Venezuela pode recorrer a especialistas russos para a necropsia de Chávez

Novela sem fim – Engana-se quem pensa que a epopeia envolvendo o cadáver do finado caudilho Hugo Chávez chegou ao fim com a eleição, no último domingo (14), do chofeur bolivariano Nicolás Maduro. Tendo nas mãos a responsabilidade de governar um país arruinado economicamente e dividido em termos políticos, Maduro permanecerá agarrado ao fantasma de Chávez até quando for necessário. Assim, o novo presidente, eleito à sombra da fraude, conseguirá manter abduzida a parcela incauta da população e neutralizar, durante algum tempo, a peçonha dos aliados e dos herdeiros de Hugo Chávez, que continuam mandando no governo.

Para manter acesa a chama do chavismo, Nicolás Maduro poderá repetir o antecessor, que ordenou a exumação dos restos mortais de Simon Bolívar para saber se o mesmo não morreu envenenado. Há algumas semanas, o próprio Maduro disse que abriria uma investigação para descobrir as causas da morte de Chávez, que poderia ter sido envenenado por adversários políticos estrangeiros. Essa declaração foi uma provocação de campanha para fazer referência aos Estados Unidos.

A participação de especialistas russos no processo de análise do cadáver de Hugo Chávez foi aventada nesta quarta-feira (17) pelo diretor da Agência Federal Médica e Biológica da Rússia, Vladimir Uiba.

O governo venezuelano ainda não enviou qualquer pedido oficial para que profissionais da agência verificassem a possível existência de substâncias tóxicas no corpo do ex-presidente, mas Uiba destacou que a capacidade dos especialistas russos e alta precisão dos equipamentos instalados nos laboratórios do país permitem afirmar que seus pesquisadores estão “preparados para fazer o trabalho”.

“Se alguém neste planeta realmente tem a capacidade de fazer isso, somos nós”, disse o diretor da agência russa.

Hugo Chávez morreu nas primeiras horas de 2013, em decorrência das complicações de uma arriscada cirurgia para conter a metástase de um sarcoma localizado na região pélvica e que se espalhou para o intestino, a medula óssea e o sistema nervoso, além de uma forte hemorragia ocorrida durante a intervenção e que provocou processo de septicemia. Sua morte só foi confirmada oficialmente no último dia 6 de março, após as costuras políticas nos bastidores que garantiram a continuidade do chavismo e a eleição de Maduro, que por muito pouco não tropeça nas urnas.

O diretor da Agência Federal Médica e Biológica da Rússia jamais faria uma declaração dessa natureza se o governo venezuelano não tivesse dado sinais, nos bastidores, de que o pedido para a investigação cadavérica está a caminho.