Tudo de ponta-cabeça

(*) Lígia Fleury –

Para tudo. Vamos imaginar a possibilidade de algumas pessoas, aqui denominadas “pseudo pessoas”, pudessem voltar ao ventre materno.

Começando do começo, teriam sido geradas em um momento de amor e prazer e amadas por seus pais desde então. Durante a gestação, receberiam as energias de uma alimentação saudável, o carinho e a doçura de seus pais, amigos e familiares todas as vezes em que um deles afagasse a barriga linda de sua mamãe. Poderiam sentir a felicidade ao participar das inúmeras conversas sobre a escolha de seu nome, os sonhos sonhados para eles, os desejos de mostrarem logo suas carinhas, as divagações sobre as melhores expectativas de um mundo melhor para suas caminhadas.

Dores e emoções se confundindo entre as lágrimas que teimam em rolar no rosto de suas mães no momento único do primeiro sopro de ar, do primeiro susto ao se deparar com a luz, com outros seres gesticulando, rindo, chorando, falando. O cheiro da mãe, o batimento cardíaco da mãe, a voz do papai e da mamãe. O lindo momento do sugar até encontrar o leite, reconhecido naquele colo que lhe carregou por longos nove meses.

Os primeiros passos, primeiros tombos, primeiras palavras. O primeiro melhor amigo, o primeiro uniforme, o primeiro professor. E os sonhos sonhados para ele se realizando, enquanto ainda se pode sonhar por ele.

Está em uma das melhores escolas, tem os melhores atendimentos de saúde, é cercado de cuidados e de afeto, o que lhe possibilita um ótimo desenvolvimento bio-psico-social-cognitivo – sem certezas disso, mas com grandes chances.

Nesse meio, valores como respeito, solidariedade, cumplicidade, amizade, conviver na e com a diversidade, não são apenas passados, mas são, principalmente, vivenciados. Fez ótimas amizades, escolheu a profissão. Errou, acertou, errou, acertou de novo. Reconstruiu saberes. Cresceu. E entendeu que o mundo não será jamais como gostaria que fosse, pois nem todos os seres humanos são pessoas. Alguns são “pseudo pessoas” e dificultam um mundo melhor.

Se houvesse a possibilidade desses pseudos começarem de novo, do ventre materno, talvez não tivéssemos o desgosto de assisti-los destruindo patrimônios públicos, estabelecimentos privados, agressões e provocações, atos terroristas, vandalismo.

Alguém pode me explicar como outro alguém, que se classifica como gente, tem a coragem de invadir um hospital justificando que estão ali para protestar contra os grandes bandidos de nossa história que lá são atendidos?

Que culpa têm os médicos, enfermeiros, porteiros e demais funcionários? Que culpa têm os doentes e seus acompanhantes? Nem em momento de doença o ser humano é respeitado?

Que culpa tem o dono de loja que foi saqueada? E o do carro que foi tombado?

É inegável que o Brasil está em crise, em uma guerra civil. Mas é inegável, também, que esses pseudo humanos tenham que ser punidos. Isso não é protesto; é crime contra a humanidade e deve ser punido de maneira inquestionável.

O que faltou para esses pseudos serem (seres) humanos? Com certeza faltou educação, a que vem do berço junto com amor e orientação. Falta exemplo, falta diálogo. Falta quem ensine, quem eduque.

Voltem para suas barrigas de origem e, pais, recomecem do começo. Por um mundo melhor, por respeito!

(*) Lígia Fleury é psicopedagoga, palestrante, assessora pedagógica educacional, colunista em jornais de Santa Catarina e autora do blog educacaolharcomligiafleury.blogspot.com.