De: Ucho Haddad – Para: Dilma Rousseff – Assunto: hipérboles, inoperância e esquizofrenia

    (*) Ucho Haddad –

    Dilma, como sempre faço logo no início dos nossos colóquios redacionais, lembro que a formalidade será deixada de lado para garantir a fluidez do texto. Dilma, apesar de ser uma redundância, começo pelo começo, pelas hipérboles. Cada vez que ouço você falando ou leio suas declarações quase morro de rir. São tantas sandices, Dilma, que desse jeito você acabará antecipando o fim de Saramandaia, pois a Dona Redonda ainda há de explodir de tanto rir, não de comer como prevê o enredo.

    Você, Dilma, é de tal forma incompetente, que não há como deixar de rir até morrer, ou quase isso. Cheguei a pensar que quase tudo o que você diz é de chorar de tristeza. Em outras palavras, você e seu desgoverno são hiperbólicos, sempre lembrando que o exagero se dá no campo da incapacidade. Na sexta-feira, 6 de setembro, antes do feriado da Independência, você, em discurso típico de campanha, afirmou que o Brasil cresceu mais do que os Estados Unidos e a Alemanha. Sabe, Dilma, a cada dia me convenço mais e mais que seu governo é esquizofrênico, pois é infinita a lista daqueles que vocês, arrogantes palacianos, inventam para guerrear. Pelo menos você poderia mudar o cardápio, pois se não são os tucanos, são os gringos.

    Dilma, um dia antes do feriado da Independência você mostrou ao Brasil e ao mundo que é dependente. Na verdade, dependente é a sua incompetência, que vive arrumando uma fumaça para se esconder. Então, Dilma, quer dizer que o Brasil é o país de Alice. Você já leu os jornais ou acompanhou algum comentário sobre a economia brasileira? O País está à deriva em termos econômicos, mas soberba que é você não consegue reconhecer o próprio fracasso. Dilma, esse tipo de transtorno o divã de um psicanalista resolve com certa facilidade, imagino eu. Do contrário, algum medicamento “tarja preta” deve proporcionar efeito semelhante e mais rápido. Apenas para lembrar, Dilma, eu e mais alguns milhões de brasileiros não moramos nos Estados Unidos e nem na Alemanha, mas vontade não nos falta.

    Esse comportamento esquizofrênico do seu governo chega a irritar. Quando algo sai errado e não há como explicar o equívoco à população, você – ou qualquer dos estafetas – sai correndo para comparar com algum fato da era FHC. Apesar de seguir a trilha do legado tucano, Lula, o seu patrão, sempre falou em herança maldita. Muito natural, pois qualquer pessoa minimamente esperta percebeu que a bolha de virtuosismo lançada pelo nosso Messias tupiniquim um dia haveria de estourar. Sem contar os inúmeros casos de corrupção que passaram para a história nacional com o estelar carimbo do PT. Até nisso, na corrupção, vocês petistas conseguem ser superlativos.

    Contudo, quando algo maior e errado acontece na economia, a culpa é dos norte-americanos ou dos europeus. Beira a sandice imaginar a dependência que vocês comunistas têm do capitalismo. Aliás, Dilma, para você ser considerada uma capitalista só falta sair do armário vermelho da sala e assumir. A propósito, se o Brasil é muito melhor do que a Europa e os Estados Unidos, por qual razão você sempre leva sua filha nas viagens oficiais? Já ouvi falar em primeira-dama – até “primeiro-damo” já conheci –, mas primeira-filha é no mínimo um exagero do pensamento. Quiçá seja uma hipérbole do poder, do abuso de poder. Ou será que você leva sua filha para mostrar-lhe o quão excepcional é o Brasil do PT?

    Dilma, não bastasse dizer que sob a sua batuta o Brasil é a filial do paraíso, você adora posar de inocente, de maior abandonada. Tudo no melhor estilo Mônica, aquela gorducha e dentuça chata e mal humorada da história em quadrinhos. A draga em que se encontra o País foi muito bem traduzida no seu semblante durante o desfile da Independência. Quanto mau humor, Dilma? Sei que é a grande e constante a tensão que se enfrenta quando a população está descontente, podendo a qualquer momento repetir a vaia que você enfrentou no Mané Garrincha, mas é preciso doses mínimas de encenação para estar presidente. Ou você acreditou que seria uma enorme moleza administrar o Brasil distribuindo esmolas sociais e dando de ombros para a economia?

