Os beijos mais íntimos

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_09Mensaleiros? Mensalão mineiro? Trens e metrôs tucanos superfaturados? Deixa pra lá: nada preocupa mais Governo e Oposição do que a prisão de Jeany Mary Corner, conhecida senhora que cuida da carreira de inúmeras moças que se dedicam ao bem-estar do pessoal de Brasília. A agenda de Jeany é explosiva: nela há endereços, telefones, contas-correntes, eventuais dívidas de pessoas não apenas bem-postas na vida, mas casadas – e já se viu o estrago que uma esposa ou amante insatisfeita pode causar na vida de um político. Ex-mulher é para sempre! Há quem diga que Jeany Mary tem, entre suas recordações, a foto de um parlamentar inteiramente nu, posando feliz da vida com um fumegante charuto.
Jeany Mary Corner foi presa pela Polícia Civil de Brasília, em operação comandada por uma delegada, sob acusação de rufianismo – exploração da prostituição. Pelo que dizem, as moças agenciadas por ela são de primeira categoria, muitas vezes contratadas em outras cidades para serviços especiais.

Este colunista não entende como Jeany Mary Corner foi abandonada por seus protetores – que se espalham por todo o espectro político e de poder do país. Sua prisão é perigosa para todos: Jeany Mary, calada, prestava excelentes serviços a pais da pátria das mais variadas tendências; se falar, torna-se perigosíssima. É por isso, aliás, que este colunista não acredita que ela fique presa por muito tempo.

Afinal de contas, rufianismo pode ser considerado crime de menor poder ofensivo, não é mesmo? E todos dormiriam melhor se a deixassem em paz.

Dúvida pertinente

Que haverá por trás da prisão de figura tão importante?

Todos juntos, vamos

O deputado estadual mineiro Gustavo Perrela, dono do helicóptero apreendido com meia tonelada de cocaína, pertence ao partido Solidariedade. O líder do Solidariedade na Câmara é o deputado Fernando Francischini, delegado da Polícia Federal, que se apresenta em seu perfil no twitter como coordenador “das prisões dos megatraficantes Abadia e Beira Mar”.

A coincidência pode ajudar a investigação: juntos num só partido, o dono do “helipóptero” e o delegado especializado em investigar o narcotráfico, que oportunidade para uma boa conversa preliminar! Francischini, implacável, certamente investigará o correligionário.

A festa da uva

A piada começa com uma pergunta: quanto é 2 + 2? Depende: para um matemático, quatro. Para um economista, quatro, talvez com certo desvio. Para o ministro Guido Mantega, não importa o resultado, desde que possa ser maquiado.

A festa do caqui

Dilma mandou baixar a conta de luz. OK – mas faltou dinheiro para cobrir as despesas. O dinheiro necessário foi então repassado pelo Tesouro à Conta de Desenvolvimento Energético. Mas a despesa aparece nas contas públicas e dificulta cumprir a meta do superávit primário – usado para pagar os juros da dívida do Governo.

Qual a solução? A Caixa Econômica Federal empresta, a juros baixérrimos, a subsidiárias da Eletrobrás, que ficarão menos dependentes do Tesouro. Depois o Tesouro põe dinheiro na Caixa. Sai do bolso esquerdo, entra no direito.

A festa da mexerica

As contas externas vão mal. Então, a Petrobras exportou seis plataformas de petróleo para filiais no Exterior, por US$ 6,6 bilhões, e alugou-as de volta. As plataformas não se mexeram: estão no mesmo lugar. Mas a receita da venda entra como exportação, e o aluguel não conta como importação.

A isso, chama-se “contabilidade criativa”. O dinheiro sai do bolso direito e entra no esquerdo.

A festa do morango

A propósito, esses bolsos de onde sai o dinheiro pertencem a você, caro leitor.

A festa do figo

Mas o caro leitor não deve imaginar que coisas esquisitas aconteçam apenas no Executivo. No Legislativo, menos da metade dos cargos são preenchidos por concurso; 55% são comissionados, por livre nomeação dos parlamentares (cada Excelência pode nomear 25 pessoas em seu Gabinete, fora outras possibilidades). Há mais comissionados no Congresso do que em todo o Governo Dilma.

A festa do caju

A festança não precisa envolver gastos excepcionais para dar prejuízos imensos. A primeira ação sobre o Mensalão tucano, ou Mensalão mineiro – que, praticamente com os mesmos personagens, serviu de base para o Mensalão propriamente dito – acaba de completar dez anos de imobilidade no Supremo Tribunal Federal. A ação foi distribuída em 1º de dezembro de 2003 para o relator Carlos Ayres Britto. Ele já se aposentou e a ação continua descansando.

O esquema era o mesmo do Mensalão: empresas estatais fizeram pagamentos à agência SMPB, de Marcos Valério, e o dinheiro foi privatizado, conforme a acusação, pelo governador tucano Eduardo Azeredo (que depois seria presidente nacional do PSDB). Esta é uma ação cível; há outras ações, penais, também paradas (o ministro Luís Roberto Barroso, novo relator de todas elas, promete retomá-las no início do ano que vem). Os beneficiados mudaram, o partido também (era PSDB, hoje é PT); os operadores são os mesmos condenados no processo do Mensalão.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.