força Aérea Brasileira, que teve a francesa Dassault, fabricante do Rafale, anunciada por Lula como vencedora da concorrência. Como os bastidores da negociação com a empresa francesa desagradou muita gente no Planalto, a ordem presidencial foi de suspender o processo temporariamente e chamar os interessados no bilionário negócio para uma nova rodada de conversas ao pé do ouvido. E mais uma vez a Dassault voltou a liderar as apostas. Mágica que só as coxias podem explicar.

O vitupério oficial protagonizado por Aldo Rebelo pode acabar com o sonho brasileiro de realizar uma nova Copa do Mundo no País. A hipótese é remota, mas milagres às avessas também acontecem. A FIFA, que através do seu representante acertou de forma nada diplomática ao criticar a lentidão das obras no Brasil, pode levar a Copa para a Inglaterra, que não tem problemas de infraestrutura, especialmente porque estão prontas as obras visando os Jogos Olímpicos deste ano. Os ingleses ficariam felizes com essa eventual decisão, até porque a Europa não vive um bom momento econômico, enquanto os brasileiros agradeceriam por livrarem de mais um escândalo em que o escoadouro de dinheiro público será protagonista.