    E por falar em moleza, Dilma, você de fato é a “gerentona inoperante”. Quando afirmou que você era a garantia de continuidade, Lula não poderia ter sido mais profético. Pelo menos uma previsão ele acertou em cheio, pois manter o caos não é tarefa fácil. Para isso é preciso muita incompetência. E isso você tem de sobra. A propósito, quer dizer que espionar é uma aberração. Mas isso só vale quando o espião é o Tio Sam, não é mesmo Dilma? Veja só, durante a sua campanha rumo ao Palácio do Planalto a companheirada bisbilhotou a vida dos adversários como quis, mas você ousou dizer que esse tipo de comportamento não cabe no PT.

    Dilma, muito antes da sua campanha ao Planalto, ainda na época do escândalo do Mensalão do PT, meus telefones foram grampeados de maneira escandalosa e um dos seus diletos companheiros de legenda usou a gravação para me ameaçar de morte. Sempre lembrando que na tal gravação nada havia de errado. Apenas havia dito que alguém falando em nome do seu partido ofereceu-me uma boa quantia em dinheiro para produzir um dossiê contra adversários. Como faço jornalismo, apesar de você não gostar, e não comando uma indústria de dossiês, fui ameaçado. Mas provavelmente você dirá que as situações são diferentes. Ou algum dos integrantes da tropa de choque do seu PT dirá que enlouqueci.

    Sabe, Dilma, quando afirmo que vocês governam o Brasil com a sabedoria e a competência de um dono de boteco mequetrefe, de porta de fábrica, a esquerda tupiniquim entra em polvorosa. Dizem os mais afoitos que sou preconceituoso. É verdade que não faço dos botecos a minha Meca particular, como alguns dos seus convivas estão acostumados a fazer, nem me entrego aos goles extras, mas ao menos reconheça que você e sua turma são a fulanização do fracasso.

    Para quem pegou em armas para combater a ditadura, meia palavra é discurso e pingo é letra. Sendo assim, lembro que não importa o que o futuro reserva ao País, mas resistirei até o fim. Defenderei a minha terra como se defendesse a mim mesmo. Quando alguns dos substratos humanos que integram a tropa de choque do seu partido começam a me ameaçar, é porque o meu trabalho está surtindo o efeito desejado. Você só precisa pedir aos seus capachos para contratar gente que sabe escrever, pois quem se presta a fazer serviço sujo normalmente é ignaro ou cafetina a própria consciência. O que vocês petistas têm feito com o Brasil e os brasileiros é um misto de covardia com lesa pátria. A companheirada, você inclusa, veste a batina da inocência apenas para esconder a derme luciferiana de quem se dedica diuturnamente ao mal.

    Dilma, você pode até não saber ou fingir que não sabe, mas a sua eficiente e sempre amedrontada assessoria sabe que sou adepto do bom combate. Por isso, escolha alguém preparado para me enfrentar, já que você se nega a discutir o Brasil no cara a cara. Até porque, Dilma, você já deve ter ouvido alguém próximo dizer que a parada será dura e que irei desmascará-la nos primeiros cinco minutos de fala, porque não há como justificar o injustificável. Caso mude de ideia, reúna alguns dos seus para o desafio que há muito lhe proponho. Junte o Lula – pode até levar a Rose e o Eduardão –, o ainda ministro Mantega e outros tantos assessores que quiser, pois o passeio será grande. Mas lembre-se que mesmo não usando o punho de renda da oposição manterei a elegância de sempre, se é que algum dia você soube o que é isso.

    E PT saudações, porque já escrevi demais para quem comanda um governo inoperante e esquizofrênico que o máximo que consegue é proporcionar um cotidiano repleto de hipérboles. Passe bem, pois se não morro de medo de você e a qualquer momento posso ficar louco de raiva.

    (*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e cometarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.